A festa migra para o parque Augusta - esquina da Augusta com a Caio Prado - por um motivo pra lá de válido: depois de anos de promessas, começou a revitalização urbanística da Praça Roosevelt, endereço que o teatro transformou, desde 2000, em polo de cultura da cidade.
O público começou então a rever a Roosevelt como destino cultural.
Em 3 de dezembro de 2000, depois de uma peregrinação que teve paradas em Lisboa, Curitiba, Berlim e num endereço da Major Diogo paulistana, Os Satyros sentaram acampamento na praça Roosevelt, então um ponto de prostituição e tráfico de drogas.
Havia dois teatros funcionando, mas o medo da violência afastava as plateias. O espaço escolhido para abrigar a sede da companhia tinha sido, tempos atrás, a extensão de uma churrascaria e a marcenaria de um flat.
O público foi voltando aos poucos e estimulando outros grupos a se instalar ali. Em 2006, vieram os Parlapatões. No ano passado, a Cia. da Revista abriu seu Miniteatro.
"Desculpa ser arrogante, mas o que existe hoje em São Paulo em termos de produção teatral em SP não estaria aí sem Os Satyros", diz Ivam Cabral, ator e dramaturgo da companhia, referindo-se à abertura do espaço, a preços às vezes simbólicos, para companhias jovens, com poucos recursos e muita sede de experimentação.
"Não havia naquela época peças às segundas-feiras, muitos grupos não tinham sede. Há um modelo estético de produção trabalhado a partir da experiência da praça, com ingressos a preços baixos, com desconto para moradores da praça, e atores trabalhando em esquema de cooperativa", acrescenta ele.
Segundo Ivam, esse pioneirismo alimenta amores e ódios no circuito teatral. Daí as críticas à participação d'Os Satyros na criação da SP Escola de Teatro, projeto do governo do Estado. Houve quem atribuísse a decolagem da instituição à relação próxima entre José Serra e a dupla que fundou a cia: Ivam e Rodolfo García Vázquez.
"Sou diretor executivo da escola por acaso. Precisavam de alguém que entendesse de burocracia. A história da escola é uma conquista da classe artística", diz Ivam. "A gente [Os Satyros] está desolado porque só se fodia. A nossa relação com o dinheiro é aterradora. Não temos fomento [verba distribuída pela prefeitura] há quatro anos. Nossas instalações estão precárias e nosso processo de pesquisa, atrasado."
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Teatro é feito na raça com criatividade e experimentaçãoNão importa etnia, filiação religiosa ou preferência sexual. Na praça Roosevelt de hoje, ainda há espaço para todos. Exíguo, porém. Muitas vezes, precário. Certamente, a maior concentração de diversidade por metro quadrado no cenário paulista.
Esse polo de experimentação é prova de que teatro ainda se faz na raça. Para isso, porém, é necessário fazer concessões, controlar a ambição cênica ou gozar de soluções altamente criativas.
Estandarte da pluralidade, Os Satyros continuam ousando abordar temas polêmicos ao incorporar produções independentes como o "Assurbanipal Magic Club", com direção de Maurício Paroni de Castro.
Nessa abordagem de clubes de swing, ninfomaníacos com crises existenciais funcionam como se estivessem em peça de Pirandello. Ainda citam filósofos, tingindo o tema do sexo com pinceladas mais cerebrais.
Sexualidade, aliás, é tema recorrente na casa, cuja programação continua focada em peças dirigidas pelo talentoso Rodolfo García Vázquez. Sua "Trilogia Libertina", sobre a obra do Marquês de Sade, segue como fenômeno catalisador de público.
Ainda em cartaz estão a primeira e última partes deste ciclo: "Filosofia na Alcova" e "Justine". Ambas empreitadas mais indulgentes que seus trabalhos recentes, os sólidos "Hipóteses para o Amor e a Verdade" e "Roberto Zucco", adaptação de Bernard-Marie Koltes.
PARLAPATÕES
Com curadoria atenta, os Parlapatões se fixam ao centro não apenas geográfico da praça. Além das peças de Hugo Possolo, acolhe reestreias consistentes como "Êxtase" de Mike Leigh, com direção de Mauro Baptista Vedia, e "Réquiem", do israelense Hanoch Levin, sob comando de Francisco Medeiros.
