sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

'O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS': HISTÓRIA EXCELENTE E GARY OLDMAN EXCEPCIONAL


Conhecer um pouco do que significou em termos geopolíticos o embate entre o bloco ocidental e o bloco soviético nos  anos 60 - a chamada Guerra Fria - até ajuda, mas não é essencial para o espectador mergulhar na trama intrincada de "O Espião que Sabia Demais" - que em 1979 já tinha virado uma série de televisão inglesa que não chegou nem perto desse filme -  e que estreia hoje em circuito nacional.

Afinal, o roteiro - assinado por Bridget O'Connor e Peter Straughan, baseado no best-seller homônimo de John Le Carré - é um grande jogo de xadrez, sobre disputas de poder e recheada - como todas as boas histórias de espiões - de intrigas, traições e jogos duplos.

Divulgação
Gary Oldman, em cena do filme: grande jogo de xadrez

O diretor sueco Tomas Alfredson ficou conhecido no mundo cinéfilo por "Deixa Ela Entrar" - filme sobre uma menina vampira que fica amiga de um garoto fraco, vítima constante de bullying.

Aqui,os inimigos são outros, especialmente quando estão jogando no mesmo time.

O exepcional Gary Oldman interpreta o protagonista George Smiley, personagem chave da literatura do escritor - que fez sua primeira aparição na estreia de Le Carré, no começo dos anos de 1960.

Só em "O Espião que Sabia Demais" o personagem alcançou o posto de protagonista, trazendo consigo não só uma bagagem emocional, como intelectual, ganhando aqui mais intensidade - no filme, ele é o centro das atenções ao desvendar uma trama complexa que começa com a sua demissão humilhante.

Divulgação
Gary Oldman como Smiley: anti-Bond

O chefe do serviço secreto, Control - John Hurt - manda Jim Prideaux - Mark Strong - seu homem que "suja as mãos" - investigar quem poderá ser o infiltrado nos altos escalões da agência - poderia ser qualquer uma das pessoas com quem eles se relacionam, todos muito simpáticos, prestativos e suspeitos exatamente por isso.

O diretor Alfredson não está interessado no glamour à la Bond que a categoria profissional tem - principalmente em se tratando de espiões ingleses -, pois aqui o foco é sobre as transações, sempre feitas às escondidas, entre sussurros e suspiros, pelas pessoas usando o fog londrino como o melhor esconderijo.

Ao levar para as telas um livro complexo -  de mais de 400 páginas =, reduzido a um filme de cerca de duas horas, Alfredson faz algumas escolhas muito acertadas e leva a trama à sua essência, deixando para as imagens dizerem muito mais do que as palavras.

Se de início, pode parecer ao espectador um filme confuso e difícil de entender, aos poucos descortina-se uma trama intrincada que desafia o público, que, ao lado de Smiley, tentará decifrá-la.

As peças do jogo de xadrez servem como uma ilustração eficiente, aliás, atribuindo a cada um dos envolvidos na investigação - infiltrados em potencial - o codinome das profissões do título original do filme: "Tinker, tailor, soldier, spy" - funileiro, alfaiate, soldado e espião.

A partir de uma pista vinda de outro agente, Rick Tarr - Tom Hardy, em sua primeira grande atuação de 2012 -, Smiley começa a investigar os espiões e em meio a essa trama, acaba descobrindo uma operação sendo armada contra o arqui-inimigo, Karla, da inteligência soviética.

Enquanto isso, Pridaux é mandado para Budapeste, onde irá se encontrar com um general húngaro que quer se refugiar na Inglaterra e parece ser capaz de identificar o infiltrado, que na visão de Control pode ser qualquer um do seu grupo: Percy Alleline - Toby Jones -, Toby Esterhase - David Dencik -, Roy Bland - Ciáran Hinds - ou Bill Haydon - Colin Firth, em seu primeiro papel pós Oscar ,por "O Discurso do Rei".

Aliás, todo o elenco está de parabéns, todos muito bons.


LEIA ENTREVISTA COM GARY OLDMAN, FALANDO SOBRE ESSE FILME

Divulgação/Playarte
Colin Firth, Gary Oldman, Ciarán Hinds e Toby Jones em cena do filme

Mas é Gary Oldman quem brilha: no papel que - torço eu - vai lhe render uma indicação ao Oscar,  ele atua no tempo, gestual e entonações certos, vai buscar o personagem em sua essência, e se aproxima muito do Smiley do livro - o que não é fácil, pois o personagem foi interpretado duas vezes na televisão inglesa nos anos de 1980 por nada menos que a lenda Sir Alec Guiness.

Como bom espião que é, Smiley é uma figura que passa, muitas vezes, desapercebida, em segundo plano, observador.
A lembrança de sua mulher, Ann - Katrina Vasilieva, que vive traindo-o com seus amigos - é uma imagem que o persegue e, ao mesmo tempo, também joga luz sobre seus atos.

Em meio a sombras e neblina londrinas, Alfredson fez um filme excepcional, que transita entre o drama e o suspense, de cores carregadas e sombrias, num mundo predominantemente masculino, do qual não há muitas formas de escapar.

Mais do que uma intriga de espionagem, "O Espião que Sabia Demais" é um drama sério e tenso sobre honra e mentiras, segredos e traições, onde o pano de fundo é uma desculpa geopolítica para, no fundo, falar da essência humana.

Imperdível.

Confira o trailer do filme:

*****
O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS
Título Original:
Tinker, Tailor, Soldier, Spy
Diretor:
Tomas Alfredson
Elenco:
Gary Oldman,Tom Hardy, Colin Firth, Mark Strong, Stephen Graham, Amanda Fairbank-Hynes, Ciarán Hinds, John Hurt, Zoltán Mucsi, Péter Kálloy Molnár, Ilona Kassai
Produção:
Tim Bevan, Eric Fellner, Robyn Slovo
Roteiro:
Bridget O'Connor, Peter Straughan, baseados na obra de John le Carré
Fotografia:
Hoyte Van Hoytema
Trilha Sonora:
Alberto Iglesias
Duração:
127 min.
Ano:
2011
País:
Reino Unido/ França/ Alemanha
Gênero:
Suspense
Cor:
Colorido
Distribuidora:
PlayArte
Estúdio:
Studio Canal/ Working Title Films/ Canal+/ CinéCinéma / Karla Films / Paradis Films
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

Um comentário:

Ozymandias_Realista disse...

Vou ser sincero com o sr, geralmente tenho uma memória para filmes e quadrinhos, o que eu vejo eu vou memorizando, consegui entender e lembrar até de Árvore da Vida, mas esse filme se demonstrou como uma complexidade desnecessária, que beira canastrismo. Para eu conseguir assistir ele, tive que colocá-lo umas três vezes, e ainda assim, lembrou pouco, muito pouco sobre ele. Seu texto me despertou curiosidade em revê-lo, para que eu tenha certeza de que é ruim, ou se foi de fato eu que assisti desatentamente.

Força e honra.

Postar um comentário