quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

62ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE BERLIM CHEGA À METADE: CONFIRA AS APOSTAS, OS MAIS COMENTADOS E A HOMENAGEM À MERYL STREEP


A edição de 2012 do Festival de Berlim chega à sua metade final, e a revista Screen International aponta os favoritos.

Veja também uma animação adulta e "Xingu" - os brasileiros que aconteceram em Berlim nessa semana - além de um filme português - "Tabu" -,  a primavera árabe e a homenagem da Berlinale à Diva Meryl Strep.


REVISTA SCREEN INTERNATIONAL APONTA FAVORITOS

A meio caminho do fim, o Festival de Berlim 2012 começa a criar os contornos de uma bolsa de apostas.

Uma das principais referências é a revista Screen International, que publica um quadro de cotações com opiniões dos principais críticos em circulação pela Marlene Dietrich Alle.

Na média, o filme que menos agradou foi o terror espanhol "Dictado", que recebeu duas cotações ruim e média de 1.1 ponto.

No pelotão intermediário, figuram cinco filmes, com cotações entre 1.9 e 2.5, pela ordem crescente: o grego "Meteóra", o filipino "Captive", o francês "Adieux a La Reine", o franco-senegalês "Aujourd'hui" e o francês "A Moi Seule".

Reuters
Os membros do júri da Berlinale 2012

Na frente, disputando cabeça a cabeça, com média em torno de 3 pontos, o ótimo "Cesare Deve Morire" e a prata da casa "Barbara".

As cotações aplicadas vão de quatro estrelas (excelente) até o "xis" (ruim).


BILLY BOB THORNTON QUER CONTINUAR DIRIGINDO FILMES INDEPENDENTES, E NÃO 'STAR TREK'

Ambientado no fim dos anos 1960, logo após o início da Guerra do Vietnã, "Jayne Mansfield's Car" mostra como várias gerações de uma família foram afetadas por diversos conflitos ao longo da História.

Dirigido por Billy Bob Thornton, o elenco tem Robert Duvall, John Hurt, Robert Patrick e Kevin Bacon - além do próprio diretor - e tem boas chances de figurar entre os premiados da mostra competitiva em Berlim, a julgar pela boa recepção do filme tanto na sessão para a imprensa quanto na disputada entrevista coletiva concedida pelo diretor, atores e produtores na manhã da (13).

AFP
O ator, cantor e diretor Billy Bob Thornton no Festival de Berlim

No Alabama, estado conservador ao Sul dos Estados Unidos, Jim Caldwell (Robert Duvall) é um pecuarista de sucesso com uma bela casa, três filhos adultos e uma filha.

Dois de seus filhos, Skip (Billy Bob Thornton) e Carroll (Kevin Bacon) combateram na Segunda Guerra Mundial e voltaram para casa como heróis, mas seus ferimentos e experiências transformara-nos e os homens que eles se tornaram não agradam o pai.

O primeiro vive traumatizado pelas feridas impressas em seu corpo, e o segundo torna-se um hippie engajado na luta contra a Guerra do Vietnã.

Certa noite, Caldwell recebe um telefonema da Inglaterra: Naomi Caldwell Bedford, a mulher que deixou Jim há 20 anos por outro homem, morreu, e seu último desejo era que fosse levada para casa para ser enterrada entre seu povo.

Entra em cena a família inglesa de Naomi, Kingsley Bedford (John Hurt), e os filhos Phillip (Ray Stevenson) e Camilla (Frances O’Connor) e quando as duas famílias se encontram, é um choque de culturas - o Velho Mundo se encontra com o Sul conservador - e silêncios constrangedores, mas de alguma forma, eles encontram pontos de contato.

Confira o trailer do filme:

"É um filme sobre o romantismo da tragédia", explicou Thornton. "Sobre como diferentes gerações foram afetadas pela guerra e como não aprendemos com as lições que nos foram ensinadas ao longo do tempo".
 O ator e diretor acrescentou que a comunicação entre as pessoas - ou a falta dela - está entre os temas abordados no roteiro que começou a ser pensado e escrito por ele há cerca de 12 anos.

Thornton conta que o projeto começou a decolar quando ele percebeu que não adiantava reclamar da falta de financiamento nos Estados Unidos para filmes que não fossem sobre belas modelos e gladiadores em uniformes.
"Em vez de ficar ruminando, eu resolvi fazer um projeto", contou ele.
"Percebi que me saio melhor como diretor quando escrevo o meu próprio material. No meu último filme, 'All The Pretty Horses', fui contratado para dirigir e não tive muito controle sobre o processo criativo. E, como ninguém financia mais esse tipo de filme na América, os russos financiaram."

