Vamos atualizar o que de mais importante tem acontecido na Berlinale?
ANGELINA JOLIE FALA DA SUA ESTREIA COMO DIRETORA E DO SEU DESEJO DE INTERPRETAR A BRUXA MALÉVOLA, DE 'A BELA ADORMECIDA'
Durante a coletiva de imprensa de seu primeiro filme como diretora - "In the Land of Blood and Honey" - Angelina Jolie mostrou o desejo de retomar sua careira como atriz.
Longe das telonas há dois anos, Jolie afirmou que está na hora de voltar a ficar nas frente das câmeras e quer interpretar a bruxa Malévola do conto "A Bela Adormecida" na nova produção da Disney, "Maleficent" - as informações são do site Hollywood Reporter.
Reuters
Angelina Jolie, durante entrevista em Berlim
Angelina falou a uma sala lotada de jornalistas sobre seus novos planos: "Eu não atuo faz dois anos e não fiz nada além disto (o longa "In the Land of Blood and Honey" ). A próxima coisa que eu pretendo fazer é trabalhar em um filme da Disney" - a atriz disse que está há um certo tempo planejando a ideia de interpretar a bruxa de "A Bela Adormecida" .
Jolie falou que os filhos também querem ver a mãe como a bruxa e a chamam de "mamãe-lévola".
A nova diretora ainda afirmou que quer voltar a fazer filmes com atores desde de seu último trabalho, em que emprestou sua voz à Tigresa de "Kung Fu Panda 2".
"A melhor coisa para encontrar o equilíbrio é fazer alguma coisa apenas para as crianças, você encontra novos jeitos de fazer as coisas valerem a pena"
"Maleficent" já tem um diretor definido - o estreante Robert Stromberg, que ganhou o Oscar em Direção de Arte pelos filmes "Avatar" e "Alice no País das Maravilhas".
A produção ainda não tem data definida de estreia.
Confira o trailer do filme de estreia de Angelina Jolie como diretora:
Jolie - que chegou a Berlim acompanhada de Brad Pitt e de seus seis filhos - passou para trás das câmeras "por pura casualidade" para dirigir e contar a guerra na Bósnia na ficção.
Na entrevista, disse que "não decidiu se tornar diretora de cinema nem roteirista. Poderia encontrar alguém tecnicamente mais capacitado que eu, mas só eu sabia até que ponto queria que essa história fosse contada".
Ao escolher para sua primeira experiência como diretora um conto de guerra - um amor complicado na Bósnia entre uma muçulmana e um combatente sérvio - Jolie lembrou que nos anos 1990 houve na Europa um conflito atroz, com estupros sistemáticos de mulheres bósnias, e que o mundo inteiro agia como se não soubesse de nada.
"Viajei a essa região, mas não conseguia verdadeiramente compreender o que tinha acontecido, apesar de terem sido fatos da minha geração. Por isso, decidi estudar, e quanto mais avançava em minhas pesquisas e em minhas leituras, mais furiosa eu me sentia e aumentava a obrigação de contar essa história", declarou.
Aos 36 anos, a estrela vencedora do Oscar - por "Garota Interrompida", em 2000 - é uma mulher comprometida, que percorre os países em conflito há 10 anos, sobretudo como embaixadora da boa vontade do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados.
Durante a rodagem de seu filme, disse ter sentido uma "pressão enorme", apesar de ter gostado de se ver convertida em uma espécie de maestra.
"Brad diz que é porque sou mãe de seis filhos, por isso tenho o costume de mandar", brincou, mas reconheceu que passou por momentos bastante difíceis, sobretudo porque seus atores foram contratados localmente e a filmagem foi feita em servo-croata, sistematicamente dublado com uma tomada em inglês.
"Foi difícil para todo mundo, sobretudo para os atores, que como homens tinham que interpretar agressores, quando todos eles são pais de família, maridos adoráveis, boas pessoas. Mas sabiam que tinham de fazê-lo, em nome das mulheres, para mostrar a brutalidade que elas sofreram", disse.
Para realçar o caráter documental de seu filme, decidiu que sua estreia ocorreria no Museu do Holocausto de Washington.
"Era uma forma de atrair a atenção sobre esse aspecto dos genocídios que são os estupros, e para lembrar que os temas do filme são universais. Me parece importante estudar a história dos genocídios, já que isso não apenas ocorreu em um único país e em um só momento da história, mas é algo que se reproduz regularmente", completou.
Jolie disse também que esteve recentemente em Auschwitz.
"Vi tantos nomes sérvios, porque combateram os nazistas... e mais tarde eles se tornaram os agressores".
Grande atriz, grande mulher e tem tudo, seguramente, para ser também uma grande - e engajada - diretora.
IRMÃOS TAVIANI SURPREENDEM, COM 'CÉSAR DEVE MORRER'
Os célebres cineastas italianos Paolo e Vittorio Taviani surpreenderam neste sábado o público da Berlinale com seu intenso "Cesare deve morire" ("César deve morrer"), uma adaptação da obra "Júlio César", de Shakespeare, interpretada por detentos da prisão de segurança máxima de Rebibbia.
