Na esteira do sucesso de longas com temática gay - como 'Tatuagem' e 'Hoje eu não Quero Voltar Sozinho', o documentário 'São Paulo em Hi-Fi', do diretor Lufe Steffen, mergulha fundo na cena gay paulistana para mostrar seus personagens, enfrentamentos, ganhos e perdas nas últimas três décadas.
Seus muitos protagonistas, que aparecem ou são citados na telona, passaram todos esses anos registrados no longa-metragem enfrentando inimigos cruéis, como a Ditadura Militar, a Aids e, principalmente, o preconceito.
O documentário desnuda a noite gay paulistana desde o surgimento das primeiras casas noturnas destinadas ao público homossexual - nos anos 60 - até o final da década de 80, quando o surgimento do HIV transformou a relação do ser humano com o sexo e fez muitas baixas na comunidade.
Imagem do documentário - reprodução |
O fio condutor que o diretor se vale para contar essa história é o surgimento de boates e clubes gays na cidade, relacionando a trajetória desse universo com o próprio movimento histórico do Brasil em pleno regime militar e do mundo, exibindo o contexto em que tudo aquilo aconteceu, devassando os costumes dos personagens da cena - explicando as estratégias dos homossexuais de São Paulo para driblar a Ditadura, seja em casas noturnas ou em locais de pegação - e também apresentando ao espectador seus personagens.
Como documentário, o diretor faz um registro clássico, com depoimentos, fotos e vídeos da época sendo intercalados numa estrutura que obedece a uma cronologia de acontecimentos.
A diferença aqui está na maneira como o documentário aborda e retrata seus personagens: travestis, atores transformistas, escritores, jornalistas, empresários - e muitos outros - falam abertamente sobre todos os aspectos da vida gay nessas três décadas, da militância ao sexo e são apresentados como heróis da resistência que ajudaram a construir um universo paralelo, muitas vezes invisível aos olhos da sociedade comum e que por isso mesmo foi essencial para sua própria sobrevivência.
Imagem do documentário - reprodução |
Os depoimentos escancaram o sexo fácil ou os cinemas de pegação e o filme não trata desses temas com descaso ou vergonha, mas como elementos essenciais para o exercício do desejo e a formação de uma consciência de classe.
Os relatos de aventuras e as histórias dos bastidores da noite são apresentados como pequenas vitórias pessoais de personagens que pareciam relegados a uma vida escondida e o documentário capta bem esse sentimento de libertação, que ganha força nas declarações da transformista Miss Miá e da travesti Kaká di Polly, cuja língua ferina e o despudor trazem detalhes da cena gay para uma espécie de mainstream universal.
Assim, o filme é muito mais histórico do que panfletário, entende e defende seus personagens e dialoga com todos.
Por tudo isso, é bem estranho que o documentário ainda não tenha encontrado espaço no circuito comercial brasileiro, mesmo numa época em que filmes com temática homossexual lotam salas de cinema semana a semana.
Imagem do documentário - reprodução |
Um registro tão sério e um filme de memórias tão memorável merece uma plateia muito mais ampla.
E por falarmos em 'amplo', o diretor tem uma obra muito mais extensa, que pode ser conferida no seu canal no YouTube.
Vale a pena conferir as próximas exibições do documentário:
26/04 – 19h
27/04 – 17h
29/04 – 19h
30/04 – 17h
No Cine Olido:
Endereço:
Avenida São João, 473 - Térreo ao 2º andar (ao lado da 'Galeria do Rock')
Telefones:
3331-8399 ou 3397-0171
01/05 – 17h
03/05 – 18h
Na Academia Paulista de Letras:
Endereço:
Largo do Arouche, 324 - República
Telefone:
(11) 3331-7222
Confira o trailer do documentário:
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'SÃO PAULO EM HI-FI'
Diretor:
Lufe Steffen
Roteiro:
Lufe Steffen
Edição:
José Motta, Lufe Steffen
Fotografia:
Thaisa Oliveira
Produção:
Lufe Steffen, Edu Lima
Gênero:
Documentário
Duração:
99 min.
Cotação do Klau:
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