O ator e diretor de "Jane Mansfield's Car" também contou por que recusou o convite para participar do Festival de Sundance, em janeiro, em detrimento do Festival de Berlim.
"Em primeiro lugar, escolhemos esse festival porque sabemos que é sério", disse ele.
"Os filmes são 'paramount' (os melhores, numa tradução livre do inglês) - mas não o estúdio. Quando assistimos ao filme pronto aqui vimos que valeu a pena o esforço de fazer um filme autêntico. Em geral, nas produções americanas, eles tentam enfiar atores conhecidos em papéis que não tem nenhum significado. Não é o que eu quero fazer. Se continuar dirigindo, vai ser em filmes como o que vocês viram agora e não o próximo 'Star Trek'.

Grande diretor, grande ator.


BLOGUEIROS E ATIVISTAS DA PRIMAVERA ÁRABE FORAM O ASSUNTO DA QUARTA-FEIRA

O Festival de Berlim abriu espaço nesta quarta (15) para blogueiros e ativistas da Primavera Árabe, tema principal do evento, com o objetivo de transferir para as telonas os "captadores espontâneos" dessas revoluções.

"As revoltas árabes são a máxima expressão de uma vontade coletiva de mudança. Daí surgiu muito material audiovisual, captado por pessoas reais e que mostra pessoas reais. O desafio agora é traduzir para o cinema", afirmou o diretor do Festival de Berlim, Dieter Kosslick, ao apresentar o "Fórum da Primavera Árabe".

A internet é atualmente o "maior canal de difusão" para as revoltas contra o regime da Síria, afirmou a diretora e ativista síria Hala al Alabdallah.

"Há toda uma nova geração de cineastas que surgiram no YouTube, cujas imagens, captadas com celular, são armas na luta pela liberdade", acrescentou a cineasta, que lembrou que gravar e divulgar essas imagens, em boa parte do mundo, só é possível "arriscando a própria vida".

Ecofilms
A diretora e ativista síria Hala al Alabdallah em Berlim

"Talvez não seja o meio mais profissional, mas é o único existente em situações de ditadura e repressão como a vivida na Síria", acrescentou seu compatriota e repórter gráfico Mohammed Ali Attasi.

Koslick enfatizou a necessidade de dar ao termo Primavera Árabe "seu sentido mais amplo", ou seja, tanto nos países do norte da África, onde surgiram as revoltas, desde o colonialismo até hoje, e nos lugares em situação de "conflito latente", quanto no Saara Ocidental.

Além dos debates, organizados por regiões e problemas - envolvendo Síria, Tunísia, Egito e Líbia, entre outros -, o Festival de Berlim incluiu 50 filmes, em todas as suas seções, sobre esse tema.

"Temos interlocutores em todas as seções, inclusive no júri", indicou Kosslick, em relação ao escritor argelino Bouamel Sansal, que será um dos jurados, e o diretor iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Urso de Ouro 2011 com o filme "A Separação".

O principal tema da 62ª edição da Festival de Berlim é, assim, o foco prioritário da atenção do World Cinema Fund, um fundo de ajuda ao cinema, criado pelo festival no início da década e que até agora se concentrou na América Latina, na Ásia e no Oriente Médio.


PRODUTORA BRASILEIRA VENDE ANIMAÇÃO ADULTA NO EUROPEAN FILM MARKET

Coprodutora brasileira de "Tabu" - que concorre aos Ursos de Ouro e Prata na Berlinale -, a Gullane Filmes também está ativa no European Film Market (EFM), que se realiza paralelamente ao festival.

Na terça (14), o produtor Fabiano Gullane lançou no mercado internacional o longa-metragem de animação "Uma História de Amor e Fúria".

Vendido como um desenho animado para plateias adultas - com o título internacional de "Rio 2096" - o filme centra foco em quatro datas fundamentais da história brasileira: 1500, quando o país foi descoberto pelos portugueses; 1800, no auge da escravatura; 1970, ponto alto da ditadura, e 2096, no futuro próximo.

Divulgação
Cena da animação brasileira "Uma História de Amor e Fúria", de Luiz Bolognesi

"A história normalmente é escrita pelos vencedores", disse Gullane à revista americana "Variety".
"No filme, ela será contada do ponto de vista dos perdedores."

Primeiro longa-metragem do roteirista Luiz Bolognesi - de "Bicho de Sete Cabeças" - na direção, "Uma História de Amor e Fúria" está sendo feito pelo processo tradicional de animação e ainda se encontra em fase de produção no Brasil.

Gullane falou também de outros investimentos da produtora na animação.

