sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"MEU MALVADO FAVORITO": A VOLTA DA UNIVERSAL STUDIOS À ANIMAÇÃO

Primeira animação em 3D do estúdio Universal, "Meu Malvado Favorito" quer conquistar seu espaço no território que a Pixar tem dominado.

Oferece um filme de qualidade, divertido e visualmente atraente, diminuindo, de certo modo, o prejuízo frente à dianteira indiscutível do estúdio liderado por John Lasseter, e que produziu sucessos mundiais como "Toy Story", "Vida de Inseto", "Monstros S.A.", "Carros" e "Procurando Nemo".

"Meu Malvado Favorito" estreia em circuito nacional, exclusivamente em cópias dubladas, nas versões 3D e também 2D - aliás, é uma pena que não tenhamos nenhuma cópia legendada, não permitindo termos acesso às vozes originais de Steve Carell (como Gru) e Dame Julie Andrews (sua mãe).

Partindo de uma ideia do produtor executivo Sergio Pablos, o roteiro de Cinco Paul e Ken Daurio desenvolve-se em torno do autointitulado maior vilão do mundo, que atende pelo nome de Gru - na versão brasileira, com voz do comediante Leandro Hassum.

Tronco robusto, pernas finas, um sotaque indecifrável, olheiras, careca e nariz pontudo, Gru é um especialista em maldades indiscutíveis, embora miúdas - como estourar um balão na cara de um garotinho e congelar com uma arma especial todas as pessoas à sua frente numa fila de lanchonete, apenas para pegar seu lanche primeiro.

Divulgação: Universal
Gru congela as pessoas na fila da lanchonete, só para passar à frente

São malvadezas meio infantis e que, por isso, inspiram uma certa simpatia, o que deve acontecer especialmente junto ao público infantil que é o alvo do desenho.
Ao longo da história, nota-se o quanto Gru tem dentro de si um coração de criança que não encontrou espaço para crescer, diante de uma mãe excessivamente crítica e dominadora.

Tal como no mundo corporativo da vida real, nessa competição de "maior vilão do mundo", ele encontra pela frente alguém mais jovem - o nerd Vetor - voz de Marcius Melhem - que acaba de roubar nada menos do que uma das pirâmides do Egito, colocando em seu lugar uma imitação inflável que tapeou turistas e autoridades.

Para contrabalançar a façanha do garoto, Gru decide que vai roubar a Lua, contando com a assessoria de seu cientista maluco particular, o doutor Nefário, e o incontável exército de seres amarelinhos que o assistem, os fiéis mas atrapalhados minions.

Essa história de roubar a Lua, Freud explica: quando era pequeno e assistia à chegada dos astronautas ao satélite pela TV - ao som de "Garota de Ipanema", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes - Gru queria de todo modo chegar lá também.

Muitos anos depois, o sonho ressurge, mas agora ele precisa de uma ferramenta, uma arma que dispare raios encolhedores, para poder transportar a Lua.

Um momento muito engraçado, inspirado na vida real, é quando ele procura financiamento para desenvolver a arma junto ao Banco do Mal - onde uma placa informa que o banco se chamava antes Lehman Brothers, o notório banco de investimentos nova-iorquino que pediu concordata em 2008, no meio da crise econômica mundial.

Essa é uma das poucas piadas destinadas aos adultos, pais das crianças que as acompanharem no filme, já que a história centra-se bem mais nas situações em torno do envolvimento de Gru com um trio de órfãs - Margo, Edith e Agnes - que vivem tristes num orfanato, sob a direção da despótica senhorita Hattie, e tentando vender biscoitos de porta em porta.

Quando descobre que o rival Vetor é louco pelos biscoitos, Gru decide adotar as meninas e usá-las para entrar na bem-guardada fortaleza de Vetor - que tem uma arma de raios de encolher prontinha para uso, o que resolve o problema de Gru não ter conseguido seu financiamento no Banco do Mal (mais adiante, na história, se saberá porquê).
Como é de se esperar, o tiro sai pela culatra, as meninas são mais espertas e sedutoras do que Gru esperava e a situação evolui em outras direções.

Veja o trailer do filme:



CRÍTICA

Não vá assistir a "Meu Malvado Favorito" esperando um filme que acompanha a tendência de animações que refletem sobre a condição humana, como Toy Story, Persepolis, Como Treinar Seu Dragão ou Wall-E.

Aqui, a pretensão é mais modesta: divertir as crianças, e, para isso, é construído com o olhar dos pequeninos sobre o que é maldade, provocando, para os adultos, uma sensação de visão romântica.

É aquele malvado dos desenhos animados que, no fundo, é bonzinho e só precisa de uma chance para provar.
O filme dá a Gru essa chance ao colocar em seu caminho três crianças de um orfanato que aguardam por adoção, já que, ainda criança, ele foi rejeitado pela mãe e, por isso, tornou-se um adulto mal encarado.
Para sustentar seu título de “o mais malvado do mundo”, cria um “singelo” plano: roubar a lua!

Essa estréia dos Estúdios Universal na animação desse século - o estúdio produziu em outros tempos pérolas como "Pica Pau" - não é aquele tipo de filme que tem várias camadas ou que reverbera para além da sala de cinema.

Na verdade, em relação aos personagens, sejam adultos ou crianças, o filme é bem simples – não há a metáfora da morte como em Toy Story 3 ou como os pais lidam com as escolhas dos filhos, caso de Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar.

Talvez justamente por ter como público alvo os pequeninos espectadores que irão obrigar os pais a levá-los ao cinema, a história aposta na jornada de transformação do herói – no caso, um malvado de carteirinha.

Cores, planos mirabolantes e um time muito interessante de coadjuvantes - The Minion, as estranhas criaturas amarelas que auxiliam Gru na missão de roubar a lua - garantem aos adultos uma animação simpática e às crianças uma viagem divertida.

Os efeitos especiais da empresa francesa Mac Guffe Ligne também funcionam direitinho e não faltam nem humor, nem ternura.

Essa animação quer apenas recompensar o que o espectador pagou pelo ingresso. Pretensão alcançada, sem dúvida.

MEU MALVADO FAVORITO
Título original: Despicable Me
Diretor: Pierre Coffin e Chris Renaud
Gênero: Animação, Infantil, Comédia
Estúdio: Universal
Duração: 95 mins
Vozes Originais:
Steve Carell
Jason Segel
Russell Brand
Dame Julie Andrews
Will Arnett
Kristen Wiig
Ano: 2010
Data da Estreia: 06/08/2010
Cor: Colorido
Versões: 3D e 2D, somente dubladas
Classificação: Livre para todos os públicos
País: EUA
COTAÇÃO DO KLAU:

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