sábado, 18 de fevereiro de 2012

62º FESTIVAL DE BERLIM PREMIA COM O URSO DE OURO OS IRMÃOS TAVIANI E SUA ADAPTAÇÃO LIVRE DE UM TEXTO DE SHAKESPEARE INTERPRETADA POR DETENTOS ROMANOS


E as apostas da maioria se confirmaram.

Os irmãos Taviani receberam neste sábado à noite o Urso de Ouro  - prêmio máximo do 62º Festival de Berlim - por "César deve morrer" - adaptação livre de "Julio César" de Shakespeare, interpretada por detentos de um pavilhão de uma penitenciária de segurança máxima de Roma.

Paolo e Vittorio Taviani são cineastas já octogenários, sempre trabalharam juntos e sempre se recusaram a trabalhar separados - o filme dos dois superou outros 17 que estavam em competição  desde que a Berlinale 2012 começou, em 9 de fevereiro.

O júri, presidido pelo cineasta britânico Mike Leigh, era composto sobretudo por atores -
Jake Gyllenhaal, Charlotte Gainsbourg e Barbara Sukowa - e por diretores - o iraniano Asghar Farhadi,o francês François Ozon e o holandês Anton Corbij.

A ideia de "César deve morrer"  - em parte filmado em preto e branco -  veio quando os irmãos assistiam a uma representação de "Inferno" de Dante, na penitenciária de Rebbibia, em Roma.
AFP
Os diretores do filme César Deve Morrer, Vittorio e Paolo Taviani comemoram conquista
Os irmãos Taviani recebem o prêmio máximo da Berlinale -o Urso de Ouro de Melhor Filme, agora a pouco, em Berlim

Ao receberem o Urso de Ouro, os irmãos foram pródigos em declarações:

"Neste juri, conhecemos muitos rostos de pessoas que fizeram cinema, cinema que nós apreciamos", declarou Paolo.
"Espero que quando esse filme for apresentado ao público, alguns voltem para casa e se digam (...) que mesmo os criminosos duros, condenados à prisão perpétua, são e permanecem homens", disse ainda Paolo.

"Isso permitiu (aos prisioneiros) durante alguns dias voltar à vida. Isso durou apenas alguns dias, mas eles fizeram isso com uma grande convicção e é para eles que vai a nossa saudação", disse Vittorio.

A escolha do elenco, parte integrante do filme com os testes diante da câmera, apresentou uma Humanidade sem mulheres, condenada a pesadas penas por assassinatos, tráfico de drogas, contravenções múltiplas das leis anti-máfia.

Quanto à escolha de "Julio César", ela está ligada a uma frase da peça, quando é dito a respeito do assassino de César: "Brutus é um homem de honra".

"É uma linguagem à siciliana, que fala a esses homens saídos da máfia, da N'dranghetta, da Camorra: as conspirações, os segredos, as traições, eles também a conhecem", disse Vittorio após a exibição do longa na Berlinale - desde então, o filme esteve presente em praticamente todas as apostas como o grande favorito dessa edição.

Filhos de um advogado toscano anti-fascista, os irmãos Taviani são conhecidos por seu cinema comprometido com a realidade social de seu país.

Foi essa, como na tradição, a tonalidade geral da seleção, baseada nas viradas abruptas da história.

Entre os outros premiados da noite está "Barbara", elogiado pela imprensa e pelo público alemães, que conta a história de uma médica (Nina Hoss) vigiada durante nove anos antes da queda do Muro de Berlim pela Stasi, a polícia secreta da antiga-RDA - o filme recebeu o Urso de Prata de melhor diretor para Christian Petzold.

O Grande Prêmio do Júri ficou com um drama húngaro sobre o destino dos ciganos, "Apenas o vento", de Bence Fliegauf - no momento em que um governo nacionalista autoritário está no comando em Budapeste.

O Urso de Prata de melhor atuação feminina ficou com uma ex-menina de rua de Kinshasa - a congolesa Rachel Mwanza - por seu papel de uma criança-soldado em "Rebelde", do canadense Kim Nguyen.

