"Fica gritante o crescente desprestígio da atividade política nesse país, e as ferramentas de sempre, como comícios, discursos, idéias e planos de governo já não atraem, nem convencem".
Pessoal:
Como diria aquela bichitta da novela das sete: "Eu tô rosa cliclete com a cara de pau dos candidatos a presidente, quando o assunto é religião"!
Não tem um dia em que não somos bombardeados por um mar de hóstias, nossos ouvidos sofrem com os decibéis a mais dos crentes, e nossas roupas e cabelos acabam irremediavalmente cheirando a defumação de preto véio.
E a cena é sempre a mesma: o candidato - ou candidata - abaixa a cabeça para ser abençoado pelo padre, pelo pastor, pelo babalaô -e segue, sorridente e exorcizado, para seu próximo compromisso de campanha.
Uma passeata gay, quem sabe; um evento pela diminuição da carga tributária, porquê isso dá voto; ou um encontro com profissionais da saúde pública, talvez.
Nesse trajeto todo, questões que os eleitores - ah, esses chatos estão por todo lugar! - querem saber como o candidato - ou candidata - pensa, como o aborto, liberdades civis, casamento gay serão lembradas.
Como antes foi bater cabeça num templo qualquer, o candidato que comunga, bate no peito, grita feito louco ou bebe a pinga do preto véio se acha no direito de calçar as sandálias da humildade, para lépido e fagueiro, arrastá-las dias depois, num forró em Pernambuco ou numa escola de samba carioca.
Políticos brasileiros, tão versáteis assim, até que demonstram ser num primeiro momento candidatos de vanguarda, já que essa peregrinação acentua o espírito de tolerância e ecumenismo que tem sido um dos patrimônios mais importantes da cultura brasileira.
Só que, na medida em que as eleições se aproximam - e os candidatos multiplicam suas peregrinações a locais de culto - vão ficando visíveis os sinais de um processo mais complexo e, entendo eu, muito preocupante.
Em primeiro lugar, fica gritante o crescente desprestígio da atividade política nesse país, e as ferramentas de sempre, como comícios, discursos, idéias e planos de governo já não atraem, nem convencem.
Até a pouquíssimo tempo, suas excelências ainda tinham o recurso do "showmício" pra usar.
O candidato subia no palanque já abraçado a uma dupla sertaneja ou alguma rainha do axé, acenava para a multidão, e, em caso de indiferença, a aparelhagem de som estava pronta a propagar, em milhões de decibéis, o entusiasmo no coração dos cidadãos.
Proibidos pela legislação, os showmícios retornam agora, pela porta da sacristia, dos pastores milionários - que desgraçadamente continuam a comprar horários em todos os canais de TV - debaixo desse ou daquele orixá.
Como os eventos musicais não podem mais ser aliciados para o marketing eleitoral, outro tipo de marketing -o religioso- serve para dar aos candidatos o palanque - e a plateia dócil - de que eles tanto precisam.
Só que, como em política tudo tem um preço, é aqui que entra a putaria dessa questão.
Assim como a busca por mais espaço no horário gratuito da TV leva os candidatos a um suingue de alianças partidárias, a esperança de fazer do altar um palanque, e dos templos, currais eleitorais, lá vamos, todos nós, sermos submetidos, mesmo sem querermos,aos tentáculos cada vez maiores da máfia religiosa, e aos interesses inconfessáveis que a ela se associam.
Com tudo isso, na minha cabeça, começam a pipocar perguntas que não querem calar:
- Que política terá o candidato sobre as concessões de rádio e TV?
- Aceitará manter as isenções fiscais que os cultos de todo tipo usufruem?
- Com que tipo de preconceitos compactua, quando se submete à romaria?
A candidata do PV, Marina Silva, ao menos tem sido clara em suas atitudes: se declara evangélica, e perde ou ganha votos com isso.
Já se confundiu sobre a questão do ensino do criacionismo nas escolas, é contra o casamento gay, e avisou aos interessados que não participaria da Parada Gay de ontem na avenida Paulista.
Eu respeito suas posições.
Mas quando descobri que a seita dela é a Assembléia de Deus, a mesma seita do tal Silas Salafrária, quero dizer, Malafaia, que passa sete dias por semana berrando nas madrugadas da Band que gays "são impuros, sujos e que deveriam todos morrer", é a religião, no que tem de mais medievalesco e de moroso, falando mais alto do que a modernidade republicana deve ser.
O meu voto, ela já perdeu.
Quanto a Serra Nomuro e Dona Dilma , a religião não fala, mas, em troca de votos, ficam no que os católicos chamam de "silêncio Obsequioso".
Os dois subvertem seus DNAs políticos, desconversam, dizem amém a tudo e a todos, e oferecem, a quem quiser acreditar, lógico, um triste espetáculo de passos pra trás, de coisa que cheira a velhice, a naftalina.
Tudo por um punhado de votos a mais.
