sexta-feira, 27 de abril de 2012

'SETE DIAS COM MARILYN': MICHELLE WILLIAMS NÃO COMETE ERROS E PERSONIFICA UMA MARILYN MONROE SOLITÁRIA E VERDADEIRA


A primeira vez que eu fiquei arrepiado por conta do imenso talento da atriz Michelle Williams foi em uma cena de "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005).

Interpretando Alma, mulher do cowboy Ennis del Mar - Heath Ledger -  ela vivia sua vidinha de dona de casa alienada, até flagrar o marido aos beijos e amassos com pegada com Jack Twist - Jake Gyllenhaal -, seu grande amor.

A cena, com Alma dando o flagra sem que os dois a vejam, entrando novamente na casa e escancarando todo o seu desamparo, dor e ira por ter sido traída - ainda mais por um homem - é uma cena que eu jamais esquecerei, que nunca canso de rever, e que sempre me arrepia dos pés à cabeça.

Na vida real, Michelle acabou se casando com Ledger, tiveram uma filha e, apesar de apaixonados, estavam dando um tempo na relação quando o ator morreu em janeiro de 2008, aos 28 anos.

As fotos desse período não mentem: Michelle aparece sem o costumeiro brilho nos olhos, parecendo ter sentido muito a morte do companheiro e completamente desamparada.

Mas a vida seguiu, e Michelle continuou criando a filha e se entregando de corpo e alma aos seus personagens.

E foi assim, sabendo que Michelle é uma atriz soberba, detalhista e refinada, e que um dia usaria toda a dor do seu luto para compor algum personagem, que aguardei com muita ansiedade sua performance como a Diva das Divas das Divas (3 X!) de Hollywood Marilyn Monroe, em "Sete Dias com Marilyn", produção anglo-americana dirigida por Simon Curtis.
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Michelle Williams como Marilyn Monroe, em cena do filme

Felizmente, aqui Michelle Williams não comete o maior erro que outras atrizes que já personificaram a Diva cometeram, o de tentar imitar Marilyn Monroe - deusa das telonas única e inimitável tanto em beleza quanto em seu destino trágico - e recria com minúcias a alma atormentada da Diva, que morreu a 50 anos e desde então povoa o imaginário dos espectadores, fãs e da mídia em geral.

Cheia de nuances, e mesmo com um físico mais frágil que em nada remete às  famosas curvas da Diva, Michelle entrega uma interpretação delicada e verdadeira e é o veículo mais que acertado para transpor para as telonas o aclamado livro de memórias de Colin Clark (1932-2002), "Minha Semana com Marilyn" -  título original também do longa.
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Eddie Redmayne interpreta Colin Clark no longa

Na trama, um jovem aristocrata, Colin - interpretado por um inspirado Eddie Redmayne - tem como tarefa em seu primeiro trabalho profissional no cinema ser o assistente pessoal de Marilyn, que viaja pela primeira vez à Inglaterra para atuar em "O Príncipe Encantado" (1957) ao lado de Sir Laurence Olivier - considerado um dos maiores atores de todos os tempos.

Misturando a verdadeira incorporação da atriz ícone por Michelle e o encantamento de seu jovem auxiliar, vamos testemunhando várias nuances de humor no meio do caminho, onde o diretor e produtor britânico Simon Curtis jamais cai nos clichês e transforma o andamento do longa numa jornada de redescoberta da história de Marilyn, de Colin e do próprio público, que percebe algumas emoções de um primeiro amor - como na sequência que mostra a Diva escapando da filmagem com o assistente para uma divertida visita a uma escola, seguida por um mergulho, nua, num lago.
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Michelle Williams como Marilyn Monroe, escapando da filmagem para nadar nua no lago

Outro ponto muito bem desenvolvido no ótimo roteiro de Adrian Hodges é a tensão do veterano ator Sir Laurence Olivier - recriado com cinismo absolutamente britânico por Kenneth Branagh - diante da Diva, cuja exuberante sexualidade o desconcerta quase tanto quanto sua dificuldade em decorar as falas, o que atrasa irremediavelmente o cronograma da filmagem - atração que a mulher de Olivier, Vivien Leigh - vivida por Julia Ormond - assiste num misto de cinismo e conformidade.
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Keneth Branagh interpreta Sir Laurence Olivier, um dos maiores atores ingleses de todos os tempos

Vemos Marilyn imersa numa insegurança absurda - que a levava a ter por perto e por onde fosse uma entouràge de "protetores", como sua treinadora de atuação, Paula Strasberg, interpretada por Zoë Wanamaker - e que despertava nas pessoas que a amavam a vã ilusão de que podiam salvá-la, o que contagiou também o jovem Colin.

Porém, essa ilusão acabava à medida que todos constatavam estarrecidos a montanha russa emocional da Diva, que sempre acabava por afugentar os homens da sua vida, como o dramaturgo Arthur Miller - Dougray Scott , retratado no filme como um homem frio e distante - e o próprio Colin.
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Michelle em cena com Dougray Scott, que interpreta o marido de Marilyn, Arthur Miller

Com o encanto dos admiradores transformado em medo, Marilyn seguiu entregue a uma apavorante solidão, aos próprios fantasmas e aos barbitúricos que minaram sua resistência até sua morte precoce, em 1962, aos 36 anos.

Com um roteiro primoroso e elenco desses - que inclui também Dame Judi Dench e Emma Watson, entre outros - o diretor Simon Curtis não teve trabalho em transformar seu filme numa pequena obra prima.

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Dame Judi dench, em cena do filme

Pela primorosa interpretação, Michelle foi indicada ao Oscar 2012 e levou o Globo de Ouro 2012 de Melhor Atriz de Musical ou Comédia.

Confira o trailer do filme:

*****
'SETE DIAS COM MARILYN'
Título Original:
My Week with Marilyn
Diretor:
Simon Curtis
Elenco:
Michelle Williams, Eddie Redmayne, Julia Ormond, Kenneth Branagh, Pip Torrens, Emma Watson, Geraldine Somerville, Michael Kitchen, Miranda Raison, Toby Jones, Dame Judi Dench
Produção:
David Parfitt, Harvey Weinstein
Roteiro:
Adrian Hodges, baseado em livro de Colin Clark
Fotografia:
Ben Smithard
Trilha Sonora:
Conrad Pope
Duração:
99 min.
Ano:
2011
País:
Reino Unido/ EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Imagem Filmes
Estúdio:
BBC Films / Lipsync Productions / Trademark Films / UK Film Council / The Weinstein Company
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

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