sábado, 26 de junho de 2010

OS SATYROS ESTÃO DE LUTO, ALBERTO GUZIK FALECEU

Lendo as mensagens do Twitter agora, e o Marcelo Tas me diz que o Alberto Guzik morreu.

Crítico de teatro dos bons, em certo momento de vida resolveu mudar de lado, dar a cara pra bater.

Virou dramaturgo e um ótimo ator, adotado pelo Teatro dos Satyros.

Os momentos felizes que passei contigo, os livros trocados, as noitadas de troca intensa de cultura, informação e amizade, ficarão pra sempre.

Meu amigo, só posso te dizer - e te desejar - sorte nessa sua nova jornada, astral, leve e bela.

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Abaixo, reproduzo a página dos Satyros de hoje, toda dedicada a Alberto Guzik:

OS SATYROS ESTÃO DE LUTO, ALBERTO GUZIK FALECEU
Alberto Guzik, 66, jornalista, ator, diretor, escritor, integrante da Cia. e amigo, acaba de nos deixar. Alberto se afastou dos palcos no dia 02 de fevereiro para iniciar uma batalha contra um cancêr. Nos últimos meses lutou com todas as forças contra a doença e às 10h00 de sábado, 26 de junho, faleceu.

Como sempre, envolvido em inúmeros projetos, Guzik estava desde o segundo semestre do ano passado acompanhando o processo de "Roberto Zucco", nova montagem dos Satyros que integraria o elenco. Seu último trabalho no grupo foi "O Monólogo da Velha Apresentadora", de Marcelo Mirisola.

Conforme seu último texto no blog "Os Dias e As Horas": Dionisos me acompanha na viagem, além de ótimos amigos e do amor de muita gente. Evoé". Evoé, Alberto!

Para aqueles que quiserem se despedir de Aberto Guzik haverá uma cerimônia às 16h30 no:
Crematório Dr. Jayme Augusto Lopes - Vila Alpina
Avenida Francisco Falconi, 437
Vila Alpina - São Paulo - SP
CEP 03227-000
Fone: (11) 2345-5937


ÚLTIMAS PALAVRAS

Os Dias e as Horas - Blog do Alberto Guzik


neste amanhecer
15/02/2010 (Escrito por alberto guzik às 07h02)

neste deslumbrante amanhecer, em plena segunda-feira de carnaval, embarco em minha viagem rumo à travessia do rio letes e à descida para o hades. quando voltar, relatarei o que vi e vivi. o hades não é um reino fácil de se visitar. ninguém retorna de lá sem estar transformado. sei disso. e prometo partilhar com os leitores destes dias e destas horas aquilo que vou vivenciar.
dionisos me acompanha na viagem, além de ótimos amigos e do amor de muita gente. evoé.


recado
15/02/2010 (Escrito por alberto guzik às 06h58)

não posso me afastar deste espaço sem deixar uma palavra para todos os diretores, arte-educadores, colaboradores e artistas aprendizes da sp escola de teatro - centro de formação das artes do palco. estamos no limiar da transformação do sonho em realidade. e se a realidade for áspera, como muitas vezes é, não se esqueçam jamais, de que as raizes dela estão no sonho. no sonho de construir a melhor escola de teatro que este país ja teve. uma escola tão boa, tão ampla, tão aventureira, que possa nos ajudar a mudar também este país, que anda tão precisado de sonhos. meus queridos. não estou fisicamente com vocês aí, agora, mas estou por inteiro aí, também. tenham a certeza disso. e nunca, nunca esqueçam que este projeto nasceu de um sonho, e de que é pelo sonho que tem de ser alimentado. viva a sp escola de teatro. lembrem-se de que somos todos servidores de dionisos. evoé!

a solução do enigma
14/02/2010 (Escrito por alberto guzik às 19h47)

devo uma explicação aos meus leitores sobre os enigmas que semeei no blog ao longo das últimas seis semanas. muitos já mataram a charada. outros ainda não. explico então. vou ser amanhã submetido a uma cirurgia do aparelho digestivo. uma cirurgia de porte, pelo que me explicou o médico que fará a operação. ficarei alguns dias, ou algumas semanas, distante deste espaço. podem ter certeza de que vou sentir muita muita falta destes meus dias e destas minhas horas. mas são aquelas esquinas da vida que não podemos nem temos como evitar. sempre tive uma saúde ótima, fora uma coisinha aqui, outra ali, nada de muito relevante. mas eis que de repente vi-me surpreendido por uma doença que requer cirurgia. e que exige um período razoávelmente extenso de recuperação. certamente quando voltar a escrever aqui, vou ter muitas novidades a contar. serão aventuras de outro tipo, não artísticas, nem por isso menos essenciais. bem ao contrário. peço aos meus leitores a paciência necessária. aguardem o tempo de maturação que será necessário para que eu saia do casulo em que vou entrar amanhã. ou, para usar a imagem que empreguei muito há algumas semanas, que aguardem o fim da minha travessia (de ida e volta) do rio letes, e também o término de minha viagem ao reino de hades. estou muito cercado de afeto, de amor, de boas energias, de bons fluidos. com muita luz em meu espírito eu me despeço temporariamente de todos vocês, desejando que, enquanto eu estiver longe, a vida de todos floresça do mais belo e prazeroso e frutífero dos modos. dionisos será meu guia nessa viagem, que nada terá de teatral, mas será profundamente vital. evoé!!!

A TRAJETÓRIA DE ALBERTO GUZIK


Nascido em São Paulo, em 1944, Alberto Guzik estreia no teatro aos cinco anos, em "Peter Pan", no Teatro Escola São Paulo, dirigido por Tatiana Belinki e Júlio Gouvêa.