O de Melhor Ator recompensou a atuação do dinamarquês Mikkel Boe Folsgaard - em "A Royal affair", de seu compatriota Nikolaj Arcel.
O filme recebeu também o prêmio de melhor roteiro.

Merece destaque também uma "menção especial do júri" - prêmio criado por Mike Leigh para saudar o filme da diretora franco-suíça Ursula Meier, "L'Enfant d'en haut", fábula social entre a região industrial e as ricas áreas mais altas suíças, entre um menino angustiado e sua irmã mais velha imatura.

O cineasta português Miguel Gomes foi agraciado com o Prêmio Alfred Bauer e o da crítica internacional Fipresci por seu filme "Tabu".
"Espero que seja decisivo em um momento no qual em Portugal se está decidindo como tem que ser a contribuição do Governo para o cinema", declarou o diretor, ao se referir a seu prêmio e ao de seu compatriota João Salaviza, ganhador do Urso de Ouro de melhor curta-metragem.

Ele afirmou que "um país precisa de filmes, mas se não há dinheiro, não há mercado", ao mesmo tempo em que assinalou que se trata de "um conceito de serviço público que está desaparecendo em Portugal".

Gomes dedicou seu prêmio ao recebê-lo durante a festa de encerramento do Festival "ao talento dos diretores do cinema português, que estão há 50 anos fazendo cinema independente do poder político e econômico".

O filme que ganhou o Alfred Bauer - prêmio adotado em memória do fundador do festival e outorgado a uma obra que abra novas perspectivas na arte do cinema - é uma história de amor filmada em preto e branco, ambientada na África colonial.

"Estou muito feliz com o prêmio, embora seja à inovação e meu filme seja feito à moda antiga. Mas é muito moderno agora fazer filmes à antiga", disse sobre seu filme, coproduzido por Brasil e Portugal.

Segundo Gomes, "o que conta realmente é tentar mostrar coisas, o que acontece entre os personagens e as emoções da melhor maneira, e às vezes você tem que fazer isso em preto e branco".

Salaviza, que levou o Urso de Ouro do júri do "Festival de Berlim Shorts" por seu curta-metragem "Rafa", lembrou durante a entrevista coletiva que a situação em Portugal "não está fácil".

Por isso, expressou sua esperança de que o prêmio contribua para melhorar a situação, já que "o cinema não teve muito apoio nos últimos 10-12 anos com os sucessivos Governos".

"Quero dedicar o prêmio também ao Governo português. Se este ano fizer um bom trabalho, dedicarei a ele o prêmio, portanto é uma dedicatória com condição", declarou, acrescentando: "Em Portugal temos problemas e não sabemos o que vai acontecer com o cinema".

A obra premiada, uma coprodução luso-francesa intitulada "Rafa", conta a história de um adolescente de 13 anos cuja mãe não retorna para casa nos subúrbios de Lisboa em uma manhã, depois de ter passado a noite com um homem.

Também houve uma menção especial do júri do "Festival de Berlim Shorts" ao curta brasileiro "Licuri Surf", de Guile Martins, que convida a percorrer a costa do Brasil em um filme de aventuras sobre o surfe.

A fita, de 15 minutos, transfere o espectador ao mundo dos jovens indígenas que sobre sua prancha de surf procuram desfrutar a próxima onda.

A Berlinale 2012 será fechada oficialmente amanhã à noite com a exibição para o público do filme ganhador do Urso de Ouro.

Tuitadas, por Alessandro Giannini, do UOL em Berlim:

O jornalista do UOL cobriu todos os dias da Berlinale 2012, e de lá tuitou muito.

O UOL separou 17 tuites de Giannini, que abrangem tudo o que de melhor aconteceu na edição 2012 do Festival.
UOL
Alessandro Giannini
O jornalista Alessandro Giannini

Confira:

"O Festival de Berlim 2012 resultou em um saldo positivo, embora a edição deste não tenha sido tão fértil em descobertas quanto a de 2011. Muitas das principais descobertas, como o documentário "Ai Weiwei: Never Sorry", estavam nas mostras paralelas".

