quinta-feira, 12 de agosto de 2010

DONA DILMA, TIA MARINA E SERRA NOMURO NO "JORNAL NACIONAL"

O principal telejornal do país fez nessa semana uma rodada de entrevistas - de longos 12 minutos - com os três principais candidatos à presidência da República - e é pela importância de estar num dos programas de maior audiência da TV brasileira, que eles topam.

Na segunda, e seguindo um sorteio prévio, foi a vez da Dona Dilma; na terça, a entrevistada foi a Tia Marina Silva Clorofila Malafaia; e ontem, a série se encerrou com a entrevista de Serra Nomuro.

Confira como foram as entrevistas, com matérias e opinião:

DONA DILMA NO "JN"

Fotos: Divulgação/TV Globo
Dona Dilma, na bancada do "JN"

Dona Dilma abriu o ciclo de entrevistas ao vivo no "Jornal Nacional", na última segunda feira, defendendo o arco de alianças que a apoia, dizendo que governar o país pressupõe a necessidade de se fazer uma "aliança ampla".

O âncora e editor-chefe William Bonner listou aliados da sua candidatura que, no passado, eram criticados pelo PT: Renan Calheiros (PMDB-AL), Jader Barbalho (PMDB-PA), José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL).
"Quando foi que o PT errou? Antes ou agora?", questionou.

Dona Dilma não respondeu diretamente, mas disse que o PT não tinha "tanta experiência" de governo.
"O PT acertou quando percebeu a sua capacidade de construir uma aliança ampla", afirmou.

No bloco em que a entrevista foi ao ar, a audiência estava em 33 pontos na Grande São Paulo, o que equivale a 5,9 milhões de expectadores na Grande São Paulo, em números preliminares.

A candidata do PT também foi questionada sobre a fama de ter "temperamento difícil", ou da suposta falta de "jogo de cintura" para negociar.
Bonner citou que, em solenidade oficial, Lula disse que recebera de ministros queixas de que foram maltratados por Dona Dilma.
"Ele não disse maltrados", respondeu a candidata. "O vídeo está disponível", retrucou o âncora.

Ela usou a metáfora de "mãe" para justificar eventuais embates no governo.
"Sabe dona de casa? No papel de cuidar do governo, é meio como se a gente fosse mãe. Há a hora de cobrar e o momento de incentivar."

Dona Dilma citou Luiz Inácio sete vezes durante a entrevista - numa mudança de estratégia em relação ao debate da Band, quando evitou mencioná-lo - e se apresentou como "o braço direito e o esquerdo" do presidente no governo, dizendo duas vezes que ocupava o "segundo cargo mais importante" do governo, ao se referir à Casa Civil.

As perguntas foram longas: Bonner e Fátima Bernardes falaram por 3min50s dos 12mi35s da conversa.

Levemente nervosa, Dilma se confundiu ao dizer "Baixada Santista do Rio", em vez de Baixada Fluminense.
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DONA DILMA DERRETEU

Submetida a 12 minutos de contraditório, Dona Dilma e seu dircurso ensaiadinho derreteram sobre a bancada do "Jornal Nacional".

A candidata foi perguntada sobre algumas das principais incongruências e debilidades que cercam sua candidatura e sua pessoa; ao responder, tirou da reta.

Beneficiária da popularidade de seu cabo eleitoral, foi questionada sobre o outro lado da moeda: se eleita, não terá em Luiz um "tutor"?
Poderia ter respondido com um "não", puro e simples, mas preferiu desconversar:
"As pessoas têm de escolher o que eu sou", rodeou, para depois se queixar:
"Ora dizem que 'sou uma mulher forte' ora que 'tenho tutor'".
Só que, em vez de se definir, a candidata só aumentou a dúvida, dizendo inclusive ter "imenso orgulho" da relação com Luiz Inácio, "um grande líder".

Bonner foi duro ao dar os nomes que se escondem sob as siglas reunidas no arco de alianças que a apoia, uma verdadeira "família Metralha" - Jader Barbalho, Renan Calheiros, a família do coroné Sarney, Collor - para disparar a pergunta:
"Quando o PT errou, ontem ou hoje?

Impossibilitada de se dissociar dos nomes que, no passado, o petismo tachava de "oligarcas" e "ladrões", Dona Dilma deu ao fisiologismo um novo nome : "amadurecimento", para arrematar que "O PT não tinha experiência de governo, agora tem".
Ou seja: nessa versão, o apoio seria desinteressado, já que, conforme ela mesmo disse, governo tem uma "diretriz", e quem apoia sujeita-se.
A mentira não resiste a uma simples olhadela no organograma do Estado, onde os "apoiadores graciosos" são muitos.

Dona Dilma foi perguntada em como conciliará o pavio curto - reconhecido até pelo Luiz Inácio - com o traquejo político que se exige de um presidente.
Disse que é uma "pessoa firme", mas ressalvou que "Nós, do governo Lula, somos do diálogo".