A obra de Shakespeare, que conta a conspiração para matar o ditador romano Júlio César em 44 a.C., permite aos presos, alguns deles condenados à prisão perpétua por homicídio, expressar sobre os temas do poder, a morte e a traição com um grande realismo e energia.
Reuters
Vitorio e Paolo Taviani, em Berlim
Os irmãos Taviani, de 83 e 85 anos, insistiram que este filme-documentário, que disputa o Urso de Ouro, é "o relato da descoberta do poder da arte por homens que vivem uma tragédia, não apenas pelos delitos que cometeram, como pela vida dura na prisão".
"Foi uma grande experiência voltar a descobrir com eles a obra de Shakespeare, da qual tínhamos recordações de leituras no colégio. Nós a desmembramos e a reconstruímos, em nome de um espetáculo. Achamos que Shakespeare teria gostado de ver esta representação numa prisão", declarou Vittorio Taviani.
Confira o trailer do filme:
"A sorte, o azar, têm um papel importante em nossas vidas. Uma pessoa nos perguntou se desejávamos ir a um teatro onde se chora. Isso nos chamou a atenção. Tratava-se do teatro da prisão modelo de Rebibbia, onde há pessoas condenadas por pertencimento à máfia, à camorra, à ndrangheta", explicou Paolo Taviani.
"Essa obra que fazia o público chorar era 'O inferno', de Dante, e, em especial, o episódio de Francisca e Paolo, um amor impossível. Os presos nos fizeram sentir como nunca a possibilidade desse amor", acrescentou.
"Quando chegamos pela primeira vez à prisão, um lugar onde as pessoas sofrem, nos parecia que não tínhamos o direito de vê-los sofrer, mas depois nos demos conta de que eles também tentavam se expressar, e que podem chegar a sentir amizade e afeto, ainda que tenham cometido delitos terríveis", acrescentou.
"César deve morrer", interpretada pelos presidiários em seus próprios dialetos - calabrês, siciliano, napolitano ou romano - começa com a seleção de elenco e a atribuição dos papéis por um verdadeiro ator de teatro, Fabio Cavalli, que há dez anos leva a dramaturgia às prisões sicilianas.
Cavalli contou que montou na prisão de Rebibbia, "O inferno", de Dante, "A Tempestade", de Shakespeare, e "Il Candelaio", de Giordano Bruno.
"O teatro de Rebibbia já não é apenas o teatro da prisão, como também uma sala que depende da prefeitura de Roma e a qual regularmente vão os estudantes ver nossas encenações", acrescentou Cavalli.
Vittorio Taviani insistiu que "atribuir à prática do teatro na prisão uma função terapêutica é algo limitante". "Fazer com que os presos descubram o poder da arte lhes abre outra dimensão do cérebro, a das relações humanas. Assim compreendem melhor o que deixaram de ter ao perder a liberdade e alguns pode aspirar reconstruir-se".
O único ator ex-presidiário presente na Berlinale era Salvatore Striano, que interpreta no filme Brutos, o personagem-chave da tragédia de Shakespeare.
"Striano estava condenado a uma pena muito longa e, graças a uma anistia, pôde sair antes da prisão, onde descobriu sua vocação de ator. Desde que saiu, se integrou a uma companhia de teatro", contou Paolo Taviani, o que só prova que a Arte pode e deve ser usada na recuperação de pessoas e de suas vidas.
'XINGU', DIRIGIDO POR CAO HAMBURGER, ATRAI MUITO INTERESSE E É APLAUDIDO AO FINAL DA SESSÃO
Com a sala parcialmente cheia, "Xingu" teve neste sábado sua primeira exibição no Festival de Berlim 2012, dentro da mostra Panorama.
O filme de Cao Hamburger sobre os irmãos Villas-Boas e a história da formação do Parque Nacional do Xingu atraiu o interesse do público berlinense e foi bastante aplaudido ao final da sessão.
Nem o diretor ou os atores estavam presentes - primeira projeção para a imprensa será realizada apenas na quarta (15).
O filme, que tem produção de Fernando Meirelles, acompanha a aventura dos irmãos Villas-Bôas.
Na década de 1940, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas (Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat, respectivamente) juntaram-se às expedições organizadas pelo governo brasileiro para desbravar o interior do país.
Suas vidas foram transformadas pelo contato com tribos indígenas que encontraram pelo caminho e tiverem papel importante na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961.
Divulgação
Cao Hamburger (de frente) discute com o diretor de arte Cássio Amarante, o diretor de fotografia Adriano Goldman e o ator Caio Blat detalhes de "Xingu"
Quase todo rodado na região do Parque, com participação de cerca de 200 índios, o filme mostra como a aventura de três irmãos entediados com a vida urbana transformou-os pela experiência de descobrir culturas que jamais haviam tido contato com o homem branco. Mostra também, às vezes de maneira excessivamente didática, como contornaram os próprios erros e negociaram com os sucessivos governos em favor da manutenção das culturas indígenas.
