sábado, 11 de fevereiro de 2012

'O ARTISTA': SENSACIONAL HOMENAGEM À VELHA HOLLYWOOD EM P&B E SEM DIÁLOGOS, COM ELENCO DE PRIMEIRA E FOTOGRAFIA DE BABAR


Vocês devem se lembrar bem que, quando o filme franco-belga "O Artista" estreou no último Festival de Cannes encantando crítica e público,  mas saiu da Croisette apenas com o prêmio de melhor ator, para Jean Dujardin - a Palma de Ouro foi para o americano "A Árvore da Vida", dirigido por Terrence Malick.

E o mundo deu voltas.

E nove meses depois, o longa - que estreou nesta sexta (10) aqui no Brasil - é o principal favorito ao Oscar 2012, muito à frente nas apostas, de produções como "A Invenção de Hugo Cabret", "Os Descendentes", "Histórias Cruzadas" e... o mesmo "A Árvore da Vida, agora reles coadjuvante.
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Jean Dujardin é George Valentin - astro na Hollywood de 1927 - no filme franco-belga "O Artista"

Indicado a dez estatuetas douradas - uma indicação a menos que "Hugo", de Martin Scorsese, recordista com 11 - o longa dirigido pelo francês Michel Hazanavicius é o maior papa-prêmios da temporada: já levou mais de 50 desde Cannes 2011, incluindo o Globo de Ouro na categoria musical/comédia, um dos termômetros do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood - o principal da temporada.

"O Artista" é um filme estranho ao nosso tempo - sempre cheio de efeitos digitais, 3D e captura de movimentos - pois teve um orçamento de apenas US$ 15 milhões - o menor entre os indicados do ano - e foi filmado em preto e branco e sem diálogos - não é um filme mudo, como muitos disseram, pois a música tem importância fundamental no desenrolar da trama, que se passa em 1927, época em que a meca do cinema ainda ostentava o letreiro "Hollywoodland" nas suas colinas.
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Jean Dujardin e Bérénice Bejo, em cena de "O Artista

Nessa Hollywood, George Valentin - interpretado magistralmente pelo ator francês Jean Dujardin - reinava como o grande astro do cinema mudo e suas aventuras lotavam as salas de cinema para alegria de seu produtor, Al Zimmer - John Goodman.

Na saída de uma das salas, ele conhece a jovem Peppy Miller - Bérénice Bejo, maravilhosa - aspirante a estrela que batalha por pequenas aparições em filmes, como os estrelados por Valentin.
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Em "O Artista", John Goodman vive o produtor de Hollywood, Al Zimmer

O clima de envolvimento entre os dois é cortado pelo casamento do ator com Doris - Penelope Ann Miller - e, ao mesmo tempo tão orgulhoso quanto ingênuo, Valentin nem percebe o perigo da aproximação de uma descoberta que viria a mudar a forma como se faziam filmes - o cinema sonoro.

Somando-se à quebra da economia americana no final da década de 1920, Valentin vê seu prestígio e fortuna serem reduzidos a pó em muito pouco tempo e, sem conseguir se adaptar à nova tecnologia - como muitos astros e estrelas da fase muda - ele cai no esquecimento.

Ao mesmo tempo, Zimmer aposta em Peppy como uma das novas estrelas do filme falado.

Mais do que uma história do amor, o competente diretor Michel Hazanavicius resgata aqui a trajetória de um gênero, e como muitos artistas não souberam lidar com a passagem do tempo e a transformação do formato.
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Bérénice Bejo, em cena de "O Artista"

Além da ótima trilha sonora de Ludovic Bource - que marca toda a exibição do longa, já disse antes - boa parte do sucesso de "O Artista" deve ser creditado à química perfeita do casal principal - o mesmo de "Agente 117”, comédia também dirigida por Hazanavicius que rendeu uma sequência com cenas filmadas no Rio e em Foz do Iguaçu.

Jean Dujardin, com méritos, é a aposta mais certa entre os concorrentes à estatueta dourada de melhor ator - além da Palma de Ouro em Cannes, ele já levou o Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato dos Atores.

Filha do pouco conhecido diretor argentino Miguel Bejo, Bérénice Bejo - que vive desde os 3 anos na França - apesar de estar perfeita aqui, tem menos chance entre as atrizes coadjuvantes, prêmio que Octavia Spencer - de "Histórias Cruzadas"  - aparece como favorita.

Indicado por direção e roteiro original no Oscar 2012, Hazanavicius faz aqui uma prova de amor a Hollywood, sem se render à nostalgia.

Uma penca de referências a clássicos aparecem em "O Artista".
Desde as óbvias, como a inspiração do nome de George Valentin a Rodolfo Valentino, apesar de a tragetória do personagem estar mais para John Gilbert - galã de Greta Garbo que teve a carreira encerrada com o advento do cinema falado.
Temos também as menos sutis, como a cena do café da manhã de "Cidadão Kane", ícone do cinema bem posterior à fase muda.

Além do galã Valentino, o protagonista Valentin carrega a comicidade de Charlie Chaplin, o espírito aventureiro de Douglas Fairbanks e o sorriso e sapateado de Gene Kelly - tem até a cena em que Valentin interpreta um espadachim com uma peruca comprida, que nos remete ao Dartagnan de Kelly em "Os Três Mosqueteiros".

A própria trama - o fim do cinema mudo e o advento do sonoro - já foi usada em "Cantando na Chuva" (1952)- de novo com Kelly - e até na comédia "A Última Loucura de Mel Brooks" (1976) - um dos filmes que eu mais gosto de ver e rever, e onde a única fala ouvida é dada pelo mímico francês Marcel Marceau - sen-sa-cio-nal.

Mesmo com tantas homenagens, pode-se pensar que Hazanavicius abriu mão da tecnologia moderna.

Lógico que não: algumas das cenas com o simpático cachorro, por exemplo, tiveram a inclusão de efeitos digitais, e a maravilhosa fotografia e textura do filme não existiu no cinema mudo.

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Jean Dujardin, em cena com o cachorro: efeitos modernos, usados na medida certa

Assim, com os recursos de hoje, uma boa história, atores maravilhosos e muitas homenagens, Hazanavicius fez um dos filmes mais interessantes da temporada - o que prova que Cinema, na real, é imagem em movimento, onde diálogos são absolutamente secundários.

Confira o trailer de "O Artista":
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'O ARTISTA'
Título original:
The Artist
Diretor:
Michel Hazanavicius
Elenco:
Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Beth Grant, Ed Lauter, Joel Murray, Bitsie Tulloch, Ken Davitian, Malcolm McDowell.
Produção:
Thomas Langmann, Emmanuel Montamat
Roteiro:
Michel Hazanavicius
Fotografia:
Guillaume Schiffman
Trilha Sonora:
Ludovic Bource
Duração:
100 min.
Ano:
2011
País:
França/ Bélgica
Gênero:
Drama
Cor: Preto & Branco
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdio:
La Petite Reine / uFilm / JD Productions
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

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