sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

ENTREVISTA: ROBERT DOWNEY JR. FALA SOBRE 'SHERLOCK HOLMES: O JOGO DE SOMBRAS'



Às vezes, Robert Downey Jr. fica entediado.

Não, espera. "Entediado é a palavra errada. É quando começo a ficar de saco cheio de ter uma única percepção", ele se corrige.

Não faz muito tempo que a única percepção que se tinha dele remetia aos tempos loucos de Hollywood. 
Como no começo dos anos 2000, quando foi preso após ser encontrado com drogas e uma fantasia de Mulher Maravilha em um hotel de Palm Springs (Califórnia).

Ou o período em que esteve preso, entre 1999 e 2000, de novo por causa de narcóticos.

Divulgação
Robert Downey Jr. em cena de "Sherlock Holmes 2: O Jogo de Sombras"
Robert Downey Jr. em cena de "Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras"

Ou ainda antes, nos conturbados anos 90, quando, após "tantos anos cheirando coca", se envolve com heroína "por acidente, depois de fumar crack pela primeira vez", conforme contou à revista "Rolling Stone".

Hoje, não. "Bobby" está zen.

Gosta de artes marciais. 
Pede frutas orgânicas em seu quarto de hotel.
 Vive grudado com uma maleta preta, que chama de "lancheira", onde armazena charutos e cápsulas de ervas.

Até brinca sobre as várias xícaras de café oferecidas a ele: estaríamos querendo viciá-lo de novo?

Há dez anos, o ator usa colares com pedras pesadonas. 
Uma delas, avisa, tem a ver com "pegar a energia dos outros".

O jeito foi se reinventar. 
Tal qual Sherlock Holmes, o detetive dos mil disfarces, revivido por Downey Jr. em "O Jogo de Sombras" - que estreia hoje aqui no Brasil -  sequência do blockbuster de 2009.

Downey Jr. conversou com a Folha na cobertura do hotel Fasano, no Rio, onde esteve na semana passada para divulgar seu novo filme. 

As orientações da distribuidora: 15 minutos de conversa, e sem perguntas pessoais, "com risco de encerrar a entrevista".

Mas as rédeas estão mesmo é com Downey. 
Ele próprio faz brincadeiras sobre o passado-problema. 

Se questionado sobre isso, não reage como se preferisse nadar numa piscina de vinagre recheada com giletes a estar ali, tendo aquela conversa, de novo. 
Responde o que quer, quando quer.

"Tenho 46 anos, não sou mais uma criança mais."

O Globo
Robert Downey Jr., na estreia brasileira de "Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras"

Confira, abaixo, a íntegra da entrevista:

Folha - Se vivesse no século 21, onde Sherlock Holmes estaria agora?
Robert Downey Jr. - No Rio, talvez. Como DJ em alguma casa noturna. Se bem que ele já tinha 30, 40 anos na época. Ele teria de ser criogenizado.

Tem quem reclame desse seu Sherlock, sem chapéu e um pouco rock 'n' roll demais.
Talvez eles estejam certos. Há tantas formas diferentes para se interpretar esse filme. E esse é um grupo pequeno de pessoas, com uma visão do que é entretenimento. Mas nós gostamos. As pessoas parecem gostar.

E "Sherlock 3"?
Estamos trabalhando no roteiro, mas sem pressa. Quando não há pressa para fazer as coisas, elas tendem a se sair melhor.

Você parece ter se divertido fazendo o filme. Atuar já deixou de ser divertido?
Claro! Todo dia, para de ser divertido. Porque o processo se torna muito controlador. Ou cheio de medo. Alguém sempre acha que está certo. E, às vezes, eu sou essa pessoa. Mas prefiro ser feliz do que estar certo.

E isso funciona?
Se estamos fazendo algo que parece uma merda, então [acho que] provavelmente deveríamos mudar. Mas algumas vezes alguém diz: "Como você se sente?". E eu: "Uma merda". "Ah, isso não importa" [risos]. É isso que eu odeio.