Com a RioFilmes, eles produzirão "Peixonautas - O Filme", inspirado na série de desenhos animados para a TV, e "Tarsilinha" - ambos em 3D.


DIRETOR E ATORES DE 'XINGU' DEFENDEM PRESERVAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA

Diferentemente da primeira sessão pública de "Xingu" no sábado (11), que quase lotou e teve muitos aplausos no fim, a projeção especial do filme para a imprensa que acompanha o Festival de Berlim nesta quarta (15) não atraiu a atenção dos jornalistas estrangeiros.

Mesmo assim, o diretor Cao Hamburger, os atores João Miguel e Caio Blat, e as produtoras Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlink demonstraram disposição em falar sobre o filme durante a entrevista coletiva que se seguiu para uma platéia formada quase toda por brasileiros.

É a segunda vez de Hamburger no festival alemão: ele esteve em Berlim em 2007, com "O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias", Blat veio no ano passado - para defender "Bróder" - e Miguel está participando do evento pela primeira vez - embora tenha atuado em outros filmes que passaram pela Berlinale.
"É o lugar certo para o 'Xingu' estar", disse o diretor.

Produção da O2 Filmes de Fernando Meirelles, "Xingu" mostra a aventura dos irmãos Villas-Bôas pelo interior do país.

Na década de 1940, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas (Felipe Camargo, Miguel e Blat, respectivamente) juntaram-se às expedições organizadas pelo governo brasileiro para desbravar uma região inexplorada.

Suas vidas foram transformadas pelo contato com tribos indígenas que encontraram pelo caminho e eles acabaram tendo um papel determinante na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961.

Alessandro Giannini/UOL
Da dir. para a esq., o diretor Cao Hamburger, os atores Caio Blat e João Miguel e as produtoras Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlink em entrevista coletiva sobre "Xingu" no Festival de Berlim

Além de resgatar uma parte importante da história do Brasil que foi esquecida ao longo do tempo, "Xingu" também mostra como a paixão de três irmãos por uma cultura desconhecida fez com que se tornassem pais de um projeto de preservação sem precedentes.

E como a opção deles de praticamente se "exilarem" no interior do país os aproximou e os afastou como família em momentos diferentes de suas vidas.

Confira o trailer do filme:

Um dos pontos mais delicados do filme diz respeito à participação de Leonardo no projeto e as razões pelas quais ele acabou tendo que abandonar a região do Alto Xingu por ter engravidado uma índia.
"Todos os três [irmãos] ficaram apaixonados pela cultura que encontraram", explicou Hamburger
"Daí a ter uma relação amorosa com uma das índias não seria muito difícil. Mas decidimos colocar isso no filme para mostrar também como os inimigos deles usavam qualquer coisa para atingí-los."

Hamburger destacou também a contribuição dos índios que trabalharam no filme - cerca de 200. 
"Fiquei surpreso com a rapidez com que eles entenderam o jogo da encenação, essa brincadeira da interpretação, e como eles absorveram o processo cinematográfico", disse ele.
"Foi uma experiência muito rica."

Foi a família Villas-Bôas que levou a ideia do projeto para a O2 Filmes.
Hamburger disse que conseguiu controle criativo da viúva de Orlando e de seu filho depois de convencê-los que não seria produtivo esperar por aprovação dos materiais.
"Eles foram compreensivos e nos abriram todos os arquivos, inclusive o escritório de Orlando, que está todo preservado em São Paulo", contou o diretor.
"Mas ainda não assistiram ao filme pronto. Só viram o trailer e gostaram muito, ficaram emocionados com a semelhança dos atores."

Sobre a repercussão entre os índios, Miguel, que interpreta Claudio, disse que recebeu um e-mail de índios que conheceram e conviveram com os irmãos, impressionados que ficaram com a interpretação do ator na tela.
"Esse é um dos maiores elogios que se pode ter", disse ele.
"Ouvir de alguém quem conviveu com o personagem uma coisa dessas."

Barata Ribeiro disse que "Xingu" está atraindo o interesse dos compradores estrangeiros no European Film Market (EFM) - que se realiza paralelamente ao festival - mas os contratos ainda não foram fechados.
"Estamos trabalhando com uma distribuidora francesa", explicou ela.
"E só vamos ter uma ideia de como foi quando o festival e o mercado terminarem."


COM CHANCE DE LEVAR O URSO DE OURO, O PORTUGUÊS 'TABU' É MUITO APLAUDIDO

O diretor português Miguel Gomes, que exibiu na quarta(14) "Tabu" na mostra competitiva da da Berlinale, tem grandes chances de levar um Urso de Ouro.

Numa edição onde temas candentes como guerra, sequestro, depressão e violência parecem ser mais importantes que a própria cinematografia, "Tabu" ganhou muitos aplausos na sessão para imprensa.

