sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MURILLO ANTUNES ALVES, JORNALISTA DOS BONS!


Quando Murillo Antunes Alves começou no jornalismo, o rádio era, para muitos, um bicho de sete cabeças.

Em 1948, por exemplo, um ano após entrar para a rádio Record, o rapaz saído de Itapetininga, no interior de SP, entrevistou Monteiro Lobato.

E o que registrou, ali, foi o estranhamento do escritor ao falar para um "canudo que ouve" -assim a engenhoca conhecida como microfone pareceu aos olhos do autor de "Reinações de Narizinho".

"Eu estou falando, e dizem eles que um aparelho está gravando e [que] depois vai repetir ao público minhas bobagens", afirmou, desconfiado, o escritor, que morreria dias depois da entrevista,e que assim deu ao jovem Murillo a sua única entrevista gravada.

No rádio desde 1938, Murillo -que se formou em direito pela USP nos anos 1940 -era, até segunda-feira, um dos jornalistas mais antigos do país e o funcionário com mais tempo de casa na Record.

Da rádio, transferiu-se para a TV da empresa, no ano de sua inauguração, em 1953.

Nela, cobriu a vinda ao Brasil de Bill Halley e seus Cometas, o casamento do príncipe Charles, na Inglaterra, e o enterro de Tancredo Neves.

Ganhador de vários prêmios como radialista- Roquete Pinto, Esso, APETESP...- entrevistou ao longo da carreira políticos como Getulio Vargas, Adhemar de Barros e Jânio Quadros -do qual foi, anos depois, assessor de gabinete na Presidência.

Apresentou também, até o fim dos anos 1990, o "Record em Notícias", vulgo "jornal da tosse" devido a idade avançada de seus âncoras - mas que para mim era um delicioso prazer assistir, já que era um telejornal opinativo na hora do almoço!

Na mesma década, foi vereador em SP pelo PMDB e conseguiu ver aprovado seu projeto que obrigava o uso do cinto de segurança na capital.

Chegou ainda a ser o primeiro chefe do cerimonial da Assembleia Legislativa de SP, nos anos 1950, e exerceu o mesmo cargo no governo do Estado, nos anos 1970, e na Câmara Municipal de SP.

Era um apaixonado pela Record, aonde ia todos os dias, nem que fosse só para almoçar. E foi lá que eu o conheci: um homem refinado, de linda voz, inteligente ao extremo, e que muito me ensinou.

Com seu jeito de ser elegante e sincero, ficou amigo de todos na TV e soube atravessar tranquilamente as fases pelas quais a Record passou: a fase áurea da família Machado de Carvalho,a do ostracismo com Silvio Santos, e a atual volta por cima com a Igreja Universal, onde ficou amigo de todos os dirigentes - até o Bispo Edir Macedo sempre dizia que gostava muito dele, e parecia ser sincero quando dizia isso.

Além de um enorme arquivo em casa, deixou na lembranças dos amigos os trocadilhos que adorava fazer. Espero ansioso que alguém ou alguma biblioteca fique com esse acervo precioso, que conta muito da história da rádio e da TV paulistas.

Viúvo há cerca de dez anos, morreu na segunda, em SP, aos 90. Foi enterrado anteontem, em Alambari, na região de Itapetininga. Não resistiu após passar por uma cirurgia.

Deixa filho, netos e bisneto.

Murillo, obrigado por me fazer um cara antenado e inteligente na medida certa.

Murillo Antunes Alves - *1919 +2010

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