Meryl Streep é, com toda justiça, a melhor atriz americana viva.
Sua capacidade de personificar mulheres completamente diferentes entre si - no gestual, no olhar e no sotaque - não tem paralelo na história cinematográfica mundial recente.
E quando pensamos que Meryl vai derrapar na composição de uma nova personagem, ou fazer algo que novamente nos cative, eis que ela nos entrega agora sua interpretação no piloto automático da ex-primeira ministra britânica Margaret Tatcher.
Com roteiro de Abi Morgan - que foca muito mais o tom intimista do que a fidelidade à história da principal e mais odiada mulher do século 20 - e dirigido pela britânica Phyllida Lloyd - que já havia trabalhado com Meryl em "Mamma Mia!" - "A Dama de Ferro", que estreou ontem aqui no Brasil, aposta tudo na humanização da polêmica política conservadora, que governou a Inglaterra com mão de ferro - entre 1979 e 1990.
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Primeira imagem divulgada de Meryl Streep como Margaret Tatcher - que eu guardei todos esses meses, justamente para usar nessa postagem
De braço dado no Poder com outro importante líder conservador dos anos 70/80 - o presidente americano e ex-ator medíocre de Hollywood, Ronald Reagan - Tatcher teve seu governo marcado por uma defesa apaixonada do monetarismo, da privatização de estatais, da flexibilização do mercado de trabalho da guerra idiota com a Argentina pelas Malvinas e, principalmente, pelos profundos cortes dos benefícios sociais.
A Iron Lady - apelido depreciativo usado por seus opositores mas que foi inventado pelos soviéticos - acabou até com o salário mínimo na Inglaterra, que só voltou a vigorar no governo de Tony Blair - em 1999.
Passando solenemente ao largo de todos esses fatos históricos, o longa de Lloyd nos mostra a ex-primeira-ministra - ainda viva aos 86 anos - na atualidade, como uma velha abalada pela pré-senilidade, solitária e cercada de auxiliares - muito mais para vigiá-la do que para lhe dar atenção , o que torna muito difícil ao espectador não sentir pena da velhota.
Mas é só nos lembrarmos de tudo o que ela aprontou enquanto esteve no Poder para essa peninha passar bem depressa.
Mas é só nos lembrarmos de tudo o que ela aprontou enquanto esteve no Poder para essa peninha passar bem depressa.
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Meryl, em cena do filme
Fora do núcleo de poder que tanto prezava, o que resta a essa velha, quase senil e muito frágil, é recordar o passado - que ela discute com o fantasma do marido, Denis - interpretado Jim Broadbent, uma das boas surpresas do filme.
As recordações nos mostram uma jovem provinciana - aqui interpretada por Alexandra Roach -, filha de um comerciante de classe baixa e que gosta de fazer discursos de almanaque, e que começa a trilhar seu caminho de muito trabalho e estudo - na universidade Oxford.
Por influência do pai e do marido - ex-executivo da indústria petroleira - Margaret entra para a política inglesa - então uma casta machista ao extremo - onde persevera, segue conselhos de aliados, muda de penteado e impõe seu estilo, para tornar-se a primeira mulher a chegar ao posto de primeira-ministra - a chefe do executivo que manda realmente naquela bagaça.
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Jim Broadbent - como Denis - e Meryl Streep - como Margaret, em cena do filme
Seria uma história mais que comum de superação, e etc e etc.
Só que a época de Thatcher no poder foi também a época da Guerra Fria, da mais longa greve de mineiros ingleses da história, a Guerra das Malvinas com a Argentina e o embate com o Exército Republicano Irlandês (IRA) - que inclusive tentou matá-la a bomba em 1984 - episódio mostrado no filme.
Pena que o longa não saiba captar tudo isso, e ao espectador fica a certeza de que a diretora não soube contar a história de uma das mais fascinantes personagens da história mundial recente com toda a sua gama de complexidades.
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Margaret no parlamento: cercada por machos por todos os lados
Sobra ao espectador a personificação de Meryl Streep, que lhe rendeu a 17ª indicação ao Oscar - a ser entregue domingo que vem - o Bafta, o SAG e o Globo de Ouro da temporada.
A atriz emula a voz, o sotaque, capricha no laquê do penteado, coloca prótese dentária e caminha se arrastando com fragilidade na versão mais velha de Thatcher, numa caracterização que não humaniza a personagem - ao contrário , só nos faz lembrar que, como disse Nelson Rodrigues, os canalhas também envelhecem, e é ótimo vê-los caindo aos pedaços.
Filme ruim, com Streep no piloto automático.
Porém, do jeito que a atriz tem ganhado os prêmios da temporada, mais pelo conjunto da obra do que por merecimento por esse papel - e o urso de ouro entregue nessa semana em Berlim não me deixa mentir - é bem provável que ela leve também para casa a estatueta dourada de Melhor Atriz no Oscar 2012, a ser entregue no próximo dia 26.
Glenn Close e Viola Davis merecem o Oscar 2012 muito mais - mas afinal, Meryl Streep é Meryl Streep.
Filme ruim, com Streep no piloto automático.
Porém, do jeito que a atriz tem ganhado os prêmios da temporada, mais pelo conjunto da obra do que por merecimento por esse papel - e o urso de ouro entregue nessa semana em Berlim não me deixa mentir - é bem provável que ela leve também para casa a estatueta dourada de Melhor Atriz no Oscar 2012, a ser entregue no próximo dia 26.
Glenn Close e Viola Davis merecem o Oscar 2012 muito mais - mas afinal, Meryl Streep é Meryl Streep.
Confira o trailer do filme:
*****
"A DAMA DE FERRO"
Título original:
The Iron Lady
Diretora:
Phyllida Lloyd
Elenco:
Meryl Streep, Jim Broadbent, Anthony Head, Richard E. Grant, Roger Allam, Olivia Colman, Nick Dunning, Hugh Ross, David Westhead
Produção:
Damian Jones
Roteiro:
Abi Morgan
Fotografia:
Elliot Davis
Duração:
105 min.
Ano:
2011
País:
Reino Unido
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdio:
Pathé Cinéma/ Film4
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:
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