Seja esperto, não caia nessa!
Veja - e ouça! - essa coluna, já postada no YouTube:
Pessoal:
Como diria aquela bichitta da novela das sete: "Eu tô rosa cliclete com a cara de pau dos candidatos a presidente, quando o assunto é religião"!
Não tem um dia em que não somos bombardeados por um mar de hóstias, nossos ouvidos sofrem com os decibéis a mais dos crentes, e nossas roupas e cabelos acabam irremediavalmente cheirando a defumação de preto véio.
E a cena é sempre a mesma: o candidato - ou candidata - abaixa a cabeça para ser abençoado pelo padre, pelo pastor, pelo babalaô -e segue, sorridente e exorcizado, para seu próximo compromisso de campanha.
Uma passeata gay, quem sabe; um evento pela diminuição da carga tributária, porquê isso dá voto; ou um encontro com profissionais da saúde pública, talvez.
Nesse trajeto todo, questões que os eleitores - ah, esses chatos estão por todo lugar! - querem saber como o candidato - ou candidata - pensa, como o aborto, liberdades civis, casamento gay serão lembradas.
Como antes foi bater cabeça num templo qualquer, o candidato que comunga, bate no peito, grita feito louco ou bebe a pinga do preto véio se acha no direito de calçar as sandálias da humildade, para lépido e fagueiro, arrastá-las dias depois, num forró em Pernambuco ou numa escola de samba carioca.
Políticos brasileiros, tão versáteis assim, até que demonstram ser num primeiro momento candidatos de vanguarda, já que essa peregrinação acentua o espírito de tolerância e ecumenismo que tem sido um dos patrimônios mais importantes da cultura brasileira.
Só que, na medida em que as eleições se aproximam - e os candidatos multiplicam suas peregrinações a locais de culto - vão ficando visíveis os sinais de um processo mais complexo e, entendo eu, muito preocupante.
Em primeiro lugar, fica gritante o crescente desprestígio da atividade política nesse país, e as ferramentas de sempre, como comícios, discursos, idéias e planos de governo já não atraem, nem convencem.
Até a pouquíssimo tempo, suas excelências ainda tinham o recurso do "showmício" pra usar.
O candidato subia no palanque já abraçado a uma dupla sertaneja ou alguma rainha do axé, acenava para a multidão, e, em caso de indiferença, a aparelhagem de som estava pronta a propagar, em milhões de decibéis, o entusiasmo no coração dos cidadãos.
Proibidos pela legislação, os showmícios retornam agora, pela porta da sacristia, dos pastores milionários - que desgraçadamente continuam a comprar horários em todos os canais de TV - debaixo desse ou daquele orixá.
Como os eventos musicais não podem mais ser aliciados para o marketing eleitoral, outro tipo de marketing -o religioso- serve para dar aos candidatos o palanque - e a plateia dócil - de que eles tanto precisam.
Só que, como em política tudo tem um preço, é aqui que entra a putaria dessa questão.
Assim como a busca por mais espaço no horário gratuito da TV leva os candidatos a um suingue de alianças partidárias, a esperança de fazer do altar um palanque, e dos templos, currais eleitorais, lá vamos, todos nós, sermos submetidos, mesmo sem querermos,aos tentáculos cada vez maiores da máfia religiosa, e aos interesses inconfessáveis que a ela se associam.
Com tudo isso, na minha cabeça, começam a pipocar perguntas que não querem calar:
- Que política terá o candidato sobre as concessões de rádio e TV?
- Aceitará manter as isenções fiscais que os cultos de todo tipo usufruem?
- Com que tipo de preconceitos compactua, quando se submete à romaria?
A candidata do PV, Marina Silva, ao menos tem sido clara em suas atitudes: se declara evangélica, e perde ou ganha votos com isso.
Já se confundiu sobre a questão do ensino do criacionismo nas escolas, é contra o casamento gay, e avisou aos interessados que não participaria da Parada Gay de ontem na avenida Paulista.
Eu respeito suas posições.
Mas quando descobri que a seita dela é a Assembléia de Deus, a mesma seita do tal Silas Salafrária, quero dizer, Malafaia, que passa sete dias por semana berrando nas madrugadas da Band que gays "são impuros, sujos e que deveriam todos morrer", é a religião, no que tem de mais medievalesco e de moroso, falando mais alto do que a modernidade republicana deve ser.
O meu voto, ela já perdeu.
Quanto a Serra Nomuro e Dona Dilma , a religião não fala, mas, em troca de votos, ficam no que os católicos chamam de "silêncio Obsequioso".
Os dois subvertem seus DNAs políticos, desconversam, dizem amém a tudo e a todos, e oferecem, a quem quiser acreditar, lógico, um triste espetáculo de passos pra trás, de coisa que cheira a velhice, a naftalina.
Tudo por um punhado de votos a mais.
Seja esperto, não caia nessa!
Veja - e ouça! - essa coluna, já postada no YouTube:
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