quarta-feira, 4 de abril de 2012

GOVERNO IRAQUIANO DEU APROVAÇÃO PARA POLÍCIA 'ELIMINAR' GAYS E EMOS NO PAÍS


O iraquiano Hasan, 30, raspou o longo cabelo negro na semana passada.
"Para não me matarem", disse ao repórter da Folha de S.Paulo, Diogo Bercito, que foi até o país ouvir esse e muitos relatos escabrosos de como os jovens iraquianos estão sendo mortos, acreditem, a pedradas, apenas por serem emos ou gays.

Trancado em casa, em Bagdá, Hasan tem medo de ser o próximo alvo da onda de violência que vitima gays por todo o país.

Ativistas falam em até 90 mortes desde janeiro - nos últimos seis anos, a estimativa é de cerca de 800 vítimas.

Os cabelos compridos e as calças jeans justas vêm sendo associadas à cultura "emo", ligada à música "emotional hardcore" americana - no Iraque, os adeptos desse estilo são vistos como gays.

Em 13 de fevereiro, o Ministério do Interior do Iraque emitiu comunicado dizendo que emos são "adoradores do demônio" e autorizando a polícia a "eliminar" a moda.

Foi o que as milícias, que patrulham bairros, estavam esperando para  segundo testemunhas, apedrejar as vítimas até a morte.

“Obrigaram-no a morder a borda de um banco antes de lhe estourarem a cabeça com um bloco de cimento. Chamava-se Saif Asmar e era meu amigo. Amanhã pode ser eu mesmo”. Ruby (nome falso) se debate entre a ira e o choro enquanto segura uma foto de um jovem apenas reconhecível após o ataque.
Reuters
Saif Asmar, vivo e feliz, e depois, morto a pedradas

Os assassinatos têm causado pânico no país, daí o corte forçado de Hasan, que considerava o penteado um componente de sua identidade.

"Era lindo. Como o cabelo dos japoneses, preto e liso. Parecia uma nuvem na minha cabeça", diz, aos prantos.

Hasan costumava manter o cabelo longo e as calças jeans justas, mas hoje prefere evitar o risco.
"Quando polícia e milícias veem alguém que se cuida, que veste alguma coisa especial, que é bonito, que é limpo, eles batem nele. Dizem que não é normal."

Há debate público no Iraque, hoje, para elucidar as razões da violência contra gays.

Autoridades políticas e religiosas condenaram os assassinatos, chamando os atos de "terrorismo" e de "ameaça".

As críticas têm se voltado contra o governo e, apesar de o comunicado do Ministério do Interior do Iraque, retirado do ar na semana passada, ser ambíguo ao autorizar a "eliminação" de emos, ativistas apontam que o texto ajudou a incentivar as mortes.

"O ministério tem de ser responsabilizado pelo fracasso em proteger os cidadãos e por incitar a violência", diz Rasha Moumneh, pesquisadora do grupo Human Rights Watch -que emitiu parecer sobre o episódio.

A histeria pública, afirma Moumneh, serve para distrair a população das "questões reais", como a insegurança.

Para Andre Banks, diretor-executivo da ONG All Out, se o governo iraquiano não incentivou os assassinatos, também "não fez absolutamente nada para impedir".

Ele cita as listas que circularam em Bagdá nas últimas semanas, impressas com os nomes das futuras vítimas, a respeito das quais não foram tomadas medidas.

"Eles mataram meus amigos", lamenta Hasan, que anos atrás perdeu também o namorado - ao descobrir a relação entre os rapazes, o pai atirou na cabeça do filho.

O ativista gay Ali Hili, 38, que trocou Bagdá por Londres em 2002, diz que a situação piora "a cada dia" no Iraque.

Ele mantém a ONG Iraqi LGBT, com que diz lutar "para que haja diversidade no país".
"Bagdá era como um paraíso quando eu estava lá. Havia áreas para a paquera, bares gays, e ninguém ligava."

Hoje, Hasan reluta em se queixar de sua vida ao repórter - diz que não quer reclamar, que precisa ter paciência, que vai ficar tudo bem.
"É só não sair de casa. É a única coisa que posso fazer."

Um e-mail levou a jovem Madi a abandonar sua casa, e hoje esconde tanto seu paradeiro como seu nome real.
“Me ameaçavam dizendo que comunicariam a minha família que sou lésbica se não deixasse o país imediatamente”, lembrou a jovem de 26 anos.

“Muitas lésbicas morrem nas mãos de seus irmãos mais velhos. É mais um crime ‘de honra', uma espécie de assunto doméstico sobre o qual o governo nunca estabeleceu nenhuma investigação”, disse.

País medieval, estúpido e retrógrado, em pleno seculo 21: 
ATÉ QUANDO?

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