domingo, 14 de novembro de 2010

ODETE ROITMAN VOLTOU!

Exibida originalmente pela TV Globo, em 1988, a novela "Vale Tudo" virou um fenômeno depois que começou a ser reprisada pelo canal pago Viva.

A trama, durante sua exibição, entra por diversas vezes para os trending topics - a lista de assuntos mais comentados do Twitter.

Um dos personagens mais emblemáticos do folhetim - e da carreira de Beatriz Segall -, Odete Roitman voltou ao ar na última semana.

Acompanhada do repórter James Cimino, a atriz reviu, duas décadas depois, sua primeira cena na trama - é o que mostra o vídeo abaixo.

Beatriz, 84, também comenta o seu "orgulho" pela vilã, embora evidencie o cansaço em ter que responder aos fãs "quem matou Odete Roitman" por diversas vezes.

"Cada pessoa que me pergunta pensa que está sendo original. Mas eu não aguento mais."

Leia também: Beatriz Segall diz que fãs podem tirar foto com ela, mas não abraçá-la

No Twitter, a devoção do público por Odete é evidente.

Jovens que não eram nascidos durante a primeira exibição da novela aguardavam ansiosamente a chegada da vilã - criaram até perfis falsos de personagens da trama em que reproduzem frases do roteiro e gírias da época.

Neste outro vídeo abaixo, a atriz responde dúvidas dos internautas sobre a personagem e comenta a peça de teatro em que estreou na última semana, "Conversando com Mamãe", em cartaz no Rio.

Baseada no texto do cineasta argentino Santiago Carlos Oves, o espetáculo tem direção assinada por Susana Garcia e retrata os conflitos familiares entre uma mãe, vivida pela atriz, e seu filho, interpretado por Herson Capri.

Leia a reportagem com Beatriz Segall na coluna Mônica Bergamo, publicada na edição deste domingo da Folha:



Luciana Whitaker/Folhapress
Beatriz Segall, 84, em seu apartamento, no Rio

Beatriz Segall volta a viver o sucesso da vilã Odete Roitman e diz que tinha prazer em falar "aquelas coisas horrorosas" sobre o Brasil -pois todas, na sua opinião, eram verdadeiras

Faltam cinco minutos
para o meio-dia da última quinta-feira. "Vale Tudo", novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva reexibida pelo canal a cabo Viva, está prestes a começar. Enquanto, na ficção, os personagens da trama aguardam nervosos pela primeira aparição de Odete Roitman, o repórter James Cimino espera por Beatriz Segall, 84, atriz que há 22 anos deu vida à personagem, na sala do apartamento dela, no Leblon, no Rio.


Ela vai rever, duas décadas depois, a primeira cena que fez no papel mais emblemático de sua carreira e, talvez, da TV brasileira. Na tela, tia Celina (Nathália Timberg) liga para Odete em Paris. Enquanto isso, o telefone toca na casa de Beatriz. Sua inconfundível voz diz "Alô" duas vezes e faz eco com o som da TV. A ligação cai.
Beatriz surge em seguida e se senta no sofá para assistir ao folhetim. O canal pago, de repente, sai do ar.
Vera Lúcia, que há quatro anos trabalha para Beatriz, comenta: "Todo dia tem esse problema". Ela assiste a "Vale Tudo" para se lembrar de detalhes da trama e diz não seguir nenhuma novela atual. "São muito ruins. Agora, com a aparição da Odete Roitman, eu vou ficar no pé da dona Beatriz."
Com as mãos um pouco trêmulas, a atriz aperta os botões do controle remoto tentando sintonizar novamente o canal. A primeira cena que consegue ver é a do mordomo Eugênio (Sérgio Mamberti) dizendo que a aparição de Odete à trama é equivalente à chegada da Bruxa do Oeste no filme "O Mágico de Oz". "Que horror o que fizeram de mim", diz Beatriz.
Ela conta que Odete Roitman não foi apenas um papel popular. "Antes de "Vale Tudo", os atores pediam para ganhar mais para interpretarem vilões, pois não conseguiam fazer comerciais", afirma.


"Na minha época, ninguém queria fazer vilão. Em "Água Viva", a Tônia Carrero fez um pampeiro para não fazer a vilã e tivemos que trocar os papéis. Mal sabia ela que a Lurdes, o papel que ficou para mim, tomaria conta da novela. Aliás, acho que fiz um dos primeiros anúncios como vilã. O Washington Olivetto [publicitário] me ligou na véspera do assassinato da Odete. Eram 18h e ele estava bolando um anúncio para uma companhia de seguro. Usou uma foto minha com a frase: "Nunca se sabe o dia de amanhã. Faça seguro"."


Para ela, "a população está cada vez mais acostumada com os tipos vilões, principalmente na política". O cenário atual, diz, "é mais escandaloso" do que em 1988, quando a novela foi ao ar.


