Marco Ricca estreia na direção de longas com “Cabeça a Prêmio”, uma adaptação do romance homônimo de Marçal Aquino - que estréia hoje em circuito nacional.
A amizade com o escritor vem de alguns anos, desde que Ricca atuou em dois filmes com roteiros extraídos de suas histórias, como o premiado “O Invasor” (2002) e “Crime Delicado” (2005).
Ricca não poupa elogios a Aquino, ao explicar seu interesse em filmar “Cabeça a Prêmio”:
“Foram os personagens que me atraíram mais, como sempre na obra do Marçal. Ele não os psicologiza em nenhum momento, o que dá liberdade para verticalizá-los”.
Priscila Prade/ Divulgação
O diretor Marco Ricca, durante as filmagens
Outro elogio vem do fato de que, a seu ver, nos livros do escritor “a ação predomina, toma conta, e os personagens vão se alimentando disso”.
Esta qualidade, porém, foi justamente o primeiro desafio da adaptação para o cinema.
“No filme, a gente tentou o contrário. Ao procurar aprofundar os personagens, privilegiamos os conflitos deles e a ação ficou num segundo plano”, destaca.
Num primeiro momento, Ricca foi tentado pela idéia de também atuar em “Cabeça a Prêmio”, justamente no papel de Brito, o matador que protagoniza a história, ambientada em Campo Grande (MS).
Como acumulou muitas funções, de captador de recursos a corroteirista - ao lado de Felipe Braga, da série “Mandrake” - Ricca acabou desistindo de atuar, e o papel ficou com Eduardo Moscovis.
O principal papel feminino - Elaine, filha do traficante Mirão - Fulvio StefaninI - o patrão de Brito - sempre teve dona: Alice Braga, que contracenou com Ricca no romance “A Via Láctea” (2007) e que o ator-diretor se orgulha de dividir com Hollywood - onde ela tem atuado em superproduções como “Eu sou a lenda” e “Predadores”.
“É uma parceirona”, define.
Foi de Alice também a ideia de mudar a profissão de Marlene - Via Negromonte - que no livro é uma ex-prostituta - no filme, Marlene é dona de um pequeno restaurante de estrada.
“Nenhum de nós aguentava mais ver bordel em cinema nacional”, diverte-se o diretor.
Uma outra diferença em relação ao livro é ter tornado um personagem importante, o piloto de avião Denis, que transporta cargas ilícitas para Mirão, num estrangeiro, o ator uruguaio Daniel Hendler - visto na série “Epitáfios” e em filmes como “Whisky” e “O Abraço Partido”.
Ao seu lado, como um pequeno receptador do outro lado da fronteira, está outro uruguaio conhecido do público brasileiro: César Troncoso, protagonista de “O Banheiro do Papa”, de César Charlone.
“Os dois são amigos e eu nem sabia disso quando os chamei para fazer o filme”, conta Ricca.
O diretor explica que a presença dos dois atores foi uma espécie de “flerte com a América Latina”, que ele achou que cabia bem, já que se trata de uma história ambientada na fronteira.
No final, o resultado deste primeiro filme como diretor, que Ricca define como um “primeiro exercício, foi positivo do lado artístico.
A amizade com o escritor vem de alguns anos, desde que Ricca atuou em dois filmes com roteiros extraídos de suas histórias, como o premiado “O Invasor” (2002) e “Crime Delicado” (2005).
Ricca não poupa elogios a Aquino, ao explicar seu interesse em filmar “Cabeça a Prêmio”:
“Foram os personagens que me atraíram mais, como sempre na obra do Marçal. Ele não os psicologiza em nenhum momento, o que dá liberdade para verticalizá-los”.
Priscila Prade/ Divulgação
O diretor Marco Ricca, durante as filmagens
Outro elogio vem do fato de que, a seu ver, nos livros do escritor “a ação predomina, toma conta, e os personagens vão se alimentando disso”.
Esta qualidade, porém, foi justamente o primeiro desafio da adaptação para o cinema.
“No filme, a gente tentou o contrário. Ao procurar aprofundar os personagens, privilegiamos os conflitos deles e a ação ficou num segundo plano”, destaca.
