quinta-feira, 24 de junho de 2010

A CABEÇA DO DR. HOUSE, VISTA POR DENTRO

Que o Dr. Gregory House não é um cara normal, todo mundo - todo o mundo mesmo, já que a série é a mais vista no mundo atualmente - já sabe.

Mas eu nunca tinha visto um artigo tão bem escrito sofre a personalidade dúbia e complexa da personagem interpretada magnificamente pelo ator inglês Hugh Laurie.

Esse artigo do Dr. Eduardo J. S. Honorato, do site Cinematerapia, explica muito.

Leia:

Foto: AP
Hugh Laurie, o " Dr.House" da série de TV mais vista no mundo atualmente

*****
"HOUSE" USA E ABUSA DE MECANISMOS
DE DEFESA

Personagens de novela, seriados e filmes acabam por se tornarem amigos íntimos daqueles que os acompanham. Adentramos suas vidas, e suas mentes, em um empolgante enredo, que nos leva a uma montanha russa de emoções. Emoções estas que chegam ao seu ápice no final de uma trama ou enredo, deixando saudades.

Nada nos impede então, de brincarmos de entender um pouco de seus comportamentos, COMO SE fossem pacientes. Claro que eticamente isso seria impossível, mas em ficção, pode-se de tudo um pouco.

O seriado "House" é um dos mais assistidos do mundo e tirou o ator Hugh Laurie das comédias e o trouxe para o drama, que já passa dos seis anos de exibição. É um dos mais assistidos e admirados pelo mundo, tanto pelas personagens, quanto pelas características peculiares, e às vezes anti-éticas, das decisões médicas tomadas.

Dr. House é basicamente um médico arrogante, prepotente, infantil e muitos outros adjetivos nada positivos. Talvez o mais óbvio seja sarcástico! Difícil encontrar definição que o favoreça, mas mesmo assim é amado por milhões de telespectadores. O herói que é anti-herói. O seriado do mocinho que não é perfeito. A quebra desse imaculado médico dono do saber, faz House mais humano e mais próximo de nós.

Por problemas médicos, nosso amigo é um dependente de Vicodin, um remédio para dor. Passa anos e anos abusando da substância e esta já faz parte de sua personalidade. Muito se questionou, ao longo das temporadas, se ele teria os mesmos comportamentos caso não tivesse se tornado dependente.
Porque House é assim? Tem prazer em ser insuportável?

Todos essas maneiras de responder às situações são o que chamamos de mecanismos de defesa do ego. Maneiras inconscientes que utilizamos para nos proteger de questões que podem nos trazer sofrimento psíquico. House as usa e abusa mas, com o tempo, nem mesmo as defesas mais estruturadas conseguem manter a sanidade mental de nosso amigo e aí temos o colapso.

Nessa hora as máscaras caem e nosso protagonista é literalmente descascado por um psicoterapeuta. No sentido mais "cebola" proposto por Freud, através das associações, interpretações e esclarecimentos, conseguimos entender um pouco mais da dinâmica desse personagem tão irritante e apaixonante ao mesmo tempo.

Debaixo de tanto sarcasmo existe um menininho indefeso, inseguro e implorando por atenção e afeto. Menininho que aprendeu com os anos a morder, chutar e agredir todos aqueles que pudessem, de alguma maneira, lhe fazer mal. Agride para ver até onde pode ir. Agride para ver se aqueles que estão próximos irão abandoná-lo. Seus relacionamentos são sempre testes, e aqueles que fugirem ou recuarem com seus primeiros ataques, não merecem investimentos.

É mesmo uma tática de guerra. Suas relações objetais (com pessoas, trabalho, pacientes etc) são batalhas constantes, na defesa de um ego frágil, fraco, mas que possuí um arsenal de mecanismos. Alguns mais saudáveis que outros, e seu sarcasmo é o principal.

Ele não é diferente de todos nós. Cada um com suas armas e momentos propícios para utilizá-las. Talvez essa ambiguidade de malvado menino é que faça com que milhões se apaixonem por esse personagem tão controverso que, como tantos outros, deixou seu nome gravado na história dos seriados americanos.
E você, sabe o que esconde com suas defesas?

*****
"House" / House, M.D.
Quintas, 23h, no Universal Channel (legendado)
Quintas, 0h15, na Record (dublado)

Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, pós-graduado em saúde da família (UFSC) e docência superior (UGF), é perito em avaliação de trânsito e doutorando em saúde pública (Fiocruz).
Atua em consultório particular e docência em Manaus (AM).
www.cinematerapia.psc.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário