terça-feira, 1 de junho de 2010

CID MOREIRA TEM CARREIRA RETRATADA NO LIVRO "BOA NOITE"

Oitenta e dois anos de vida, 64 de carreira e 27 dedicados ao "Jornal Nacional". A soma pessoal e profissional faz parte do currículo de uma das vozes mais conhecidas do país, Cid Moreira.

Divulgação
No livro, Cid Moreira conta sobre seu primeiro dia na bancada do "JN", histórias curiosas dos bastidores e transformações do telejornal

No livro "Boa Noite" - Editora Prum - Fatima Sampaio Moreira - jornalista e mulher do locutor narra a sua vida profissional, para mostrar como o menino nascido e criado na cidade de Taubaté/SP, que era chamado de "caolho", e que chegou a colocar fogo em uma cadeira na cozinha por odiar que estranhos visitassem sua casa, tornou-se uma das personalidades mais conhecidas do horário nobre da televisão brasileira por quase três décadas.

O casal se conheceu em 3 de novembro de 2000, durante um torneio de tênis no hotel Marina Park, de Fortaleza.
A pauta da então repórter Fatima era acompanhar o desempenho de Cid, um dos participantes .
Hoje, ela é assessora de imprensa do marido e o auxilia nos textos e gravações de seu trabalho com a Bíblia.

Em entrevista - veja abaixo - Fatima e Cid contaram sobre os bastidores, tanto do livro quanto do "Jornal Nacional".
Da infância em Taubaté à bancada do "JN", o livro permite com que o leitor conheça a história da comunicação brasileira por meio da trajetória profissional do jornalista.

Fatima conta que levou dois anos para escrever o livro, e se mostra surpresa e também decepçionada com relação à desproporção entre habitantes e leitores no Brasil.
Disse ainda que após ter finalizado "Boa Noite", Cid contou que apresentou um noticiário tragicômico com Nair Belo!
Ficou brava pela omissão da informação, mas já avisa: essa história saborosa entrará na segunda edição do exemplar.
Por sua vez, Cid fala que durante a ditadura narrava textos inconsistentes e que isso chegava a ser ridículo.
Contou ainda como surgiu a oportunidade de narrar os textos bíblicos, a ansiedade com o fato das pessoas de um lado do país virem seus conterrâneos e obterem informação simultânea pelo telejornal, e o incentivo da leitura dado pelo pai, entre outros assuntos.

*****
O livro é muito bom.
Bem escrito, conta detalhes saborosos da carreira de uma das vozes mais bonitas do Brasil, e bastidores do principal telejornal do país, o "Jornal Nacional".
Eu recomendo ser lido depois da leitura de "JN - Modo de Fazer", do atual apresentador e editor chefe do "JN", William Bonner.
Muitas coisas que Cid só intui, Bonner explica.
Assim, as duas obras de completam.
É uma diversão garantida, de ser lida de uma só vez, porque você não consegue esperar pra depois.

Livro: "Boa Noite"
Autora: Fátima Sampaio Moreira
Editora: Prumo, 2010
Quanto: R$ 31,92, na Livraria da Folha

Cotação do Klau:
*****
E eu quero aqui contar uma história minha com o Cid Moreira:
Em 1989, eu trabalhava num consórcio de caminhão, e fui visitar um cliente de Taubaté, cidade muito legal às margens da Via Dutra, no Vale do paraíba/SP, para fazer o cadastro dele - o cliente tinha acabado de ser contemplado.
Dia de calor infernal, no meio da tarde, cliente já visitado, entrei num bar para tomar o meu guaraná estupidamente gelado.
No balcão, já degustando o refri geladíssimo, ouvi ao fundo uma voz conhecida, vinda de uma das mesas do bar: era o Cid Moreira, de camiseta, bermuda e chinelo havaiana, jogando truco!
Pensei que estivesse zureta: O QUE É QUE O CID MOREIRA, APRESENTADOR DO "JN" FAZIA NUM BUTECO DE TAUBATÉ, AINDA POR CIMA JOGANDO TRUCO?
O dono do bar, então, me explicou: Cid estava no seu primeiro dia de férias, passava uns dias na casa dos pais em Taubaté, sua cidade natal, e aproveitava aquela tarde para tomar cerveja e reencontrar seus amigos.
Cid ouviu o que o dono do bar me falou. Levantou-se da mesa, veio até o balcão e me disse simpáticamente que, sempre que ia à cidade, as pessoas que não sabiam que ele era taubatense estranhavam, como eu.
Pena que, naquela época, não tinha um celular com câmera por perto...

*****

Abaixo, as entrevistas com Fatima e Cid:

Pergunta: Você disse que uma tiragem de 12 mil exemplares do seu livro é desproporcional em um país com milhões de habitantes. Gostaria que você falasse sobre essa relação.
Fatima: Essa é minha primeira experiência no mercado editorial. Sinceramente, eu achava que um autor começasse com uma primeira tiragem de 100 mil exemplares [risos]. Pensava assim por causa dos mais de 170 milhões de habitantes no país. Quando soube que 10 mil era um número muito bom, fiquei chocada. Que triste. Não existe melhor índice que esse para medir nosso atraso.

