sábado, 28 de janeiro de 2012

'J.EDGAR':DIRIGIDO PELA LENDA EASTWOOD, LEONARDO DICAPRIO DESNUDA BASTIDORES DE 50 ANOS DA HISTÓRIA POLÍTICA AMERICANA

Na cinebiografia "J. Edgar" - que tem estreia nacional nesta sexta (27) - o diretor Clint Eastwood nos aproxima do temido chefe do FBI por quase cinco décadas como ser humano, tornando real e acessível uma figura que não raro habita o imaginário popular dos americanos, mesmo que ele seja identificado como vilão e sociopata, especialmente nos segmento liberais da sociedade norte-americana.

J. Edgar Hoover combateu sem trégua comunistas e esquerdistas - na maioria das vezes ultrapassando os limites legais e com mais vigor que o famigerado senador McCarthy -, e nunca se dobrou à autoridade dos oito presidentes norte-americanos - a quem supostamente deveria subordinar-se.

Independentemente da filiação partidária - do presidente e seus parentes - além de numerosos congressistas, estavam minuciosamente catalogados num arquivo secreto em que Hoover colecionava toda espionagem à intimidade dessas personalidades - como a vida sexual de John Kennedy e da senhora Franklin Delano Roosevelt - arquivo cuja existência não escondia, o que aumentava ainda mais seu poder.

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Leonardo DiCaprio interpreta Hoover ainda jovem, nessa cena do filme

Leonardo DiCaprio aqui interpreta Hoover da juventude à velhice - ajudado por maquiagem bem convincente - com uma intensidade e garra arrebatadoras, o que torna sua ausência das indicações ao Oscar uma das maiores injustiças desta edição.

O roteiro - de Dustin Lance Black, vencedor do Oscar por "Milk: A Voz da Igualdade" -, foca na ascensão de Hoover no combate ao crime, à frente da divisão de inteligência do Departamento de Justiça desde os anos 1920, depois chefiando o Bureau de Investigações - que em sua longeva gestão incorporou também a palavra "Federal".

Desde o início de sua carreira, com apenas 24 anos, Hoover exibe perícia e desenvoltura em duas frentes com a mesma obsessão - na necessidade de contar com um aparato volumoso, eficiente e científico,com sua insistência em contratar muitos agentes, instalar laboratórios para investigação e instituir um banco federal de impressões digitais - e foco voltado sobre quem ele considera inimigos da democracia - esquerdistas, principalmente.

Hoover discriminava negros, mulheres ou homens que desprezassem o que considerava um bom figurino,  principalmente com sapatos engraxados - quem não os tinha brilhando  via suas chances de entrar para os quadros do FBI ser simplesmente nenhuma.

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A maquiagem a serviço da perfeição: Leonardo DiCaprio interpreta nessa cena um Hoover idoso

O mesmo ímpeto selvagem que dedicava ao combate aos gangsteres dos anos 1930 e ao sequestrador do bebê do aviador Charles Lindbergh - um dos casos policiais mais rumorosos da década de 20 nos EUA -  ele usou no ativista negro Martin Luther King: quando a espionagem ao pastor não encontrou qualquer escândalo que rendesse uma chantagem, Hoover não hesitou um só instante em fabricar uma carta - depois atribuída a um ex-auxiliar de King - para tentar manchar sua imagem pública, com o claro objetivo de forçá-lo a recusar o prêmio Nobel da Paz - logo depois teve que engolir vê-lo receber a honraria, em 1964.

O filme aborda também - sem se deter profundamente - à homossexualidade dentro do armário de Hoover, que teve um longo romance com um de seus subordinados, o agente Clyde Tolson - interpretado no filme por Armie Hammer.

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Hoover (Leonardo Di Caprio) e seu amante, Clyde Tolson (Armie Hammer) em cena do filme

Os dois eram inseparáveis em festas, viagens e jantares, e Tolson  chegou a herdar a casa de Hoover quando ele morreu, em 1972, época ainda sem casamentos entre iguais nos EUA - uma das cenas mostra um rápido beijo entre os dois.

O filme nos mostra que duas mulheres são fundamentais na vida de Hoover: sua mãe - aqui interpretada por Dame Judi Dench, maravilhosa - teve influência decisiva na moldagem de um caráter agressivo e obcecado pelo sucesso - e que não admitia sua homossexualidade, como aparece numa cena de grande intensidade dramática entre os dois - e sua secretária, Helen Gandy - Naomi Watts -, com quem ele, ainda jovem, tenta casar-se, e que depois lhe permanece uma servidora  de fidelidade canina por toda a vida - no filme, Helen é a encarregada de desaparecercom os temidos "arquivos secretos", que nunca foram encontrados depois de sua morte, em 1972.

Watts só foi confirmada no elenco após Charlize Theron declinar do convite de Eastwood para aceitar ser a Rainha Má, uma das protagonistas de "Branca de Neve e o Caçador", e de Amy Adams também recusar o papel por ainda estar às voltas com as demoradas filmagens de "Superman: Man Of Steel" - ela será a Lois Lane.

Naomi, atriz acima da média, provou que era a atriz certa para o papel, pois sua Helen Gandy é simplesmente sen-sa-cio-nal.

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Dame Judi Dench interpreta com maestria Annie Hoover, a mãe de J.Edgar

O diretor Eastwood - com sua sobriedade sempre presente - nos mostra, enfim, as características polêmicas de um homem que construiu um personagem maior do que ele mesmo - e cujo poder, exercido com fervor absolutista, levou o presidente Harry Truman a comparar o FBI comandado por  Hoover à Gestapo nazista.

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Naomi Watts interpreta Helen Gandy, a secretária de Hoover que tinha pelo chefe uma fidelidade canina: sen-sa-cio-nal!

Um grande filme, um diretor inspiradíssimo, coadjuvantes carismáticos e uma interpretação arrebatadora de DiCaprio - um dos maiores injustiçados do Oscar 2012, juntamente com Daniel Craig por "Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres".

Confira o trailer do filme:

*****
"J.EDGAR'
Diretor:
Clint Eastwood
Elenco:
Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Josh Hamilton, Geoff Pierson, Cheryl Lawson, Kaitlyn Dever, Brady Matthews, Gunner Wright, David A. Cooper, Ed Westwick, Naomi Watts, Dame Judi Dench
Produção:
Clint Eastwood
Roteiro:
Dustin Lance Black
Fotografia:
Tom Stern
Duração:
137 min.
Ano:
2012
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Warner Bros.
Estúdio:
Imagine Entertainment
Classificação:
12 anos

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