sábado, 4 de fevereiro de 2012

'HISTÓRIAS CRUZADAS": INTIMISMO E FEMINILIDADE AO ABORDAR A LUTA PELOS DIREITOS CIVIS DOS NEGROS AMERICANOS


"Histórias Cruzadas", drama que o diretor Tate Taylor adaptou do best-seller "A Resposta", de Kathryn Stockett, é um retrato intimista da luta pelos direitos civis dos negros dos anos 1960 nos Estados Unidos -  sob a ótica feminina.

Ator com pouca experiência na direção - este é seu segundo longa - Taylor é amigo de infância da autora do livro - assim, o bom roteiro, escrito por ele, ficou mais fácil de ser desenvolvido, pois a consultoria foi de primeira.

A grande sacada do filme é o afiadíssimo elenco, de atrizes de várias gerações, que vai das veteranas Sissy Spaceck e Cicely Tyson, a jovens como Emma Stone - o que valeu as premiações de melhor elenco, melhor atriz  - para Viola Davis - e atriz coadjuvante - para Octavia Spencer - no prêmio do Sindicato dos Atores da América (SGA).

Aqui, Emma Stone interpreta a jovem Skeeter Phelan, que volta para casa, em Jackson, Mississippi, depois de cursar a universidade e disposta a reverter a tradição sulista que destina às mulheres um casamento , uma penca de filhos e nada mais.

Skeeter quer tornar-se jornalista - só que no jornal local, não encontra mais o que fazer do que uma coluna de dicas sobre limpeza doméstica.
Divulgação
Emma Stone, em cena do filme

Mas Skeeter encontra justamente neste trabalho o grande projeto que mudará sua vida e a de algumas empregadas negras da cidade, oprimidas por relações de trabalho e dominadas por leis segregacionistas que não se diferiam tanto assim da escravidão.

Conversando com elas para a sua coluna, Skeeter decide revelar a história dessas mulheres - o que pode garantir-lhe um emprego em Nova York, onde tem contato com uma editora - Mary Steenburgen, que eu não via na telona faz tempo.

Aibeleen - Viola Davis, maravilhosa - primeira empregada que fala com Skeeter, torna-se a real protagonista da história, como símbolo da opressão que a história procura resgatar.

Mãe de um filho que morreu jovem, Aibeleen é o modelo de muitas dessas empregadas, criando os filhos das patroas, arcando com todo o trabalho de limpeza e cozinha e nem por isso podendo usar sequer os mesmos pratos, talheres muito menos o mesmo banheiro da família - sua patroa, Elizabeth - Ahna O'Reilly, odiosa - chegou a construir um banheiro de madeira para ela.
Divulgação
Emma Stone, Octavia Spencer - centro - e Viola Davis, em cena do filme

Mas a patroa que melhor escancara essa crueldade e preconceito é Hilly Holbrook - interpretada por Bryce Dallas Howard - amiga de Elizabeth e Skeeter, ela é a líder dessa comunidade de donas-de-casa submissas aos maridos e que descontam suas frustrações nesse grupo numeroso de servidoras negras -  vistas pelas leis vigentes como cidadãs de segunda categoria.

Hilly também espezinha a mãe ligeiramente esclerosada - interpretada com brilho por Sissy Spaceck - e será objeto de uma vingança por parte da empregada Missy - Octavia Spencer, espetacular - mais rebelde do que Aibeleen e, apesar de suas diferenças, serão estas duas as maiores aliadas para o êxito do livro secreto de Skeeter.

Desde a primeira cena fica evidente que o diretor optou por não levar o confronto da história até as últimas consequências e, embora se mencione o risco real que correm as empregadas somente por falarem às escondidas com Skeeter, de modo nenhum isso aparece na telona.

Tate Taylor flagra o racismo no dia a dia, na cozinha e na sala de jantar, mas não se deixa levar pela revolução que naquele momento da história americana já enchia as ruas - assassinatos como de um militante negro e do presidente John F. Kennedy, são mostrados de forma indireta, pela TV.
Divulgação
Octavia Spencer e Viola Davis, em cena do filme

O diretor sustenta assim uma trama menos política e mais personalista e superficial da questão racial norte-americana - que aliás vem do livro original, de fundo autobiográfico.

Se nesse sentido o filme perde um pouco, o trabalho excepcional de suas atrizes, particularmente Viola Davis, é de cair o queixo de tão bom.

Até os pequenos excessos de Octavia Spencer - que lembrou muito, e não só a mim, a atriz Hattie McDaniel, a inesquecível Mammy de "...E o Vento Levou" (1939), passam desapercebidos diante de sua atuação, soberba.

Para finalizar, temos ainda Jessica Chastain, que interpreta com  a segurança de sempre Celia Foote, uma forasteira rejeitada pelas mulheres locais e seguramente a personagem branca mais matizada e interessante, contribuindo com uma nota frágil e cômica.
Divulgação
Jessica Chastain, em cena do filme como Celia

Justamente pela interpretação dessas atrizes, o filme recebeu quatro indicações ao Oscar 2012: Melhor Filme, Atriz - para Viola Davis - e Atriz Coadjuvante - para Jessica Chastain e Octavia Spencer, que já levou o Globo de Ouro 2012 de Melhor Atriz Coadjuvante em Drama.

Confira o trailer do filme:

*****
"HISTÓRIAS CRUZADAS"
Título original:
The Help
Diretor:
Tate Taylor
Elenco:
Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Mike Vogel, Allison Janney, Viola Davis, Ahna O'Reilly, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Anna Camp, Eleanor Henry, Emma Henry, Chris Lowell
Produção:
Michael Barnathan, Chris Columbus, Brunson Green
Roteiro:
Tate Taylor, baseado na obra de Kathryn Stockett
Fotografia:
Stephen Goldblatt
Trilha Sonora:
Thomas Newman
Duração:
146 min.
Ano:
2011
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Disney
Estúdio:
1492 Pictures/ Imagenation Abu Dhabi FZ / Harbinger Pictures/ DreamWorks SKG/ Reliance Entertainment/ Participant Media
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

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