quarta-feira, 6 de junho de 2012

A SEMANA NA DIVERSIDADE: MUSEU GAY DE SP, A CURA DOS CRISTÃOS, JOGADORES GAYS E O BURACO JURÍDICO DO CASAMENTO GAY NO BRASIL



Separei para essa semana três textos muito legais:

MUSEU GAY NA PRAÇA DA REPÚBLICA É UMA GRANDE IDEIA

O jornalista Gilberto Dimenstein, do site Catraca Livre, reporta que a ideia de lançar o Museu Gay na Estação República, das linhas amarela e vermelha do metrô paulistano, é uma ótima e ousada ideia, porque é uma iniciativa pública, especialmente vinda de um governo estadual comandado por um fervoroso católico - Geraldo Alckmin.

Por ser a maior do mundo, a Parada LGBT projetou internacionalmente São Paulo como uma cidade cosmopolita e aberta à diversidade, diversidade que é o melhor da cidade e uma das razões que nos faz atrair o capital humano mais sofisticado do Brasil.

Um museu serve como símbolo dessa essência paulistana, onde, na mesma época, desfilam pelas ruas gays e evangélicos.


Estadão.com
A estação República, das linhas amarela e vermelha do metrô paulistano, abrigará o Museu Gay da cidade


Somos uma cidade em que um jovem - Lourenço Bustani - é escolhido como dos empreendedores mais criativos do mundo por ensinar como empresas podem ser associar a causas sociais, ou que jovens do ITA, num cubículo, tentam revolucionar a educação usando novas tecnologias.

Vemos uma romaria de fundos de investimento pousarem na cidade para financiar essas inovações, gerando toda uma comunidade de startups.

É aqui o quartel-general da América Latina do Google e do Facebook, ou de gente que reinventa a moda, a arquitetura e o design no Brasil, espalhando-se pelo mundo.

Não tem um único dia - um único - que não se conheça pelo menos um jovem com um projeto inovador.

A verdade é que estamos em uma das centralidades do mundo - basta ver o número de personalidades que pousam aqui diariamente.

O Museu Gay, que deve abrir suas portas já em 2013, é um tributo à diversidade que é a base da criatividade.

CURAR GAYS? ENTÃO CUREMOS CRISTÃOS!

O jornalista Leonardo Sakamoto postou em seu blog que, pior do que algum instituto de pesquisa obscuro revelar que encontrou a cura para a homossexualidade é o fato de nós, jornalistas, darmos espaço acrítico para a divulgação desses milagres científicos.

Isso gera audiência e leitura? Ô se dá!
Pais aliviados ficam agradecidos, uma vez que isso mostraria que seu filho ou sua filha apenas “padece de uma terrível doença” e seu comportamento “não foi um erro de criação”.

E, ao mesmo tempo, ajuda a reforçar como um desvio o fato de alguém ser atraído por uma pessoa do mesmo sexo.
E se é um desvio, pode ser corrigido. Arrumado. Consertado. Curado.

Imagine só, você não curte de verdade aquela pessoa - está apenas dodói.

Uma das primeiras orientações a estudantes de jornalismo é verificar a fonte da informação e tentar entender quais os interesses por trás dela.

Uma pesquisa que encontra algum “gene gay” financiada com recursos de organizações religiosas deve ser tão levada a sério quanto um estudo sobre os benefícios do tabaco bancado pela Souza Cruz ou a Phillip Morris.

E se fosse o contrário?


Imagem: Internet


Tempos atrás, recomendaram a Sakamoto o vídeo abaixo, que ironiza a situação.

Confira:

Todos têm direito a expressar sua fé, como todos deveriam ter direito de ter sua orientação sexual respeitada.

Ainda mais porque escolhemos a fé, não a orientação sexual.

O vídeo serve como provocação para ajudar a percebermos como os argumentos pífios que usamos podem ser ridículos quando voltados contra nós mesmos.

TORCEDORES ACEITAM JOGADORES GAYS

Em matéria para a Folha de S.Paulo, o jornalista Leonardo Lourenço reporta que o senso comum de que o futebol é um ambientes hostil para homossexuais parece não ser mais verdadeiro.

Uma pesquisa publicada em maio no "British Journal of Sociology" constatou que 93% dos torcedores aceitariam um jogador assumidamente gay em seus times.

O estudo foi conduzido por dois professores da Universidade de Staffordshire e baseado em um questionário respondido de forma anônima por 3.500 pessoas na internet.