A entrevista colocou a nú, mais uma vez, que o treinamento da marquetagem de Dona Dilma vale só até a página dois.

Mais que isso, fica difícil.

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TIA MARINA NO "JN"

A candidata do PV, na bancada do JN

Na bancada do "JN" na última terça feira, Tia Marina Silva Clorofila Malafaia (PV) negou conivência com o mensalão, e disse que ficou no PT após a crise por achar que poderia contribuir dentro do governo.
"Eu sempre dizia que aquilo [o mensalão] era condenável e que deveriam ser punidos todos os que praticaram irregularidades. Eu não tinha ninguém para me dar audiência e potencializar minha voz."

Só que, em janeiro de 2006, a "Folha de S.Paulo" fez duas perguntas à Tia sobre se ela sairia do PT.
A então ministra disse que os "erros do PT têm que ser julgados pela sociedade e pela Justiça" e que os militantes do PT não poderiam "pagar pelo erro de alguns".

O tema do mensalão não foi abordado com Dona Dilma, mas apareceu em mais de um terço da entrevista com Tia Marina - o âncora e editor chefe William Bonner chegou a pedir 30 segundos de acréscimo para insistir na questão.

Mas quem consegue calar a candidata?
Nem Bonner, nem Fátima Bernardes, conseguiram interromper a senadora, que, aparentando estar mais calma que a candidata do PT, ela dominou a entrevista ao não parar de falar durante suas respostas - o casal de entrevistadores falou por 3min15s, e na entrevista com Dona Dilma, falaram por 3min50s.

Já na primeira pergunta, em que foi questionada sobre ambiente, mudou da temática ambiental para as outras áreas que pretendia citar, como educação e saúde.

Questionada sobre a falta de apoio de outros partidos, ela disse que isso é positivo, pois seria mais fácil formar base para governar.
Segundo ela, Fernando Henrique e Lula ficaram "reféns do fisiologismo" do PFL (atual DEM) e do PMDB, respectivamente.

Tia Marina insistiu em um tema que tem sido bastante citado: a alegada capacidade de servir de ponte "entre quem não conversa". "É preciso acabar com a oposição pela oposição e a situação pela situação", disse.

Temas ligados a costumes, os mais espinhosos para a candidata evangélica, ficaram de fora da entrevista, que teve audiência de 5,2 milhões de espectadores na Grande São Paulo.
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INGÊNUA, TIA MARINA SE VENDE COMO UM BOMBRIL

Tia Marina considera-se uma presidenciável "sui generis", e vende-se como uma candidata "bom-bril", a de 1001 utilidades.

Espremida pela polarização PT x PSDB, a candidata do PV demarcou o espaço em que pretende fazer passar suas pretensões.

Disse que, após FHC - o sociólogo que debelou a inflação - e de Lula - o operário que melhorou o social - o país está pronto para recepcioná-la na Presidência.

Como fará para governar se não obteve apoios nem para a campanha?
"Para mim é até mais fácil", disse ela, com ingenuidade tão grande quanto a amazônia.

Considera-se mais livre que Serra Nomuro - amarrado ao fisiologismo do DEM - e de Dona Dilma - acorrentada às perversões do PMDB.

Repetiu o seu conhecido número, de que governará "com os melhores" do PSDB e do PT, mas não explicou como levará à convergência grupos 100% feitos de desavença.
Como não foi perguntado, Tia Marina absteve-se falar sobre o PV, que coleciona alianças tóxicas em cidades e Estados.

Só que o Bonner preparou uma flechada constrangedora para a biografia da candidata, e disparou:
"Por que não deixou o PT na época do mensalão?"

Desconcertada, Tia Marina disse que não foi conivente, nem silenciou.
Condenou os malfeitos, mas "não tinha ninguém para me dar audiência e potencializar minha voz".
Bonner insistiu:
"Por que não se demitiu nessa ocasião do Ministério do Meio Ambiente?"

Ela tentou desviar-se do tema, discorrendo sobre a falsa dicotomia entre desenvolvimento e preservação ambiental.
Chamada de volta ao mensalão, disparou:
"Eu permaneci e fiquei indignada."

Tia Marina, assim, entraga como sempre muito pouco para quem se apresenta como exemplo de pureza moral.

Para encerrar, usou novamente a sua face "Lula de saias": a mesma infância pobre, mas com a vantagem de ter completado os estudos.

Só que a política precisa, principalmente, de um tipo de ensinamento que não se aprende na escola.

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SERRA NOMURO NO "JN"

Bonner, Fátima e o candidato tucano

Surpreendido por uma pergunta sobre alianças com envolvidos no escândalo do mensalão, o candidato do PSDB à Presidência, afirmou que deputados que buscam cargos no governo têm o objetivo de promover a corrupção.
"Para mim não tem grupinho de deputado indicando diretor financeiro de uma empresa, ou diretor de compras de outra. Pra quê um deputado quer isso? Evidente que não é para ajudar em melhor desempenho. É para corrupção".

