sexta-feira, 4 de novembro de 2011

'A PELE QUE HABITO' MOSTRA ALMODÓVAR REINVENTANDO O MITO DE FRANKESTEIN EM THRILLER DE TIRAR O FÔLEGO


Concorrente à Palma de Ouro em Cannes 2011, em A Pele que Habito o cineasta espanhol Pedro Almodóvar volta a dialogar com os dois lados de sua obra intensa e carnal, que vem construindo desde o primeiro longa - Pepi, Luci, Bom e outras Garotas de Montão (1980).

Aqui, convivem o diretor da sua primeira fase, de filmes aguerridos como Labirinto de Paixões (1982), Matador (1986) e A Lei do Desejo" (1987), quanto o cineasta maduro da fase mais recente, obcecado por explicitar suas referências, como no recente Abraços Partidos (2009).

Esse desejo de uma volta ao início de sua carreira fica explícito no retorno do ator Antonio Banderas, lançado ao estrelado por Almodóvar e que, depois de Ata-me!, ficou 22 longos anos sem trabalhar com o diretor.

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Antonio Banderas, em cena do filme

Almodóvar inspirou-se em obra alheia - fato raríssimo - para compor seu roteiro - o livro Mygale, de Thierry Jonquet, que leu há dez anos.

Dele guardou a figura do pai que conduz uma vingança - aqui por um estupro cometido contra sua filha, temperando-o com elementos científicos ligados a manipulações genéticas - tema que pode parecer estranho ao universo do diretor.

Banderas é esse pai, Robert Ledgard, um cirurgião plástico que pesquisa a criação de uma pele artificial, depois de perder a mulher, gravemente queimada num acidente de automóvel - na verdade, há outros fatos ligados à morte da mulher, bem como ao suposto estupro da filha - interpretada por Blanca Suárez.

A vingança contra o estuprador - Jan Cornet - é o cena que escancara os elementos mais drásticos e bizarros, quando entra em cena Vera - Elena Anaya, espetacular - uma mulher de identidade misteriosa, que é ao mesmo tempo cobaia e prisioneira do cirurgião num luxuoso bunker, onde ela é vigiada e atendida 24 horas por dia por Marilia - Marisa Paredes, Diva, soberba.

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Elena Anaya - esquerda - e a Diva Marisa Paredes, em cena do filme

Há uma referência direta ao filme Os Olhos sem Rosto (1960), do francês Georges Franju, que Almodóvar assume sem problemas, e também ao famoso personagem Dr. Frankenstein, de Mary Shelley - já que em todos os casos há um homem da ciência ultrapassando limites, brincando de Deus não só por mera ambição, mas em nome da primazia de uma conquista, ou da superação de uma culpa insuportável.

Almodóvar não nega que hoje o thriller é seu gênero favorito, e se mostra disposto em encarnar uma espécie de Hitchcock latino de nossos dias.

Assim, nenhum intérprete é mais adequado do que Antonio Banderas, envolto em uma espécie de horror glacial que percorre todo o filme, em que personagens, como Robert e Marilia, são capazes de dizer as coisas mais criminosas como se fossem normais, com a insensibilidade que só os psicopatas - como eles - podem ter.

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Elena Anaya, em cena do filme

Falta um toque da sua boa e velha ironia, e outro problema está nas referências ao Brasil, especialmente no personagem, Zeca/Tigre - o ator espanhol Roberto Álamo - que faz uma caricatura que chega a ser ofensiva, ainda mais pela intimidade que o diretor tem com nosso país, que visita regularmente -  incrível que o cineasta crie um personagem tão grotesco.

Felizmente, Almodóvar se redime com a música Pelo Amor de Amar, cantada lindamente em português pela espanhola Ana Mena.

Um pequeno deslize, num grande filme.

Confira o trailer do filme:

*****
A PELE QUE HABITO
Título original: La Piel que Habito
Diretor: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Blanca Suárez, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Bárbara Lennie, Susi Sánchez
Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado no livro de Thierry Jonquet
Fotografia: José Luis Alcaine
Trilha Sonora: Alberto Iglesias
Duração: 133 min.
Ano: 2011
País: Espanha
Gênero: Suspense
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Buena Vista International/ Canal + España/ El Deseo S.A./ FilmNation Entertainment/ Televisión Española (TVE)/ World Cinema Fund
Classificação: 16 anos
Cotação do Klau:

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