Com "Homem de Ferro", "Os Vingadores" e "Sherlock", você está se especializando nesses "grandes e malvados" blockbusters de ação. É o caminho?
Aí eu fiz, provavelmente, o meu filme preferido de todos eles, que é sobre apenas dois caras num carro, rumo ao hospital, que é "Um Parto de Viagem".

Outro dia, um amigo comentou por que gosta tanto dos seus filmes. Algo a ver com "músculos e sarcasmo". Você teme virar uma "grife Downey", maior do que seus personagens?
Claro! Isso seria constrangedor. Mas tudo bem. Quero me manter interessado.

Você se vestiu de mulher em "Sherlock". Foi bom para você?
Achei que teria uma experiência de autoconsciência. Que, quando colocasse a maquiagem e o vestido, me sentiria linda. Que iria entender o yin-yang, o eu-mulher. Mas eu fiquei apenas estranho. Muito estranho.

O Sherlock Holmes vive se reinventando. Você também, não?
Sim, quando é o momento para isso. Acho que é uma viagem do ego quando as pessoas ficam sempre [se reinventando]...

Hoje, você tem pessoas que usam uma roupa mais maluca do que a outra. É tipo "uau, uau, uau"!
Mas tenho 46 anos, não sou mais uma criança mais.
[Me reinvento] quando estou... entediado? Não, é a palavra errada. Quando começo a ficar de saco cheio de ter uma única percepção.

Qual foi a última vez que isso aconteceu?
Eu provavelmente estava nessa quando surgiu o lance de super-heróis. Sinto a necessidade de ir para uma nova direção. Lembro que estava muito, muito feliz depois que fiz "Homem de Ferro". Me vi no meio da selva no Havaí, em "Trovão Tropical". Eu estava tão... livre.

Qual é a reinvenção do momento?
Nao sei se é reinvenção. Sinto que há vários novos começos. Ter uma nova criança... [a mulher dele está grávida] É meio louco isso tudo. Você parece nova [diz para a repórter]. Está nos seus vinte e poucos? Vinte e cinco? Quando eu estava nos meus vinte e poucos, fiz "Chaplin" [filme de 1992, pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor ator].

Quando você estiver pela minha idade, vai ficar atordoada por tudo o que aconteceu entre os 25 e os 46 anos. Agora tenho um filho de 18, minha carreira está bem, blá-blá-blá. E vou ter uma outra criança! Isso apenas me faz pirar. Todo esse novo capítulo.

Todo mundo fica um pouco constrangido pelos pais. O meu pai é esse cara alto, se veste um pouco estranho. Percebi, recentemente, que eu vou ser esse pai para a criança que estou tendo agora, quando ela for para o ensino médio. Serei o pai sessentão.

E você pensa em parar?
Não quero prolongar meu tempo. Acho que a audiência vai me avisar quando estiver entediada. Esse será um dia divertido.

Sente-se desafiado agora?
Eu e a patroa [a produtora Susan Downey] estamos procurando novas coisas. Talvez eu vá dirigir [um filme].

Você está limpo há algum tempo, mas as pessoas insistem nessa fase da sua vida. Te incomoda?
Acho que o problema é mais o jornalista. Eles dizem: "Eu tenho que fazer isso [perguntar sobre o envolvimento com drogas]". E eu: "Não, na verdade você não precisa. Às vezes sinto que os jornalistas querem arrancar algo como "eu levantei o assunto, e ele ficou muito, muito chateado, mas depois se acalmou". Mas isso não é grande coisa. Acho que as pessoas, às vezes, são tão estranhas!

Quem é estranho para você?
Pessoas com motivos. Isso não deveria ser estranho. Não sou ingênuo. Se você é sensitivo, pode ver a maquiagem psicológica de alguém. "Ah, a qualquer momento eles vão fazer isso..." E eles fazem exatamente o que você estava prevendo.

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