Atua no teatro amador até ser admitido, em 1964, como
aluno de Interpretação na Escola de Arte Dramática (EAD), dirigida por Alfredo Mesquita. Conclui o curso em 1966 e, um ano depois, forma-se em Direito pela Universidade Mackenzie. Titula-se Mestre em Teatro, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1982, com um estudo sobre o Teatro Brasileiro de Comédia, orientado por Sábato Magaldi.

Em 1967, encena sua primeira montagem profissional: "O Café", de Mário de Andrade. Logo após,
inicia sua carreira pedagógica no Departamento de Teatro da ECA e na EAD, onde, além de lecionar, de 1968 a 1980, dirige os espetáculos "A Centelha", biografia do maestro e dramaturgo Abdon Milanez, "Antígona", de Sófocles, e "As Feiticeiras de Salém", de Arthur Miller.

Envereda pelo campo da reflexão e da produção intelectual a partir de 1971, momento em que passa a escrever críticas teatrais para os jornais Shopping News e Última Hora e para as revistas Senhor, Vogue e IstoÉ. Em 1984, por indicação de Sábato Magaldi, é
convidado a ingressar no Jornal da Tarde como crítico colaborador. Torna-se crítico efetivo do JT em 1989, mesmo ano em que é incorporado à equipe de reportagem, onde permanece até junho de 2001, atuando como crítico teatral e repórter especial.

No mesmo período,
escreve para o Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo, colabora com a Revista Bravo!, o jornal Valor Econômico, o site Aplauso Brasil e outras publicações, e ainda participa do programa Metrópolis, da TV Cultura, como comentarista teatral.

Além de sua extensa produção jornalística, Alberto também integra a equipe de curadores do Festival de Teatro de Curitiba em sua primeira edição, em 1992, participando de outras 10 edições do evento.

Expande seu campo de ação para além do jornalismo e, como dramaturgo, escreve “Um Deus Cruel”, montagem encenada por Alexandre Stockler, em 1997, estreada em Curitiba e indicada ao Prêmio Shell.

Na sequência, assina tradução e dramaturgia de “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht. O espetáculo, dirigido por Sérgio Ferrara e protagonizado por Maria Alice Vergueiro, estreou no Festival de Curitiba, em 2002.

Em junho do mesmo ano, dentro da Mostra de Dramaturgia do Sesi, estreia novo biografia de sua autoria, “Errado”, dirigido por Sérgio Ferrara, com Renato Borghi à frente do elenco.

Depois de quase 40 anos sem pisar no palco, em agosto de 2003, retoma sua carreira de ator. O retorno se dá com a peça “O Horário de Visita”, de Sérgio Roveri, com direção de Ruy Cortez, no Teatro do Centro da Terra.

2004 foi um ano de intensa atividade para Guzik. A data marca sua entrada na Cia. de Teatro Os Satyros, integrando o elenco de "Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de sua Casca de Noz", encenada no Espaço dos Satyros Um, na Praça Roosevelt.

Em maio do mesmo ano,
dirige, também no Satyros, "O Encontro das Águas", de Sérgio Roveri, com José Roberto Jardim e Pedro Henrique Moutinho. Dois meses depois, outra direção, dessa vez em parceria com Wilma de Souza: "A Voz do Povo é a Voz de Zé", de Marcelino Freire com Olívia Araújo e Fabrício Gareli, encenada no Avenida Club. E, em setembro, novamente como ator, divide o palco com Ivam Cabral e elenco de "Transex", de Rodolfo García Vázquez.

Em seguida,
participa do premiado espetáculo "A Vida na Praça Roosevelt", de Dea Loher, e dirige "O Céu É Cheio de Fúria dos Uivos e Latidos dos Cães da Praça Roosevelt", de Jarbas Capusso Filho, e "De Alma Lavada", de Sérgio Roveri.

Seus próximos trabalhos como ator são:
"Inocência" (2006) e "Divinas Palavras" (2007), "Vestido de Noiva" e "Liz" (2008), todos sob direção de Rodolfo García Vázquez. E, em 2009, se aventura em um solo: "Monólogo da Velha Apresentadora".


(Seu último trabalho como ator)


Sua carreira como ator, porém não se restringe ao teatro. Guzik também flerta com a televisão. Entre 2007 e 2009, participa dos teleteatros "O Vento nas Janelas" e "A Noiva" e da minissérie "Além do Horizonte", todos produzidos e exibidos pela TV Cultura.

Sua trajetória artística se completa com sua obra literária, tão múltipla quanto seus talentos. Além de “Risco de Vida”, romance publicado pela Editora Globo, em 1995, e indicado ao Prêmio Jabuti, escreve o ensaio “TBC: Crônica de um Sonho”, lançado pela Editora Perspectiva, em 1986, e “Paulo Autran/Um Homem no Palco”, da Editora Boitempo, em 1998, vencedor do Prêmio Jabuti de livro-reportagem. Em junho de 2002, lança, pela Editora Iluminuras, seu primeiro livro de contos, “O Que É Ser Rio, e Correr?”.

Conclui para a Coleção Aplauso os livros "Cia. de Teatro Os Satyros – um Palco Visceral" (2006),"Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra” (2009) e “O Teatro de Alberto Guzik” (2009), com quatro peças de sua autoria: “Um Deus Cruel”, “Cansei de Tomar Fanta”, “Errado” e “Na Noite da Praça”.

Em 2009, dois novos projetos: trabalha em uma nova obra de ficção, “Um Palco Iluminado”, romance ainda inédito que enfoca a vida de uma companhia teatral em São Paulo entre as décadas de 1960 e 1990, e assume a Direção Pedagógica da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, Instituição que ajudou a criar.

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