Seu filme, em preto e branco, não só possui uma boa história, como a conta explorando as diversas possibilidades de narração por imagens.

Efe
O diretor português Miguel Gomes, de "Tabu", no Festival de Berlim

O filme se divide em dois momentos: no presente, quando uma idosa solitária e temperamental, Aurora (Laura Soveral), atormenta sua vizinha por desavenças com a emprega negra; e cerca 50 anos antes, numa colônia portuguesa não identificada na África, enquanto Aurora (Ana Moreira) vivia o drama entre ficar com seu marido ou o amante.

Para representar o passado, o diretor recorre ao cinema mudo, usando o amante - interpretado pelo brasileiro Ivo Müller - como narrador.

A história na África se passa na região da montanha fictícia Tabu, uma remissão explícita ao diretor de filmes mudos F.W. Murnau (1888-1931), conhecido por "Nosferatu", e que no seu último ano de vida lançou "Tabu".

"Não é uma homenagem ao cinema mudo, nem uma citação direta a Murnau, mas eu assisti a muitos filmes dele e eles, certamente, me influenciaram", disse o diretor, em Berlim.

Se ganhar o Urso de Ouro, o Brasil também leva o prêmio, pois o filme é uma coprodução entre quatro países, que inclui ainda Portugal, França e Alemanha - a responsável pela parte brasileira é a Gullane, com o uso de fundos públicos do Ministério da Cultura.

A presença do ator brasileiro no elenco, assim como de outros profissionais do país na produção, ocorreu graças à Gullane.
"A nossa forma de participação é que ela seja efetiva, que haja interação de verdade", disse Fabiano Gullane, um dos sócios da produtora, em Berlim.

"Tabu", contudo, não é um filme fácil.
Em ritmo lento e sem situações grandiloquentes, Gomes conta a história de Aurora por meio de cenas simples e banais, e o uso de metáforas, como a própria gravidez da protagonista.

Para o diretor, o bebê que estava por nascer "poderia representar uma bomba-relógio como foi o colonialismo português na África".

Político, mas lírico, o filme já é um dos mais comentados - junto ao alemão "Barbara", de Christian Petzold, e "Cesare deve morrire" (Cesar deve morrer), dos irmãos Taviani.


DIVA DE HOLLYWOOD, MERYL STREEP RECEBE HOMENAGEM NA BERLINALE POR SEUS 35 ANOS DE CARREIRA

A Diva Meryl Streep recebeu na noite de terça (14) no Festival de Berlim um Urso de Ouro pelo conjunto da carreira, e falou com paixão sobre seus 35 anos de profissão.

A atriz recebeu um buquê de flores e presentes - afinal, era o dia em que muitos países do mundo comemoram o dia dos namorados, o Valentine's Day.

Em uma concorrida entrevista coletiva após a exibição de gala especial de seu novo filme  - "A Dama de Ferro" - Streep refletiu sobre o preço da fama e sobre como interpretar Margaret Thatcher mudou sua opinião pessoal a respeito da ex-primeira-ministra britânica.

"Aprendi muitas coisas interpretando seu personagem. Antes, tinha preconceito em relação a ela [Margaret Thatcher], eu que sou uma atriz meio esquerdista. Não gostava muito que tivesse sido amiga de Ronald Reagan. Pensava, como mulher, que usava um penteado horrível. Nós, mulheres, reparamos nessas coisas. Agora que estou do outro lado, vocês também podem falar dos meus cabelos."

Reuters/AFP
Meryl Streep é ovacionada em Berlim, enquanto segura o Urso de Ouro pela carreira e um buquê de flores; depois, na coletiva à imprensa, mostra a matrioska que ganhou, com rostos de vários papéis que interpretou

Num certo momento, um jornalista subiu no palco, entregou um buquê de flores brancas à atriz e deu um beijo nela.
"Que lindas. Meu marido não me mandou flores, então graças a Deus por Dieter!", disse.

Outro repórter deu de presente uma matrioska russa, com cada bonequinha pintada com uma face diferente para representar os diversos papeis já interpretados por ela nos filmes - incluindo "A Dama de Ferro" e "O Diabo Veste Prada".

Nessa temporada, a atriz norte-americana já levou o prêmio Bafta em Londres por "A Dama de Ferro" e o Globo de Ouro pelo mesmo papel, e é a favorita para o Oscar, em 26 de fevereiro - que seria o terceira de sua carreira.

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Com Reuters, AP, Efe, AFP, Fabio Cypriano - da Folha de S.Paulo e Alessandro Giannini - do UOL em Berlim

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