Parece que ninguém foi contra a presença das Forças Armadas no Rio de Janeiro no atual momento, já que a operação de caça à bandidagem, realizada com todo o êxito nesta semana, seria um fracasso completo sem o apoio de Exército, Marinha e Aeronáutica.
Destaco também um efeito colateral positivo nisso tudo: os militares vão, com esses atos, reconstruindo sua imagem perante os brasileiros porquê, depois de 21 anos de ditadura militar, os brasileiros criaram uma espécie de horror, de fobia em relação a tudo que se referia a milicos, principalmente ao Exército, e é muito bom, numa democracia, a população reconhecer o valor e para que servem, afinal, as Forças Armadas num Estado de Direito.
Aliás, nesse caso do Rio, o Exército fugiu da luta o quanto pode, só quando viu que os blindados da Marinha eram sucessos de público e crítica é que resolveu entrar, e sem seus soldados, o Complexo do Alemão não teria sido conquistado, com toda certeza.
Exército, Marinha e Aeronáutica no combate ao crime organizado é para ser uma exceção, nunca a regra.
As polícias é que devem ser aparelhadas e treinadas para exercer essa função, e se a segurança no Rio chegou ao fundo do poço, a responsabilidade é dos governadores , desde o ainda tão endeusado Brisola, aos recentes "Garotinho e Garotinha", e de suas políticas sem noção para o setor.
Lembro aqui que a operação militar atual não é a primeira.
Na Eco-92, o Rio virou cidade de primeiríssimo mundo, com o patrulhamento ostensivo do Exército.
No final de 1994, as Forças Armadas já haviam participado de ação muito parecida, e os resultados sempre foram positivos.
É muito provável que daqui a alguns dias o Rio esteja pacificado.
Mas sem a ação rápida do Estado para ocupar as áreas tomadas da bandidagem, veremos rapidinho a maioria pedindo outra vez as Forças Armadas.
Ao cidadão, resta torcer, e esperar que desta vez seja diferente.
As imagens das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro hasteadas no alto do Complexo do Alemão simbolizavam, ontem, a vitória das forças policiais e militares sobre o tráfico naquele território.
Mas eram, também, imagens para consumo da mídia nacional - principalmente as organizações Globo - e sobretudo, a internacional.
Afinal, neste momento, todos falam sobre a competência, do país para sediar a Copa de 2014, e a do Rio para fazer a Olimpíada em 2016.
Na sexta, o jornal francês "Le Monde" dizia:
"Violência acirra as dúvidas sobre a capacidade do Brasil organizar a Copa e os Jogos".
O inglês "The Guardian" foi bem mais direto:
"O Brasil está tentando limpar a cidade à beira-mar antes da Copa e dos Jogos Olímpicos".
Nada como um bom e velho jornal britânico para nos dizer as coisas que nossa mídia chapa branca nem ousa dizer, né?
A "limpeza à beira-mar" de que o "Guardian" fala talvez seja a primeira obra real de infraestrutura do país, a fim de viabilizá-lo aos interesses bilionários envolvidos nos dois eventos esportivos, e ninguém seria louco de dizer que se trata, desta vez, de uma limpeza cosmética, para inglês ver.
Nunca as forças repressivas do Estado haviam enfrentado os traficantes com tanta determinação e força organizada.
Organizada demais para quem foi apanhado de surpresa, já que há coisas ainda muito mal esclarecidas nisso tudo.
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse anteontem que não havia absolutamente nada provando de que a ordem para incendiar a cidade maravilhosa tinha saído de dentro dos presídios de segurança máxima - a mídia chapa branca é que vem repetindo isso como verdade incontestável.
Ao menos o ministro e o Secretário de Segurança carioca, Jose Mariano Beltrame, são sinceros de não entrar no "oba oba".
Outro exemplo é o do bilhetinho deixado como recado num dos ônibus incendiados, que dizia: "Com UPP não há Olimpíada".
Você acredita que um traficante seja alfabetizado pra escrever, e mais, que tenha realmente escrito isso?
Será que eu corro o risco de perder minha cidadania brasileira, se perguntar a quem interessaria o pânico que se instalou no Rio, e estranhar que isso tenha ocorrido logo após as eleições?
E eu tenho ainda mais uma pergunta: com tudo o que vimos nessa semana, o tráfico vai diminuir?
A verdade é que vai diminuir se o consumo diminuir.
Mas o consumo está diminuindo? Lógico que não, né?
As drogas - lícitas ou ilícitas - estão enraizadas na sociedade, e seguem os princípios básicos de qualquer comércio: se há gente que compre, há gente quem venda. Óbvio.
O que pode acontecer agora é o tráfico ficar mais sofisticado e, provavelmente, sem controle de territórios e tanta matança.
Só para lembrar: Nova York consome mais drogas do que o Rio, e nem por isso há mais mortes.
Por aqui, a questão é bem mais complexa do que prender traficantes.
O complexo é prevenir o consumo, com programas de educação, coisa nada impossível, porquê as pesquisas sobre drogas lícitas, como o cigarro, mostram que o consumo está caindo.
Aqui em São Paulo, uma experiência na qual jovens são treinados por especialistas em comunicação e saúde pública, para falar sobre os riscos de consumo de drogas permitidas ou proibidas pela juventude, mostra que, apesar do pouco tempo do programa - realizado na favela de Heliópolis - os primeiros resultados começam a aparecer.
O que combate o tráfico, na real, são programas de educação, emprego e saúde pública.
Ainda vai demorar muito tempo, mas as pessoas acabarão percebendo e aceitando que, desde que seja feito um acerto em nível mundial, legalizar a droga atualmente ilícita, para fiscalizá-la, se não é uma solução desejável, ao menos provocaria menos danos do que sua proibição.