Num primeiro momento, Ricca foi tentado pela idéia de também atuar em “Cabeça a Prêmio”, justamente no papel de Brito, o matador que protagoniza a história, ambientada em Campo Grande (MS).
Como acumulou muitas funções, de captador de recursos a corroteirista - ao lado de Felipe Braga, da série “Mandrake” - Ricca acabou desistindo de atuar, e o papel ficou com Eduardo Moscovis.
O principal papel feminino - Elaine, filha do traficante Mirão - Fulvio StefaninI - o patrão de Brito - sempre teve dona: Alice Braga, que contracenou com Ricca no romance “A Via Láctea” (2007) e que o ator-diretor se orgulha de dividir com Hollywood - onde ela tem atuado em superproduções como “Eu sou a lenda” e “Predadores”.
“É uma parceirona”, define.
Foi de Alice também a ideia de mudar a profissão de Marlene - Via Negromonte - que no livro é uma ex-prostituta - no filme, Marlene é dona de um pequeno restaurante de estrada.
“Nenhum de nós aguentava mais ver bordel em cinema nacional”, diverte-se o diretor.
Uma outra diferença em relação ao livro é ter tornado um personagem importante, o piloto de avião Denis, que transporta cargas ilícitas para Mirão, num estrangeiro, o ator uruguaio Daniel Hendler - visto na série “Epitáfios” e em filmes como “Whisky” e “O Abraço Partido”.
Ao seu lado, como um pequeno receptador do outro lado da fronteira, está outro uruguaio conhecido do público brasileiro: César Troncoso, protagonista de “O Banheiro do Papa”, de César Charlone.
“Os dois são amigos e eu nem sabia disso quando os chamei para fazer o filme”, conta Ricca.
O diretor explica que a presença dos dois atores foi uma espécie de “flerte com a América Latina”, que ele achou que cabia bem, já que se trata de uma história ambientada na fronteira.
No final, o resultado deste primeiro filme como diretor, que Ricca define como um “primeiro exercício, foi positivo do lado artístico.
”O maior orgulho que tenho são as interpretações. Os atores são meus amigos, é quase uma ‘formação de quadrilha’. Fui escrevendo o filme para eles”.
Já a experiência de captador e produtor de um orçamento que se aproxima dos R$ 4 milhões, não foi tão agradável.
“Peguei um pires e saí atrás de dinheiro. Acabei com tudo o que tinha e fiquei três anos vivendo em função do filme, sem receber. Só os atores e a equipe foram pagos, porque é assim que tinha que ser”, conta o diretor.
Mas do que Ricca reclama mesmo é da falta de controle de todo o processo de produção no cinema.
“O cineasta é refém de muita coisa e de muita gente. Você tem que inscrever o projeto nas leis de incentivo, ele tem que ser aprovado por burocratas que a gente nem sabe quem são. Meu filme vai estrear e eu nem sei em que salas ele vai entrar. Isso é muito perverso”, desabafa.
Mesmo assim, o ator e diretor quer partir para outras experiências no cinema, desde que não sejam projetos de encomenda.
“Recusei dois convites desse tipo. Não me interessa e eu nem saberia fazer”.
Para ele, “fazer um filme é pôr ali uma visão de mundo. É algo muito ligado à sua vida. Mas há quem consiga se retirar”.
Ricca diz que tem outros projetos cinematográficos na cabeça – e que “não conta” porque já teve experiência de ver suas ideias roubadas antes.
Mas o fundamental mesmo é conseguir criar uma nova forma de produzir seus filmes, mais independente do que foi “Cabeça a Prêmio”.
“Não consigo lidar bem com todas essas relações. Ou eu vou romper com essas amarras ou não faço mais cinema”.
*****
Confira também a entrevista que Marco Ricca concedeu à revista "Serafina":
Por que decidiu dirigir cinema?
Acho que é uma extensão natural do trabalho de ator.
“Não consigo lidar bem com todas essas relações. Ou eu vou romper com essas amarras ou não faço mais cinema”.
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Confira também a entrevista que Marco Ricca concedeu à revista "Serafina":
Por que decidiu dirigir cinema?
Acho que é uma extensão natural do trabalho de ator.
