sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MEU PAI, OITO OU OITENTA

Meu pai faz 80 anos hoje, mas ele não está nem aí para a data redonda.

Sua preocupação maior, nos últimos dias, é com o aniversário do único neto, Gabriel, que fará 8 anos no domingo, 21.

Só hoje, o maior festeiro que essa família já viu já foi três vezes ao supermercado: comprou carne para um batalhão - o churrasco do Vô é muito bom! - e cerveja para encher duas caixas d'água, das grandes.

Minha mãe acha tudo um exagero - mas não é ela que sempre faz comida a mais, nos dias comuns ou nos dias de festa?

A casa já tem balões, docinhos em caixas de camisas - que é pra não amassar - o quintal já foi coberto com uma lona de caminhão - que é pra chuva não estragar a festa.

Meu pai pediu ao Gabi que convidasse todos os amiguinhos da escola, e a casa vai estar do jeito que ele mais gosta, cheia de gente.

Eu e minha irmã, a mãe do Gabi , também tivemos festas memoráveis, mas as festas do neto...

Nunca ví avô e neto tão unidos. Se eu chamo um, o outro vem junto, não se largam, como não se largavam minha irmã e ele, quando ela tinha a idade do Gabi.

Meu pai parece ser muito feliz com a família que tem.
Metalúrgico aposentado faz tempo, e com uma saúde de ferro, sempre me dá a impressão de que nunca irá embora, ficará sempre por perto para quando precisarmos dele.

E sempre precisamos.
Afinal, sua personalidade junta o melhor do nosso signo zodiacal - meu, dele e do Gabi: a impulsividade, o amor ao próximo, a generosidade e o horror à mesquinharia - não só a de atos, mas de palavras e de gestos.

Meu sobrinho é a versão mais bem acabada do legado do meu pai: inteligente, generoso, amoroso ao extremo, confiável e amigo.

Para mim, ver - e conviver - com um, é ver - e conviver - com outro.

As gerações passam, mas o legado fica, para sempre impregnado em cada célula do meu ser.

E é bonito sentir isso.

Montagem: Cláudio Nóvoa

*****

Para quem conhece minha história de vida, sabe que parte da história acima - do convívio entre meu pai, Rubens, e do meu sobrinho Gabriel - nunca aconteceu.

Meu pai morreu em 1988, aos 58 anos, de um ataque cardíaco fulminante - não se cuidava e fumava muito.

Rubens faria hoje 80 anos, dois dias antes do Gabi fazer oito.

Oitenta, oito, não importa.

Quando olho para o Gabi - e felizmente ele mora aqui comigo - na realidade eu vejo o Rubens, o homem mais importante da minha vida.

E isso, por sí só, me alegra, me acalma, e me basta.

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