"'War Witch' é um retrato da agonia das crianças-soldado africanas, vítimas do tráfico de minério e da corrupção dos governos".

"O filme "A Royal Affair" retoma um período conturbado da história da Dinamarca, com intrigas e conspirações shakespeareanas".

"Confuso, extenso e excessivo, o alemão "Gnade" só explica sua seleção para a mostra competitiva pela nacionalidade".

"Último filme a entrar no Festival, "White Deer Plain" é um épico sobre o fim da era imperial na China. Longo e difícil."

"'A Dama de Ferro' mostra mais do q 1 velha senhora acometida pela demência. É tb um retrado dos efeitos colaterais do poder".

"Na mostra Panorama, "Xingu" mostra a aventura de 3 irmãos que se transformou na luta pelos direitos dos índios".

"Em "A Toda Prova", de Steven Soderbergh, o elenco todo é formado por personagens masculinos, inclusive Gina Carano".

"O indonésio "Postcards From The Zoo" faz 1 curioso paralelo entre a vida dentro e fora de um zoo, e entre humanos e animais".

"Co-produção brasileira, "Tabu" faz experiências com som, imagem e cita clássicos do cinema. Um filme poderoso e difícil".

"'Sister' mostra sem muita convicção as diferenças sociais na Suíça por meio da história de uma jovem e seu "irmão'".

"Em "Jane Mansfield's Car", BB Thornton faz sua versão de Festa em Família".

"Em "Flowers of War", Christian Bale encarna um anti-herói, apenas para variar. Mas você reza para ele invocar Batman".

"'Ai Weiwei: Never Sorry' explica de fato a arte pelo artista, a obra pelo homem, e não o contrário".

"'Shadow Dancer', de James Marsh (O Equilibrista), mostra o conflito entre Irlanda do Norte e Reino Unido de forma inédita".

"Extenso e reiterativo, "Marley" se excede na homenagem ao cantor, compositor e pacifista jamaicano".

"O alemão "Barbara" mostra a Alemanha Oriental de um modo diferente e menos preconceituoso, com a ajuda de um elenco muito bom".

"'Cesare Deve Morire' mostra que os veteranos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, 80 e 82 anos, não perderam o foco".

Prêmios do Júri Internacional de Curtas-Metragens

Menção Especial

Licuri Surfe, de Guile Martins

Urso de Prata como Prêmio Especial do Júri

The Great Rabbit, de Atsushi Wada

Urso de Ouro para Melhor Filme

Rafa, de João Salaviza

Prêmio de Melhor Filme de Estreia entre selecionados para Competição, Panorama, Fórum, Generation e Perspektive Deutsches Kino

Menção especial para filme da mostra Forum

Tepenin Ardi, de Emin Alper

Melhor Filme de Estreia

Kawboy, de Boudewijn Koole

Prêmios do Júri Internacional

Menção Especial

L'Enfant d'en Haut, de Ursula Meier

Prêmio Alfred Bauer em memória do fundador do festival

Tabu, de Miguel Gomes

Urso de Prata para melhor contribuição artística nas categorias fotografia, edição, trilha sonora, figurino ou cenografia

Melhor fotografia

Lutz Reitmeier, pelo filme Bay Lu Yuan

Urso de Prata de Melhor Roteiro

Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg, por A Royal Affair

Urso de Prata para Melhor Atriz

Rachel Mwanza, por The War Witch

Urso de Prata para Melhor Ator

Mikkel Boe Foslgaard, por An Royal Affair

Urso de Prata para Melhor Diretor

Christian Petzold, por Barbara

Urso de Prata - Grande Prêmio do Júri

Just The Wind, de Bence Fliegaulf

Urso de Ouro de Melhor Filme

Cesare Deve Morire, de Paolo e Vittorio Taviani

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