quinta-feira, 3 de abril de 2014

'NOÉ': DESPERDÍCIO DE TEMPO, DINHEIRO, ELENCO - E DARREN ARONOFSKY COMEÇA A DESCER A LADEIRA


A história Bíblica de Noé é curta e qualquer cineasta que se propusesse a leva-la para as telonas teria de preencher lacunas.

Foi o que topou fazer o diretor Darren Aronofsky ('Cisne Negro'): apaixonado pelo texto desde a adolescência,  ele juntou-se ao produtor Ari Handel para transformar o conto bíblico na super produção  'Noé' - que estreia hoje em 611 salas em todo o Brasil, seis dias após a estreia americana.

Pena que o filme é longo, chato, cansativo, com um protagonista (Russell Crowe) no piloto automático e com elenco estelar absolutamente desperdiçado.

Está lá nos textos sagrados para judeus e cristãos que Deus decidiu eliminar a humanidade - porque se arrependeu de sua obra - e escolheu Noé, o último homem justo, para construir uma arca e salvar a ele, sua família e um casal de cada espécie animal, avisando que iria inundar tudo.

Mais: Deus, vejam vocês, deu uma de arquiteto e forneceu a Noé especificações técnicas sobre o tamanho da embarcação.

Russell Crowe é Noé - fotos dessa postagem: Divulgação/Paramount Pictures Brasil

Se o texto bíblico não entra em muitos detalhes, Aronofsky e Handel tiveram de tomar decisões e liberdades as mais diversas, algumas felizes, outras não.

Se o texto sagrado não conta como Noé construiu a arca sozinho ou com a ajuda de alguém além dos filhos, nem como foram os dias de convívio dele com milhares de animais dentro da embarcação, nem como os alimentou e impediu que não comessem uns aos outros - e isso mesmo supostamente tendo vivido séculos, pois quando a arca ficou pronta Noé tinha 600 anos - a dupla resolve o problema com uma solução tão absurda quando a da bíblia: 'transformers' de pedra, chamados de guardiões, são uma espécie de equipe de marceneiros de Noé, anjos amaldiçoados por Deus presos em corpos feito de rocha na Terra.

Absolutamente ninguém engole isso, principalmente quando, mais adiante, os guardiões são usados para botar ação na história, numa cena de batalha campal que retira o espectador de um épico bíblico e o joga num universo de ficção científica.

Jennifer Connelly como Noéma, mulher de Noé

Nesse momento, eu - que mesmo não tendo religião nenhuma sempre adorei aquele tom solene e épico que Cecil B. DeMille soube imprimir nos anos 40 e 50, em filmes como 'Os 10 Mandamentos' e 'Sansão e Dalila' me senti logrado, por ter comprado gato e estar lá, com cara de tonto, vendo lebre.

E por falarmos em animais: se a empatia que a fábula de Noé tem com o público sempre esteve relacionada com os animais - de todas as espécies, chegando aos pares para embarcar na arca - e se a cena está no filme, criada inteiramente por computação gráfica (o que irritou Russell Crowe, que os queria reais), é justamente aí que o filme tem seu melhor achado pois, como é difícil imaginar milhares de animais dentro uma embarcação à deriva sem alimentação e convivendo pacificamente, opta-se por mostrar que, embarcados, eles logo hibernam.

Uma ideia inteligente, mas que deixa no espectador a sensação de que os bichos mereceriam mais destaque.

Emma Watson como Ila, filha adotiva de Noé

Mas para um filme longo como esse, precisamos de mais encheção de linguiça e como a Bíblia não traz nenhuma descrição de como foi o dia-a-dia de Noé à deriva, Aronofsky e Logan tratam de desenvolver um conflito entre o patriarca e sua família: Jennifer Connelly como Noéma, sua mulher; Sir Anthony Hopkins como Matusalém, o avô; Emma Watson como Ila,  sua filha adotiva  - além de  Logan Lerman como Cam, Douglas Booth como Sem e Leo McHugh Carroll como Jafé , filhos de Noé.

Leo McHugh Carroll, Jennifer Connelly, Douglas Booth e Emma Watson em cena do longa

Essa situação poderia ter sido melhor aproveitada se propusesse uma reflexão sobre a decisão que Noé se vê impelido a tomar, mas o longa não explora o conflito interior do personagem, mas aposta no seu embate com a mulher, filhos e nora para, no final, vermos uma cena idiota e desprovida de emoção, envolvendo Noé e dois bebês, encerrando o conflito.

Sir Anthony Hopkins como Matusalém, o avô de Noé

A interpretação de Russell Crowe tampouco ajuda: o ator neozelandês faz aqui a sua pior performance na telona, disparado.

Quando finalmente o aguaceiro acaba e a arca encontra terra firme no topo do Monte Ararat, atual Síria, o espectador, absolutamente exausto após excessivos 134 minutos de projeção, finalmente tem certeza de que o filme está prestes a acabar, sem que tenhamos tido um único momento de mergulho emocional na história ou nos seus personagens - apesar de toda a água que vemos.

Um desperdício de dinheiro, de elenco e principalmente, do tempo de Darren Aronofsky: depois da maravilha que nos deu com 'Cisne Negro', parece agora que o diretor começa a descer a ladeira criativa, o que é uma pena.

Confira o trailer do longa:

*****
'NOÉ'
Título Original:
NOAH
Gênero:
Drama Épico
Direção:
Darren Aronofsky
Roteiro:
Ari Handel, Darren Aronofsky
Elenco:
Anne Bergstedt Jordanova, Sir Anthony Hopkins, Ariane Rinehart, Barry Sloane, Dakota Goyo, Douglas Booth, Emma Watson, Finn Wittrock, Frank Langella, Jennifer Connelly, Kevin Durand, Logan Lerman, Madison Davenport, Mark Margolis, Marton Csokas, Nick Nolte, Ray Winstone, Russell Crowe, Sami Gayle, Saoirse Ronan
Produção:
Darren Aronofsky, Mary Parent, Scott Franklin
Fotografia:
Matthew Libatique
Montador:
Andrew Weisblum
Trilha Sonora:
Clint Mansell
Duração:
137 min.
Ano:
2014
País:
Estados Unidos
Cor: 
Colorido
Estreia no Brasil:
03/04/2014
Distribuidora:
Paramount Pictures Brasil
Estúdio:
Disruption Entertainment / New Regency Pictures / Protozoa Pictures
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

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