A química entre Camargo, Miguel e Blat sustenta a dramaturgia linear de "Xingu".
Os papéis masculinos e femininos dos índios também são dignos de nota, o que não se explica são participações como os de Maria Flor, que apontam para uma subtrama que nunca se revela na tela.
Com muitos altos e alguns pontos discutíveis, o filme tem consistência o suficiente para seguir uma carreira promissora nos cinemas.
Confira o trailer de "Xingu":
Em entrevista ao UOL, no fim de 2010, durante as filmagens de "Xingu", Hamburger disse esperar que o filme provocasse debate e discussões em torno do tema das políticas indígenas.
"Acho que vai ser um filme polêmico, no sentido das políticas indígenas", disse ele.
"Tem muitas vertentes de pensamento, e elas mudam sempre. É essa coisa do desenvolvimento versus a preservação. Eu espero que seja [polêmico]. Acho importante a discussão em cima de fatos. Se o filme conseguir trazer a história desses caras para uma discussão do futuro e do presente seria muito legal."
CHRISTIAN BALE NOS FAZ ESQUECER BATMAN COMO O ANTI-HERÓI NA SUPERPRODUÇÃO CHINESA 'THE FLOWERS OF WAR'
Longe de Gotham City, da mansão Wayne, da Batcaverna e da parafernália de Batman, Christian Bale vive em "The Flowers of War" um outro tipo de herói, cujo hábito - ao contrário do que diz o ditado - faz o monge.
O ator interpreta um americano pego de surpresa pela invasão japonesa de Nanquim, na China, em 1937, que se refugia em uma igreja com um grupo de noviças e outro de prostitutas. Para salvar as meninas e as mulheres da brutalidade dos invasores, ele se faz passar por um padre e decide ajudá-las a sair de lá.
A invasão ficou conhecida como "O Massacre de Nanquim".
"The Flowers of War" foi dirigido por Zhang Yimou e está na mostra competitiva do Festival de Berlim 2012, mas não concorre aos Ursos de Ouro e Prata porque - segundo Yimou, já estreou na China e Estados Unidos.
Mesmo assim, atraiu a atenção de boa parte da imprensa asiática presente no certame, que responde por uma grande parcela dos quatro mil jornalistas credenciados este ano, de acordo com a organização.
news.cn
Christian Bale, o diretor Zhang Yimou - ao centro - e o elenco de "The Flowers of War" em Berlim
Bale e Yimou foram a Berlim para falar sobre "The Flowers of War" e promover o filme.
Ao lado deles, estavam também as atrizes Ni Ni (a prostituta Yu Mo) e a estreante Zhang Doudou (a noviça Shu).
Completaram a mesa o ator Tong Dawai, a escritora Yan Geling e os roteiristas Liu Heng e Zhou Xiaofeng.
Bale recusou toda as tentativas de comparar o "padre" John de "The Flowers of War" ao justiceiro encapuçado da trilogia "Batman" dirigida por Christopher Nolan.
"Não vejo nada em comum com Batman", respondeu o ator em entrevista coletiva na tarde desta segunda (13), em Berlim.
"Qualquer comparação nesse sentido eu deixo para vocês ou outros espectadores. Não gosto de fazer isso."
Mas o ator respondeu ao UOL quando questionado se as escolhas que pretende fazer na carreira de agora em diante contemplam mais filmes como "The Flowers of War" ao invés de grandes franquias como "Batman".
"Tenho tido a sorte de poder escolher bons papéis", disse ele.
"Adoro 'Batman' e fui muito feliz trabalhando com Christopher Nolan, mas quero tentar coisas diferentes também. No caso deste filme, havia a diferença cultural, que me interessava. E [voltar para a china] foi uma experiência incrível." - o ator refere-se aqui às filmagens de "O Império do Sol", de Steven Spielberg, também filmado na China e onde Bale, então com 13 anos, fez sua estreia como protagonista nas telonas.
Confira o trailer do filme:
Para fazer o filme, Yimou se inspirou no livro "As Treze Flores da Guerra", de Yan Geling, que baseou seu romance em histórias verdadeiras, tanto de americanos em Nanquim, que ajudaram civis chineses a sobreviver durante e após o massacre, quanto de prostitutas que substituíram estudantes universitárias quando estas corriam risco de se tornar companhia forçada para satisfazer soldados japoneses.
"Esse é um assunto trágico e delicado, enterrado na memória dos chineses", disse o cineasta.
"Mas é necessário desenterrá-lo para manter viva a memória da tragédia. Além disso, houve uma boa resposta ao filme na China."
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Com Hollywood Reporter, Reuters, AFP e Alessandro Giannini, do Uol em Berlim
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