"O que se ouve nas conversas é que o brasileiro tem convicção absoluta de que tirar vantagem vale a pena. Acho que os governos de hoje são mais escandalosos, porque as coisas são feitas mais à vista. Às vezes até com o aval do presidente da República. O Brasil continua merecendo uma banana", diz ela, em referência à antológica cena do final de "Vale Tudo", em que o vilão (Reginaldo Faria) dá uma "banana" para o Brasil e foge.


De repente, a atriz interrompe o discurso político. Ela olha para a tela e aponta Claudio Corrêa e Castro como o maior ator do Brasil. Elogia em seguida a performance de Glória Pires e observa como Nathália Timberg estava bonita na época.


Renata Sorrah, a Heleninha, está em cena. Desesperada com a chegada da mãe, toma um calmante. Beatriz novamente comenta: "Olha só o estrago que "eu" faço. A Renata fez muito bem esse papel. Agora, a Glória Pires realmente brilhou".


É estranho ver a atriz elogiando tanto a personagem que a imortalizou e ao mesmo tempo a estigmatizou. Até hoje, é chamada de Odete na rua. Outro dia, em SP, diz que uma jovem chegou a arrancar-lhe os óculos escuros para ver seus olhos.


"Não é que me irrita. Me cansa. Foto eu não tiro. Uma vez o Claudio Corrêa e Castro foi processado porque um maluco tirou uma foto com ele e saiu pelo Brasil vendendo um espetáculo em seu nome. No teatro é mais difícil de evitar, mas quando as pessoas vêm eu falo: "Tudo bem. Só não me abrace!" Detesto intimidade forçada."


Esse tipo de afirmação rendeu à atriz uma fama de intratável. Ela diz não ter "a menor ideia" do porquê disso. Acha que o que acontece com ela é o mesmo que acontecia com Bette Davis.


"Aliás, é uma comparação que fazem volta e meia e que me deixa muito orgulhosa. Mas ela era antipática por natureza. Eu sou [do signo] de leão, mas um leão domado. Às vezes digo as coisas de brincadeira, mas com o semblante sério. Se a pessoa não tem senso de humor, não posso fazer nada. Mas não maltrato ninguém, não..."


No Twitter, a devoção do público por Odete Roitman é evidente. Jovens que não eram nascidos durante a primeira exibição da novela aguardavam ansiosamente a chegada da vilã. Criaram perfis falsos de personagens da trama em que reproduzem frases do roteiro e gírias da época como "visual bem transado" e "chérie" (bordão da personagem Solange).


Esses mesmos jovens comparam "Vale Tudo" com as novelas atuais, que consideram inferiores. Beatriz Segall acha que o que mudou a novela foi o dinheiro do anunciante e a concorrência.


"A Globo foi atrás do público dessas emissoras que começaram a produzir programas menos elaborados. Hoje vejo coisas na Globo que no tempo do doutor Roberto Marinho não aconteciam. Certo tipo de cena, de personagem, as bobagens que são ditas, a falta de consistência nos enredos...". E mais: "A Globo hoje não tem elenco para fazer um remake de "Vale Tudo'".


Sua relação com o ex-patrão era "muito distante". "Ele não dava muita confiança para a gente, não. Uma vez nós jantamos. A dona Lily [Marinho, mulher do empresário] foi muito simpática, me falou coisas. Fui à casa dele algumas vezes, mas nunca consegui desenvolver uma conversa."


Nesta semana, os fãs de Odete no Twitter farão uma festa para celebrar a volta da megera em uma cobertura no bairro de Perdizes. O nome: "Laje Tudo". A Folha pediu que eles mandassem perguntas para Beatriz responder como se fosse a vilã.


Uma delas foi a seguinte: "Odete, de que cor você pintaria aquela gentinha marrom [forma como ela se referia aos brasileiros]?" Beatriz gargalha e responde com o mesmo desprezo peculiar da personagem: "De marrom mesmo. É uma cor triste".


"Ela era engraçada. Dizia coisas horrorosas sobre o Brasil, mas eram todas verdadeiras. Eram coisas que os brasileiros precisavam ouvir, não com aquele pedantismo todo. Eu até nem gosto de falar isso, porque o público me confunde com a personagem, mas eu tinha prazer em falar aquelas coisas, porque elas precisavam ser ditas."


Odete surge em cena novamente. Beatriz grita: "Olha ela! As roupas, embora hoje estejam fora de moda, eram sensacionais. Eu acho essa cena emblemática. Ela define a Odete. Ela se derrete com o namoradinho que trouxe da Europa, humilha, manda. É pesada, grossa e malcriada com o genro. Essa novela tem cenas antológicas. Continua atual".


Tão atual que Beatriz não pensou duas vezes ao responder à seguinte pergunta de um internauta: "Dona Odete, você se foi há 20 anos e isso aqui continua a mesma merda. Por que voltou?". E Beatriz: "Para lembrar às pessoas que continua tudo uma merda".

FOLHA.com
Veja Beatriz Segall respondendo mais perguntas dos internautas

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