Divulgação
Fatima e Cid se conheceram durante um torneio de tênis no hotel Marina Park, de Fortaleza, em 2000

Pergunta: O país tem mais telespectadores ou leitores?
Fatima: Com certeza mais telespectadores. Deve ser mais simples engolir tudo aquilo que se vê e ouve do que raciocinar para ler.

Pergunta: Quais informações ficaram de fora na edição final?
Fatima: As que ele não me contou e só se lembrou depois do livro pronto. Como, por exemplo, ele me falou que fez um jornal, ao vivo, junto com a Nair Belo. Uma pena. Ele lia a notícia seriamente e ela satirizava ou ironizava. Pode imaginar? Vou falar a respeito na segunda edição.

Pergunta: "Boa Noite" conta sobre a vida profissional e não pessoal de Cid. Foi difícil, em alguns momentos, não mesclar os dados relatados e separá-los?
Fatima: Não, não senti isso. O leitor é que vai poder me dizer se sente essa lacuna. A vida profissional dele é muito rica e dá um livro.

Pergunta: Como hierarquizou as informações e até a apuração para escrever?
Fatima: Minha maior fonte foi o próprio Cid. Eu deixei os textos seguindo mais ou menos como se fosse uma conversa com o leitor e com o Cid. Fluindo entre o passado e o presente, sem muita preocupação em fazer algo cronológico, numa sequência aritmética. Quando a gente conversa, tanto o passado quanto o presente e as divagações entre os dois tempos se confundem.

Pergunta: Pretende escrever outro volume sobre a vida pessoal de Cid?
Fatima: Não. Eu não pretendo escrever outros livros. Essa foi uma boa experiência. Talvez numa segunda edição acrescentar umas e outras coisas, corrigir ali e aqui, mas quero seguir minha vida de forma simples, fazendo o que eu fazia antes.

Pergunta: Qual capítulo do livro lhe deu mais prazer em apurar/escrever?
Fatima: Gostei muito do primeiro. Tentar passar para o leitor como era a infância de Cid e as circunstâncias em que ele vivia me deu prazer. Achei legal também falar dessa fase bíblica. Gosto de apresentá-lo como um cristão que não precisa necessariamente ter aquele estereótipo, e mesmo assim é um bom cristão. Ele toma vinhos, vai a shows, se diverte, joga baralho e tênis, comete enganos etc, mas procura entender o que essa Bíblia está querendo realmente dizer nas entrelinhas. Jesus falava muito de forma simbólica, por isso tocou a tantas pessoas, pois lidava diretamente com o inconsciente delas.

*****
Pergunta: Em 27 anos de "Jornal Nacional", teve algum fato que você se negou a narrar, porque o comoveu ou o revoltou?

Divulgação
"As notícias que chamam a atenção não são as melhores de se narrar"

Cid Moreira: Vontade de me negar não faltava. Na época da ditadura, por exemplo, textos inconsistentes. Chegava a ser ridículo. Mas, todos trabalhavam tristes e sob pressão, angustiados com o censor na sala ao lado.

Pergunta: Qual foi a melhor informação que você teve o prazer de passar para o telespectador ou ouvinte de rádio?
Cid: Completando a resposta anterior, acredito que as Diretas Já. Esse foi um momento de total satisfação.

Pergunta: Você se sente mais à vontade diante das câmeras ou dos microfones [no rádio]?
Cid: Os dois têm o mesmo efeito para mim.

Pergunta: No primeiro dia na bancada do JN, suas expectativas foram superadas ou minimizadas diante da TV?
Cid: Eu trabalhava uns meses antes no "Jornal da Globo", e quando fui para o lançamento do JN, o que causava ansiedade era o fato das pessoas de um lado do país estarem vendo seus conterrâneos e sabendo fatos aos mesmo tempo que eles, e o locutor sendo visto por todo um país. Para a gente da bancada, não era possível sentir o impacto no trabalho. Só nas ruas, fora dos estúdios, que o assédio foi se tornando maior. Sempre levei tudo muito a sério, seja no rádio, nas locuções ao vivo em teatros ou na TV.
NOTA DO KLAU: O "Jornal Nacional" foi o primeiro telejornal em rede nacional da TV brasileira

Pergunta: Como surgiu a oportunidade para narrar a Bíblia?
Cid: Apareceu quando meu projeto recebeu o aval da Sociedade Bíblica Brasileira, que autorizou o uso da versão da Bíblia na linguagem de hoje.

Pergunta: Enquanto apresentava o JN, teve momentos nos quais gostaria de ser apenas o telespectador e não o apresentador? Poderia descrever um deles?
Cid: Muitas vezes. Quase sempre as notícias que chamam a atenção não são as melhores notícias de se narrar. Imagina narrar a brutalidade com que o jornalista Tim Lopes foi morto?

Pergunta: Você afirmou "como era possível ter vida inteligente antes da internet". Gostaria de saber em quais meios procurava "vida inteligente" antes da aparição da rede: livros, filmes, entre outros?
Cid: Eu li muito desde a minha infância. Para minha sorte, meu pai trabalhou de bibliotecário na escola estadual em que eu estudava. Por esse motivo, ele me incentivava e me ensinou o amor pelos livros logo cedo. Levava livros semanalmente para mim. Eu tinha que ler e devolver impecável. As rádios também tinham uma programação de alto nível, com músicas clássicas etc.

Nenhum comentário:

Postar um comentário