Quando decidi dirigir teatro, fiz porque estava virando um ator insuportável, cheio de palpites para tudo.
Quando é assim, melhor ir lá e fazer o seu.
No teatro deu certo, já dirigi várias peças, e o público gosta, vai ver.
Eu adoro quando o público gosta.
Alguma tensão pré-estreia?
Muita, mas estou contente com o resultado.
Alguma tensão pré-estreia?
Muita, mas estou contente com o resultado.
Fiz o que eu queria ter feito.
Foram dois anos e meio de dedicação absoluta, exclusiva, e "Cabeça a Prêmio" é um filme grande, tem oito protagonistas, muitas locações, imagens aéreas.
Ouvi uma vez que você nunca termina um filme, apenas o abandona uma hora.
Estou pronto para abandoná-lo e torço para que o público o adote (risos).
Você não atua no filme. Por quê?
Porque eu só queria trabalhar com bons atores (risos).
Você não atua no filme. Por quê?
Porque eu só queria trabalhar com bons atores (risos).
Quando atua, você tem que cuidar daquele personagem e eu queria cuidar de todos.
Com que diretor de cinema você aprendeu mais?
Roubei muita coisa de muita gente, mas não tenho uma influência óbvia.
Com que diretor de cinema você aprendeu mais?
Roubei muita coisa de muita gente, mas não tenho uma influência óbvia.
A convivência com o Beto Brant, com quem fiz "Os Invasores" e "Crime Delicado", foi muito especial.
A Lina Chamie e o Cacá Diegues marcaram muito a minha vida.
Mas, se eu fosse virar
cineasta mesmo, queria ser como o Michael Mann, acho o cara um gênio.
Filmar na tríplice fronteira te influenciou de alguma forma?
Mais ou menos.
Filmar na tríplice fronteira te influenciou de alguma forma?
Mais ou menos.
É a maior fronteira seca do Brasil, do qual temos só referências perversas.
E fronteira é limite, por ela passa tudo que é bom e tudo que é ruim.
Com os personagens é assim também.
No livro do Marçal Aquino, em que o filme é baseado, a fronteira é muito mais presente.
Já era quase um roteiro, mas de um filme de US$ 200 milhões.
Como meu orçamento jamais seria esse, fiz uma adaptação cartesiana, a história ficou linear e mais focada no drama humano que na geopolítica.
Já se sente tão confortável fazendo cinema como TV e teatro?
Não, de jeito nenhum.
Já se sente tão confortável fazendo cinema como TV e teatro?
Não, de jeito nenhum.
Acho que o que eu sei fazer mesmo é teatro, é onde me sinto útil.
Só no teatro eu tenho certeza que não faço parte da seleção do Dunga.
Os atores costumam reclamar que novela consome todo o tempo.
Os atores costumam reclamar que novela consome todo o tempo.
É isso mesmo?
Novela é bem sacrificante, por outro lado dá uma bela organizada na vida. Mas"Tititi" tem duas coisas raras na TV: uma autora que escreve, a Maria Adelaide Amaral, e um diretor que dirige, o Jorge Fernando.
Novela é bem sacrificante, por outro lado dá uma bela organizada na vida. Mas"Tititi" tem duas coisas raras na TV: uma autora que escreve, a Maria Adelaide Amaral, e um diretor que dirige, o Jorge Fernando.
E combinei de gravar só de segunda a quinta, assim viajo com o filme nos fins de semana.
Você ficou casado com a atriz Adriana Esteves por dez anos, e está solteiro há sete.
Você ficou casado com a atriz Adriana Esteves por dez anos, e está solteiro há sete.
Que estado civil te faz mais feliz?
Sou muito discreto na minha vida pessoal, e meu casamento não foi um casamentão tradicional, mas foi tão legal que o tempo passou e a gente nem percebeu.
Sou muito discreto na minha vida pessoal, e meu casamento não foi um casamentão tradicional, mas foi tão legal que o tempo passou e a gente nem percebeu.
Temos um filho, o Felipe, e somos muito amigos.
E não oficializei nada mas não fiquei sozinho nesses sete anos.
Agora estou namorando e comecei a pensar em casar de novo, ter mais filhos, é uma experiência que eu gostaria muito de repetir.
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