O que vem depois de felicidade? Na linha do tempo de Todd Solondz é a guerra, "A Vida Durante a Guerra", uma comédia melancólica onde o diretor retoma os personagens de seu filme mais famoso - "Felicidade".
O filme é uma combinação de assuntos delicados, como pedofilia, terrorismo, conflitos raciais, tudo para perguntar se é possível perdoar e esquecer.
Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza do ano passado, a trama começa numa cena idêntica a "Felicidade": Joy - agora interpretada por Shirley Henderson - está num restaurante com seu namorado; ele dá a ela um cinzeiro antigo que comprou no eBay, com o nome dela gravado - "Joy" significa "alegria".
A conclusão aqui, porém, é bastante diferente daquela do primeiro filme.
DivulgaçãoCenas do filme
Todos os personagens - algo comum nos filmes de Solondz - são infelizes até a exaustão, e a possibilidade de felicidade é quase nenhuma.
A visão que o diretor tem dos Estados Unidos contemporâneo - que se solidifica em filmes como "Benvindo à Casa de Bonecas" e "Palídromos" - não é negativa ou desprovida de esperanças - é, na verdade, triste, cruel.
Ataques terroristas são um assunto nas entrelinhas e, às vezes, explícitos nesse filme.
Mas Solondz olha esses acontecimentos como um olhar muito próprio, para os americanos compreenderem a si mesmos e resolverem seus próprios problemas, antes de voltarem os olhos para territórios distantes de suas fronteiras.
É mais ou menos isso que diz o pequeno Timmy - Dylan Riley Snyder -, talvez o personagem mais sensato, embora verdadeiramente ingênuo para sua pouca idade.
Os personagens de "Felicidade" são interpretados por outros atores, e isso permite não apenas mostrar que envelheceram de forma diferente, como também ampliar o leque de possibilidades e interpretações para cada um, o que por si só é uma boa saída.
DivulgaçãoCena do filme
As irmãs de Joy são Trish - Allison Janney - e Helen - Ally Sheedy.
A primeira é mãe de Timmy, diz para todos que é viúva, embora seu marido, Bill - Ciarán Hinds - cumpra pena por pedofilia.
Ela tenta encontrar um novo companheiro, mas confessa que só se casará se os filhos o aprovarem.
Joy é casada com Allen - Michael K. Williams - que com a ajuda dela tenta se livrar de sua tara que envolve listas telefônicas e chamadas anônimas.
Ela, por sua vez, recebe visitas constantes de Andy - Paul Reubens -, um sujeito que ela dispensou num restaurante, há alguns anos.
Para se separar temporariamente do marido, Joy viaja para a Flórida onde reencontra a mãe - Renée Taylor - e as irmãs.
A paranóia ansiolítica - pós-11 de setembro - que o filme tras à tona, começa com o título e ecoa a caça às bruxas - de obras como "As Bruxas de Salem".
A partir das explicações de sua mãe, Timmy vê um pedófilo em potencial em praticamente todos os homens que se aproximam - e de pedófilo para terrorista, na cabeça de Timmy, parece não existir muita distância.
O mundo do diretor Solondz é habitado por gente estranha que declama frases esquisitas, mas que é tão parecido com o nosso mundo, onde a questão do "perdoar e esquecer" ecoa.
Em "A Vida Durante a Guerra", Solondz relembra o que há de melhor no cinema independente norte-americano, sem cair na tentação dos discursos e frases prontas que inundaram o gênero na última década, e novamente passa inteligência na criação de diálogos e na observação que faz da família ocidental contemporânea -
"Olho por olho? e então vem o perdão", diz um personagem a certa altura.
Um dos personagens diz para Timmy: "Você seria capaz de perdoar alguém que te bateu na cara? Um Terrorista? Hitler? Seu pai?".
O que o filme tenta provar - e consegue - é que é impossível perdoar e esquecer, um círculo vicioso se forma entre ações e reações, e "A Vida Durante a Guerra" nada mais é do que pessoas tentando perdoar e esquecer, se empenhando em uma tarefa quase inútil.
Filmaço.
