De 1991 a 2009, aumentou em 53% o número de municípios com casos da doença nessa faixa etária.
São dados de uma pesquisa divulgada hoje, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, pelo Ministério da Saúde.
O governo lançará hoje também uma campanha de conscientização, voltada à discriminação sofrida por jovens com o vírus.
A iniciativa busca evitar situações como a vivida pela paulista Natasha Braz, 17, que nasceu com a doença.
"Um grupo de meninas da escola começou a gritar para ninguém ficar perto de mim, para não pegar Aids", diz - o vírus não é transmitido por proximidade física, e, sim, por sexo desprotegido ou por transfusão de sangue contaminado.
O paranaense Fabrício Stocker, 20, foi infectado pelo vírus no ano passado, ao transar sem camisinha.
"Eu achava que não aconteceria comigo", diz.
"A gente assume os riscos, pensa que é o Superman."
Kiko Sierich/Folhapress"Meus pais tinham medo de que os vizinhos soubessem. Mas vi que, quanto mais eu me escondesse, mais preconceito haveria" - Fabrício Stocker, 20
O baiano Oséias Cerqueira, 22, também contraiu o vírus aos 19 anos, por sexo.
Na época, ele decidiu não contar a todos sobre a doença.
"As pessoas não estão preparadas para saber, culpam você por ter HIV", diz.
O HIV é frequentemente associado a homossexuais com muitos parceiros, apesar de os dados oficiais mostrarem que há mais infecções entre jovens heterossexuais.
"Não precisa contar para transar, desde que você use camisinha", afirma Oséias.
"É uma coisa do foro íntimo."
Amanda Cristina, 18, age diferente com os namorados.
"Deixo claro desde o começo."
A garota - que adquiriu o vírus da mãe - conta que usa camisinha, inclusive para sexo oral.
Charles Guerra/Folhapress
"Aos nove anos de idade, uma médica me disse que eu tinha um bichinho na ponta do dedo e que ele ia me secar se eu não me alimentasse direito. Era HIV" - Amanda Cristina, 18
Ao esconder a doença, Oséias não podia explicar aos colegas da faculdade o real motivo dos vômitos durante as aulas, causados pelo tratamento para controlar o vírus e manter alta a resistência de seu organismo.
A combinação de remédios necessária é apelidada de "coquetel", e pode causar também diarreias e dores de cabeça - essas reações podem desmotivar jovens a se tratar, a chamada "não aderência ao tratamento", o que compromete a eficácia dos remédios e a qualidade de vida do soropositivo.
"É muito difícil tomar os medicamentos, e você pode ter de usá-los pelo resto da vida", diz Kleber Mendes, 27, soropositivo e idealizador da Rede Nacional de Jovens Portadores de HIV.
"Isso nos torna mais responsáveis do que a maior parte dos jovens."
"Precisa de vontade para continuar o tratamento", diz José Rayan, 18, de Manaus.
"Sofri muito, mas meu organismo se adaptou."
Alberto Cesar Araujo/Folhapress"Para quem está no início do tratamento, é muito ruim. Sofri muito, mas meu organismo se adaptou. Hoje, não sinto nada" - José Rayan, 18
Usar as medicações foi uma questão de sobrevivência para Hugo Soares, 23, de Belém.
Após passar anos com a saúde debilitada, ele fez exame de sangue aos 21 anos, e descobriu ser portador do HIV.
"Meus pais me diziam que era besteira fazer o teste" - ele acredita ter sido infectado por volta dos 16 anos.
"Resolvi fazer por contra própria", diz.
Hoje, após aderir ao tratamento, Hugo está com a saúde estável, mas o vírus ainda o afeta de outras maneiras.
"Eu estava concorrendo a uma vaga de emprego e apareci em um jornal local como portador de HIV". De repente, não havia mais vaga."
Editoria de Arte / Folhapres
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Matéria base: Diogo Bercito - caderno "Folhateen" - Folha de S.Paulo - 29.11.2010
Redação Final: Cláudio Nóvoa
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