Queria comentar aqui com vocês a reação das pessoas - principalmente na net - ao que aconteceu com a cantora Rita Lee em Aracaju, no último final de semana.
A esmagadora maioria dos comentários que vi são contrários à cantora, onde Rita é chamada de criminosa e incitadora à desordem pública, e comparada até mesmo a assassinos e pedófilos.
Fiquei a-pa-vo-ra-do!
Para um senhor - às vezes senhora - já entrada em anos como eu, essa enxurrada de enchovalhações à pessoa de Rita é - mais um - sinal de como nossa população ficou mais careta nos últimos anos - e não só o povo, mas a cultura brasileira se tornou mais conservadora, mais tradicional, muito menos transgressora da época em que eu era jovem.
Isso começou no mundo com os Bush - pai e filho - no poder nos EUA, e posso aqui apontar várias causas para esta virada conservadora no Brasil: o crescimento da classe C, a partir do plano Real; a praga das igrejas, notadamente as evangélicas; uma reação natural à "libertinagem" dos anos 60 e 70; a disseminação da AIDS, nos 80 e 90...
As pesquisas feitas hoje comprovam: o jovem brasileiro de hoje é muito mais conservador que o de algumas décadas atrás.
A maioria - inclusive dos que eu conheço, na faixa dos 20 aos 35 anios - quer ganhar dinheiro logo, se casar e ter 2 ou3 filhos - como nas propagandas - e poucos pensam em estilos alternativos de vida.
Essa mulekada de hoje não vivenciou o que é viver sob uma ditadura militar - então não sabe o que é repressão para valer - e a a internet permite que todos, dos mais centrados, aos mais sem noção, psicóticos, dêem vazão a seus instintos autoritários, protegidos pela rapidez do "escrever sem pensar", o #prontofalei e pelo mais covarde anonimato.
Fora os chatos que usam duas galochas ao ficar postando no Facebook correntes, pensamentos furados, imagens de santas e toda sorte de merdas que só interessam a eles e a suas cabecinhas de passarinho - isso já virou um fenômeno, chamado "orkutização do Facebook".
Voltando ao caso Rita Lee: pessoas sensatas tem postado - sim, elas existem, e postam coisas bacanas no Twitter e Facebook! - encerrou com chave de ouro sua carreira nos palcos.
Evidente que a sua reação à ação dos policiais da tropa de choque que revistavam o público de seu show em Aracaju - na ânsia de identificar meia dúzia de "maconheiros" - foi emocional e exagerada,mas totalmente coerente com sua trajetória, pois ela teve inúmeros precalços com a polícia ao longo da carreira e é natural que sinta "paranoia" - como ela mesma disse - ao ver tanta polícia misturada à sua plateia.
Como disse meu amigo Guca Domênico no Facebook, ao tempo da ditadura militar que durou mais de vinte anos, Rita não estava nem aí, vivia drogada, alienada, e enquanto os policiais desciam a borracha em mim, no Guca e em outros companheiros - todos lutávamos por um Brasil melhor, livre e democrático - , Tia Rita embalava as bichinhas patinadoras na marquise do parque Ibirapuera, ao som de "Lança Perfume".
E também precisamos acabar com com essa mentira de que, só pelo fato de ser artista, Rita Lee ou qualquer outra estrela tenha o direito de dizer qualquer coisa, pois a lei vale para todos.
Se falou, que arque com as consequências das declarações dadas, ponto.
No caso Rita, a reação da polícia sergipana foi absolutamente truculenta: o marido da cantora, Roberto de Carvalho,escreveu em seu perfil no Facebook que ele e Rita foram praticamente sequestrados à saída do show, num ato de intimidação de fazer corar a polícia do Alckmin que agora vive de dar borrachadas nos nóias da cracolândia e nos pobres do pinheirinho - o que só prova que canalhas existem aqui em SP, em Sergipe, em todo lugar.
Lembrando que no caso de Rita até o Estatuto do Idoso foi passado para trás - ela já tem 67 anos - para mim o mais me deixou apavorado nem foi a reação truculenta da polícia, e sim, os apoios e os ódios que ela vem recebendo na internet, como se Rita Lee fosse uma santa, uma personalidade importantíssima para a vida dos brasileiros, ou membro da Al-Qaeda, responsável pelo programa nuclear iraniano ou coisa similar.
Nada disso, cabeças de passarinho: Dona Rita é uma roqueira das antigas, que mantém o espírito libertário e desafiador, não é uma dessas artistazinhas pré-fabricadas e sem inteligência, que a mulekada de hoje adora adorar - os chatérrimos Michel Teló e a tal da Adele, a fat girl, estão aí nos primeiros lugares das paradas, e só provam o que eu disse aqui.
Pena, muita pena de que muitas pessoas não entendem assim.
E eu aqui, apavorado com esse encaretamento da mulekada brasileira, onde os avós são muito mais modernos, permissivos e antenados que os netos.
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