ATÉ SEGUNDA!
*****
E você pode conferir essa coluna em vídeo HD, já postado no YouTube:
Destaco também um efeito colateral positivo nisso tudo: os militares vão, com esses atos, reconstruindo sua imagem perante os brasileiros porquê, depois de 21 anos de ditadura militar, os brasileiros criaram uma espécie de horror, de fobia em relação a tudo que se referia a milicos, principalmente ao Exército, e é muito bom, numa democracia, a população reconhecer o valor e para que servem, afinal, as Forças Armadas num Estado de Direito.
Aliás, nesse caso do Rio, o Exército fugiu da luta o quanto pode, só quando viu que os blindados da Marinha eram sucessos de público e crítica é que resolveu entrar, e sem seus soldados, o Complexo do Alemão não teria sido conquistado, com toda certeza.
Exército, Marinha e Aeronáutica no combate ao crime organizado é para ser uma exceção, nunca a regra.
As polícias é que devem ser aparelhadas e treinadas para exercer essa função, e se a segurança no Rio chegou ao fundo do poço, a responsabilidade é dos governadores , desde o ainda tão endeusado Brisola, aos recentes "Garotinho e Garotinha", e de suas políticas sem noção para o setor.
Lembro aqui que a operação militar atual não é a primeira.
Na Eco-92, o Rio virou cidade de primeiríssimo mundo, com o patrulhamento ostensivo do Exército.
No final de 1994, as Forças Armadas já haviam participado de ação muito parecida, e os resultados sempre foram positivos.
É muito provável que daqui a alguns dias o Rio esteja pacificado.
Mas sem a ação rápida do Estado para ocupar as áreas tomadas da bandidagem, veremos rapidinho a maioria pedindo outra vez as Forças Armadas.
Ao cidadão, resta torcer, e esperar que desta vez seja diferente.
As imagens das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro hasteadas no alto do Complexo do Alemão simbolizavam, ontem, a vitória das forças policiais e militares sobre o tráfico naquele território.
Mas eram, também, imagens para consumo da mídia nacional - principalmente as organizações Globo - e sobretudo, a internacional.
Afinal, neste momento, todos falam sobre a competência, do país para sediar a Copa de 2014, e a do Rio para fazer a Olimpíada em 2016.
Na sexta, o jornal francês "Le Monde" dizia:
"Violência acirra as dúvidas sobre a capacidade do Brasil organizar a Copa e os Jogos".
O inglês "The Guardian" foi bem mais direto:
"O Brasil está tentando limpar a cidade à beira-mar antes da Copa e dos Jogos Olímpicos".
Nada como um bom e velho jornal britânico para nos dizer as coisas que nossa mídia chapa branca nem ousa dizer, né?
A "limpeza à beira-mar" de que o "Guardian" fala talvez seja a primeira obra real de infraestrutura do país, a fim de viabilizá-lo aos interesses bilionários envolvidos nos dois eventos esportivos, e ninguém seria louco de dizer que se trata, desta vez, de uma limpeza cosmética, para inglês ver.
Nunca as forças repressivas do Estado haviam enfrentado os traficantes com tanta determinação e força organizada.
Organizada demais para quem foi apanhado de surpresa, já que há coisas ainda muito mal esclarecidas nisso tudo.
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse anteontem que não havia absolutamente nada provando de que a ordem para incendiar a cidade maravilhosa tinha saído de dentro dos presídios de segurança máxima - a mídia chapa branca é que vem repetindo isso como verdade incontestável.
Ao menos o ministro e o Secretário de Segurança carioca, Jose Mariano Beltrame, são sinceros de não entrar no "oba oba".
Outro exemplo é o do bilhetinho deixado como recado num dos ônibus incendiados, que dizia: "Com UPP não há Olimpíada".
Você acredita que um traficante seja alfabetizado pra escrever, e mais, que tenha realmente escrito isso?
Será que eu corro o risco de perder minha cidadania brasileira, se perguntar a quem interessaria o pânico que se instalou no Rio, e estranhar que isso tenha ocorrido logo após as eleições?
E eu tenho ainda mais uma pergunta: com tudo o que vimos nessa semana, o tráfico vai diminuir?
A verdade é que vai diminuir se o consumo diminuir.
Mas o consumo está diminuindo? Lógico que não, né?
As drogas - lícitas ou ilícitas - estão enraizadas na sociedade, e seguem os princípios básicos de qualquer comércio: se há gente que compre, há gente quem venda. Óbvio.
O que pode acontecer agora é o tráfico ficar mais sofisticado e, provavelmente, sem controle de territórios e tanta matança.
Só para lembrar: Nova York consome mais drogas do que o Rio, e nem por isso há mais mortes.
Por aqui, a questão é bem mais complexa do que prender traficantes.
O complexo é prevenir o consumo, com programas de educação, coisa nada impossível, porquê as pesquisas sobre drogas lícitas, como o cigarro, mostram que o consumo está caindo.
Aqui em São Paulo, uma experiência na qual jovens são treinados por especialistas em comunicação e saúde pública, para falar sobre os riscos de consumo de drogas permitidas ou proibidas pela juventude, mostra que, apesar do pouco tempo do programa - realizado na favela de Heliópolis - os primeiros resultados começam a aparecer.
O que combate o tráfico, na real, são programas de educação, emprego e saúde pública.
Ainda vai demorar muito tempo, mas as pessoas acabarão percebendo e aceitando que, desde que seja feito um acerto em nível mundial, legalizar a droga atualmente ilícita, para fiscalizá-la, se não é uma solução desejável, ao menos provocaria menos danos do que sua proibição.
ATÉ SEGUNDA!
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E você pode conferir essa coluna em vídeo HD, já postado no YouTube:
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