Como nas entrevistas com Dona Dilma e Tia Marina , Serra teve de responder perguntas sobre temas incômodos, como a aliança com Roberto Jefferson - presidente do PTB e cassado por causa do mensalão - e os preços dos pedágios em São Paulo.

No início da entrevista, o tucano teve que explicar por que não ataca o governo Luiz Inácio, se classificou como candidato do "futuro", e, evitando críticas ao presidente, repetiu que o petista não está disputando as eleições.

Temas mais espinhosos, como o mensalão do DEM, principal aliado de sua coligação, não foram abordados, o que levou o mesmo Jefferson a escrever no Twitter:
"William Bonner e Fátima Bernardes facilitaram para o meu candidato. Foram mais amenos com ele".

Sobre a aliança com Jefferson, Serra disse que os "principais personagens" envolvidos no mensalão não são do PTB - mentira, três dos réus do mensalão são do partido - e que o aliado não é candidato.

Em duas vezes, disse que um presidente não pode governar "na garupa" ou ser "monitorado", numa alusão à dependência de Dona Dilma em relação a Luiz Inácio.
"O próximo presidente vai governar e não pode ir na garupa. Tem que ter ideias também, não só coisas que fez no passado, mas também ideias a respeito do futuro".

Ao ser questionado sobre o tumultuado processo que levou à escolha de Indio da Costa (DEM-RJ) como seu vice, Nomuro negou a fama de centralizador.
"O que havia sido pensado inicialmente, por circunstâncias políticas acabou não acontecendo", e disse que o nome de Indio da Costa já estava sendo cogitado dentro do partido, mas que isso não chegou à "opinião pública", para não causar "fofoca" - na verdade, o nome do deputado fluminense surgiu na data limite da convenção do DEM, que definiria o apoio do partido ao candidato tucano.

Governador de São Paulo até março, Serra Nomuro também teve que falar sobre os elevados preços dos pedágios nas estradas paulistas, e se esse modelo seria expandido para o Brasil.
Na resposta, não foi objetivo, tirou da reta e acabou elogiando a qualidade das rodovias paulistas e criticando as federais.

No fim, se mostrou surpreendido pelo curto tempo da entrevista e não conseguiu se despedir do público como queria: foi interrompido por Bonner por ter ultrapassado o tempo.
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SERRA NOMURO, O CANDIDADO ZEN...NOÇÃO!

A estratégia de campanha de Serra Nomuro é lastreada na ilusão, e a entrevista ao "Jornal Nacional" só escancarou mais isso: "O Lula não é candidato a presidente", disse.
"Meu foco não é o Lula", repetiu mais adiante. Ou seja: revelou-se capaz de tudo, menos de dirigir uma crítica a Luiz Inácio.

Escancarou mais: há uma semana do início da propaganda eleitoral televisiva, o candidato tucano à presidência ainda não tem um discurso de oposição para chamar de seu.

Sabe que Luiz Inácio, mesmo não sendo candidato, comanda a sucessão - e que, sem ele, a candidatura da Dona Dilma não existiria - mas parece não saber construir um discurso coerente na defesa do seu slogan "O Brasil pode Mais".

Dos três presidenciáveis, Nomuro foi o menos torpedeado pelo Bonner e pela Fátima, isso ficou evidente.

Mesmo assim, teve de falar sobre o apoio de Roberto Jefferson - presidente do PTB, cassado por causa do mensalão e que dizia que o Zé Dirceu despertava nele, Jefferson, "emoções primitivas" - dizendo que o petebista foi "denunciante" do mensalão, o que não é verdade, pois Jefferson denunciou depois que a mídia escancarou o esquema que o PTB montou nos Correios.

Como Zé Dirceu (PT), Jefferson, além de cassado, foi parar no banco dos réus em que o STF acomodou a "quadrilha" - expressão usada pelo Procurador Geral da República para nomear os mensaleiros.
Nomuro disse que não lhe cabe julgar, e que Jefferson conhece o seu estilo de governar e que, se está com ele, é porque se sujeita.

Talvez dissesse o mesmo sobre Orestes Quércia (PMDB), um dos motivos que fizeram peemedebistas históricos como Serra Nomuro, Franco Montoro, FHC e muitos outros saírem do então PMDB para fundarem o PSDB, nos anos 80.
Pena que não foi perguntado a respeito.

Nessa campanha, Serra Nomuro tem fugido da comparação de FHC com Lula, e ontem no "JN", não foi diferente: "Não estamos fazendo disputa do passado", disse, mais uma vez.

Insinuou que, eleita, Dilma governaria "na garupa".

Só que, para seduzir o eleitor que Luiz Inácio transfere para Dona Dilma, Serra Nomuro teria de inventar um sonho novo, uma nova ilusão para os eleitores.

Artifício que, até agora, ele não tem.





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