Confira o trailer do filme:
"A VIDA DURANTE A GUERRA"
Título original: Life During Wartime
Diretor: Todd Solondz
Produção: Fortissimo Films
Distribuição: Imagem Filmes
Elenco:
O filme é uma combinação de assuntos delicados, como pedofilia, terrorismo, conflitos raciais, tudo para perguntar se é possível perdoar e esquecer.
Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza do ano passado, a trama começa numa cena idêntica a "Felicidade": Joy - agora interpretada por Shirley Henderson - está num restaurante com seu namorado; ele dá a ela um cinzeiro antigo que comprou no eBay, com o nome dela gravado - "Joy" significa "alegria".
A conclusão aqui, porém, é bastante diferente daquela do primeiro filme.
DivulgaçãoCenas do filme
Todos os personagens - algo comum nos filmes de Solondz - são infelizes até a exaustão, e a possibilidade de felicidade é quase nenhuma.
A visão que o diretor tem dos Estados Unidos contemporâneo - que se solidifica em filmes como "Benvindo à Casa de Bonecas" e "Palídromos" - não é negativa ou desprovida de esperanças - é, na verdade, triste, cruel.
Ataques terroristas são um assunto nas entrelinhas e, às vezes, explícitos nesse filme.
Mas Solondz olha esses acontecimentos como um olhar muito próprio, para os americanos compreenderem a si mesmos e resolverem seus próprios problemas, antes de voltarem os olhos para territórios distantes de suas fronteiras.
É mais ou menos isso que diz o pequeno Timmy - Dylan Riley Snyder -, talvez o personagem mais sensato, embora verdadeiramente ingênuo para sua pouca idade.
Os personagens de "Felicidade" são interpretados por outros atores, e isso permite não apenas mostrar que envelheceram de forma diferente, como também ampliar o leque de possibilidades e interpretações para cada um, o que por si só é uma boa saída.
DivulgaçãoCena do filme
As irmãs de Joy são Trish - Allison Janney - e Helen - Ally Sheedy.
A primeira é mãe de Timmy, diz para todos que é viúva, embora seu marido, Bill - Ciarán Hinds - cumpra pena por pedofilia.
Ela tenta encontrar um novo companheiro, mas confessa que só se casará se os filhos o aprovarem.
Joy é casada com Allen - Michael K. Williams - que com a ajuda dela tenta se livrar de sua tara que envolve listas telefônicas e chamadas anônimas.
Ela, por sua vez, recebe visitas constantes de Andy - Paul Reubens -, um sujeito que ela dispensou num restaurante, há alguns anos.
Para se separar temporariamente do marido, Joy viaja para a Flórida onde reencontra a mãe - Renée Taylor - e as irmãs.
A paranóia ansiolítica - pós-11 de setembro - que o filme tras à tona, começa com o título e ecoa a caça às bruxas - de obras como "As Bruxas de Salem".
A partir das explicações de sua mãe, Timmy vê um pedófilo em potencial em praticamente todos os homens que se aproximam - e de pedófilo para terrorista, na cabeça de Timmy, parece não existir muita distância.
O mundo do diretor Solondz é habitado por gente estranha que declama frases esquisitas, mas que é tão parecido com o nosso mundo, onde a questão do "perdoar e esquecer" ecoa.
Em "A Vida Durante a Guerra", Solondz relembra o que há de melhor no cinema independente norte-americano, sem cair na tentação dos discursos e frases prontas que inundaram o gênero na última década, e novamente passa inteligência na criação de diálogos e na observação que faz da família ocidental contemporânea -
"Olho por olho? e então vem o perdão", diz um personagem a certa altura.
Um dos personagens diz para Timmy: "Você seria capaz de perdoar alguém que te bateu na cara? Um Terrorista? Hitler? Seu pai?".
O que o filme tenta provar - e consegue - é que é impossível perdoar e esquecer, um círculo vicioso se forma entre ações e reações, e "A Vida Durante a Guerra" nada mais é do que pessoas tentando perdoar e esquecer, se empenhando em uma tarefa quase inútil.
Filmaço.
Confira o trailer do filme:
"A VIDA DURANTE A GUERRA"
Título original: Life During Wartime
Diretor: Todd Solondz
Produção: Fortissimo Films
Distribuição: Imagem Filmes
Elenco:
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