O resultado, apontado como surpreendente pelos autores, "sugere a existência de uma cultura mais liberal e permissiva" entre os fãs.

Apesar de registrar a participação de voluntários de 35 países, a base era de torcedores de times britânicos: 85% dos que responderam.

"Isso demonstra um avanço da sociedade britânica", diz a professora Heloisa Helena Baldy dos Reis, especializada em sociologia do esporte da Unicamp.

Ela, porém, não discorre com o mesmo otimismo sobre a situação no Brasil.

"Estamos distante disso", afirma.
"A homossexualidade é motivo de ofensa no futebol. Os cânticos tentam ofender rivais pela sexualidade", lembra a professora.

"O futebol é o último bastião do macho", define ela.


Imagem: Internet


Segundo Heloisa, o ambiente atual não aceita esse tipo de revelação.
"É um reduto de masculinidade, que não pode ser ameaçado pela presença feminina ou pela de homossexuais", completa.

A professora, entretanto, crê numa mudança nessa mentalidade, mesmo que seja um processo demorado.
"O Brasil demonstra um atraso, mas o debate da sexualidade já foi incorporado pelas escolas, que têm que lidar com essa diversidade."

A mudança de comportamento com relação à presença de homossexuais no futebol não fez com que jogadores assumissem ser gays.

A resposta, segundo a pesquisa da universidade inglesa, está no conservadorismo dos clubes de futebol e dos agentes, mais preocupados com as consequências financeiras deste tipo de ato.

"Mesmo sob a luz desta descoberta, apenas um jogado na história do futebol britânico assumiu ser homossexual [Justin Fashanu, no começo da década 1990, que se suicidou em 1998]", diz Jamie Cleland, um dos autores.

"Torcedores culpam os empresários com medo de perder comissões. É o mercado que controla o futebol que proíbe os gays de se assumirem", conclui Cleland.

CASAMENTO GAY AINDA DIVIDE TRIBUNAIS BRASILEIROS

O jornalista Fábio Brisolla, da Folha de S.Paulo, reporta que a autorização para casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo está deixando sem rumo os tribunais brasileiros e as decisões têm sido tomadas de formas diversas em cada Estado do país.

No Rio, o juiz Luiz Marques vem negando todos os pedidos encaminhados por casais gays desde que assumiu a função de titular da Vara de Registros Públicos, há sete meses - ao justificar o veto, afirma que a lei associa casamento a homem e mulher.

Mas a posição do juiz não é consenso: Rio Grande do Sul e Alagoas, por exemplo, têm decidido de forma oposta.

Para oficializar um matrimônio, o primeiro passo é preencher um requerimento em cartório.
Se houver dúvida, o caso pode ser encaminhado para avaliação do juiz.

No caso do Rio, Luiz Marques orientou os cartórios cariocas a repassarem a ele todos os pedidos associados a casamento civil homoafetivo.


Imagem: Internet


"As decisões do juiz são fundamentadas e devem ser respeitadas", avaliza a desembargadora Maria Regina Nova, do Tribunal de Justiça do Rio, que, no entanto, tem uma interpretação diferente da lei.
"Eu entendo que a Constituição também veda expressamente atos discriminatórios, seja em razão de sexo, raça, cor ou religião."

São Paulo e Belo Horizonte seguem o exemplo carioca: nas duas cidades, as decisões quase sempre têm sido contrárias e julgamentos favoráveis surgem pontualmente em instâncias superiores.

Na última quinta, o Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou o casamento civil de um casal de dois homens de Bauru, interior do Estado.

Os resultados favoráveis chamam atenção em Porto Alegre e Maceió.

Na capital gaúcha, dois dos cinco cartórios da cidade vêm autorizando as uniões homoafetivas.
"Fui ao cartório em abril passado e, na mesma hora, marcaram a data. Deu tudo certo", comemora o arquiteto gaúcho José Pacheco, 39, que se casou no último dia 14.

Em dezembro de 2011, o Tribunal de Justiça de Alagoas autorizou os cartórios do Estado a habilitarem o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.
"Fizemos uma festa no ano passado para comemorar a união estável e agora estamos marcando o casamento", diz a cantora Luciana Lima, 28, que mora em Maceió com a mulher, a enfermeira Viviane Rodrigues, 33.

Já passou da hora de o Congresso Nacional votar uma lei, que abranja todo o país para que casais que queiram ficar juntos não fiquem à mercê desse buraco jurídico e sujeitos aos humores e preconceitos de juízes arcaicos e desconectados com a realidade atual.

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