A vitrine de uma dramaturgia inovadora é garantida com "Noturnos", do celebrado autor norueguês Jon Fosse, dirigido por Mário Bortolloto, que também está à frente do monólogo "Como Ser uma Pessoa Pior", com a vigorosa Lulu Pavarin.
Entre os menores Studio 184, Teatro do Ator e Miniteatro, destaque para o último, liderado por Marília Toledo e Kleber Montanheiro, cujo "Kabarett", inspirado em "Ópera dos Três Vinténs" traz frescor ao dialogar o com gênero do início do século 20.
Comum a quase todos é a falta de recursos financeiros que, eventualmente, compromete o rigor artístico. Se tolerância é a viga mestra que sustenta a diversidade de montagens na praça, tal atitude deve também reger olhos de quem as vê.
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A partir de hoje, a Cia. de Teatro Os Satyros realiza a 11ª edição dasSatyrianas -Uma Saudação à Primavera, evento que ocupa a região do Baixo Augusta e a sede do grupo, na praça Roosevelt, por 78 horas, com espetáculos de teatro, música, dança e exibição de filmes, além de exposições, debates e intervenções.
A abertura será na rua Augusta,, esquina com a rua Caio Prado, às 18h, com a performance da bateria da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi.
Entre os destaques do primeiro dia, estão as montagens "Roberto Zucco", às 20h, e "Antidepressivos", às 22h30 _ambas no Espaço dos Satyros 1.
Até seu encerramento, dia 28, o encontro terá boas surpresas, como a intervenção urbana do Teatro da Vertigem - que deve ocorrer em vários locais da cidade; o festival
Dramamix, com 50 textos inéditos - (na rua Augusta, no mesmo local da abertura-; e o projeto Ouvi Contar, que monta peças em apartamentos da Roosevelt - nos quatro dias.
A programação completa do primeiro dia:
QUINTA, dia 25
18h - ABERTURA - Rua Augusta
Bateria da Escola de Samba Acadêmicos do Tucuruvi com Mestre Adamastor (música)
Grupo Ilú Oba de Min (música)
19h - "DCC- Dramaturgia Concisa Contemporânea" - Círculo de Debates - Núcleo
Bartolomeu de Depoimentos.
20h - "Roberto Zucco" (Dir. Rodolfo García Vázquez) - Teatro -Espaço dos Satyros I
20h às 22h - "Praça Roosevelt em 78 segundos" (Rafael Mendes) - Performance - Bar
Espaço dos Satyros II
20h às 23h - "Drive Thru" (Intervenção) - Em frente ao Miniteatro
20h - "Amares...Ia" ( Dir. Joana Pegorari) - Teatro - Espaço dos Satyros II
21h - "Pílades - Cenas de um Filme Nacional" (Dir. José Fernando Azevedo)- Teatro -
Espaço Maquinaria.
21h - "Adoniran - Ballet Stagium" (Dir. Marika Gidali) - Dança - Teatro de Dança
(ingresso R$ 2,00)
21h - "Rua do Medo" (Dir. Marcelo Lazzaratto) - Teatro - Centro Cultural São Paulo
21h - "Festival de Peças de Um Minuto" ( Coordenação Cristiani Zonzini) - Teatro -
Espaço dos Parlapatões
21h - "Mostra de Cinema com Debates" - Matilha Cultural
21h30 - "O Natal mais Feliz da Minha Vida" (Dir. Antonio Rocco) - Teatro - Teatro N.Ex.T.
21h30 - "Análise Comportamental da Música Eduardo e Mônica" (Dir. Fernanda
DŽUmbra) - Teatro - Miniteatro.
22h - "O Tempo não para Minha Flor" (Dir. Tiago Moraes) - Teatro -Espaço dos Satyros II
22h - "Pocket show Tatá Aeroplano e convidados" - Música - Restaurante Rose Velt
22h30 - "Antidepressivos" (Dir. Sérgio Carrera) - Teatro - Espaço dos Satyros I
23h às 0h - "Foto (Memorial) Grafia" (Rafael Mendes) - Performance / instalação de rua em frente ao Espaço dos Parlapatões
23h59h - "BOI"(Dir. Hugo Rodas) - Teatro - Espaço dos Satyros I
Confira a programação completa e endereços em www.satyros.uol.com.br/satyrianas/
Fontes: teatro dos Satyros e Folha de S.Paulo
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