sexta-feira, 16 de março de 2012

'SHAME': ROTEIRO SEM FIM DEFINIDO E INTERPRETAÇÕES MARAVILHOSAS DE MICHAEL FASSBENDER E CAREY MULLIGAN


Ele tem o mesmo nome de uma das lendas de Hollywood, mas não se engane: o diretor britânico Steve McQueen é negro, jovem , e  "Shame" é o seu primeiro grande projeto  - de cara, disputou o prêmio máximo no festival de Veneza em 2011.

No longa, que estreia hoje no Brasil, Mcqueen dirige com rara maestria o ator alemão/irlandês Michael Fassbender, 34 anos,  seguramente um dos maiores atores de sua geração, que aqui interpreta Brandon, um charmoso executivo de trinta e poucos anos de Nova York e que é o que se convencionou chamar de "caçador urbano": ele passa todo o tempo seduzindo mulheres, masturbando-se em casa ou no escritório - onde passa o tempo todo vendo pornografia no computador e buscando sexo na Internet - masturba-se em banheiros públicos,contrata prostitutas...
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Michael Fassbender é Brandon, protagonista de "Shame"

Essa existência, por mais escravizante que seja, porém, é controlada, pois Brandon apesar de vicioso, em momento algum sofre socialmente por ele.

Até seu chefe aproveita-se de suas habilidades de "pegador" para levá-lo a casas noturnas e faz vista grossa quando técnicos do escritório encontram pornografia em seu HD.

Em casa, Brandon também não parece sofrer - é solitário, mas resignado.

Sua vida começa a se desfazer quando sua irmã Sissy - interpretada por Carey Mulligan - chega para uma visita surpresa.

Sua presença e sua carência pela total atenção de Brandon deixam de pernas pro ar a vida solitária do executivo, que passa então a rondar pelas ruas à noite em busca de novas aventuras sexuais - até num dark room de boate gay o hetero Brandon vai parar, para dar vazão à sua compulsão sexual.

A chegada de Sissy causa um rompimento não apenas no que estava estabelecido, mas também na estética do filme.
Divulgação
Carey Mulligan e Michael Fassbender, em cena do filme

Com uma câmera elegante e sets assépticos - que contrastam com o comportamento do protagonista -, McQueen reflete a fachada pública de Brandon.

Sissy é o elemento que traz confusão, deixa lixo pela casa e tem um comportamento completamente intrusivo onde cada um, à sua maneira, lida com traumas que o filme sequer deixa subentendidos - só nos resta imaginar o que transformou esses dois - com as excepcionais atuações de Fassbender e Muligan - em pessoas tão destruídas.

O diretor McQueen só exagera no uso de longas sequências: há um número de jazz que dura longos 4 minutos, e um encontro num restaurante mantém a câmera imóvel e sem cortes durante 6 minutos.

Entende-se que opção vá ao encontro da estética criada para a existência de Brandon, mas em um filme em que pouco - muito pouco - efetivamente acontece, essas cenas, além de cansativas, ficam desinteressantes para a condução da trama.

Por falarmos em trama, como o roteiro de Abi Morgan e McQueen opta por manter inexplorados os problemas anteriores dos dois personagens principais, quando eles finalmente explodem na tela há uma sensação de estranheza.

O que houve? 
Em sua exploração da compulsão sexual e a natureza das necessidades, o filme mostra os efeitos, mas nunca as causas.

O roteiro poderia ter sido melhor resolvido nesse sentido.
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Michael Fassbender, em cena do filme

Michael Fassbender e seu talento apareceram para nós primeiro na telinha - na série "Band of Brothers" (2001), dirigida por Steven Spielberg.

Nas telonas, apareceu bem em "Bastardos Inglórios" (2009), onde foi dirigido por Quentin Tarantino e também será visto em breve como o psicanalista Carl Jung no novo filme de David Cronenberg, "Um Método Perigoso" - ou seja, se os grandes diretores o escolhem para protagonizar seus longas, é porquê o cara é bom mesmo.

Pela atuação como Brandon, ele levou o prêmio de melhor ator em Veneza no último ano e, durante o festival, disse aos jornalistas que fazer as cenas de sexo do filme não foi fácil.
"Sim, foi desconfortável fazer as cenas de sexo", afirmou. "O mais importante foi que todos os envolvidos se sentiram o mais confortável que puderam. E eles simplesmente se lançaram e fizeram o que tinha de ser feito, então não tivemos de repetir muitas tomadas."

O diretor McQueen - cujo filme de estreia foi o aplaudido "Hunger", sobre os últimos meses do ativista do IRA Bobby Sands na prisão Maze, de Belfast - disse ver concordâncias entre os dois filmes.

"'Hunger" - que também tinha Fassbender como protagonista - claramente era um filme político, mas "Shame'"também é político. Aquele era sobre uma prisão na Irlanda do Norte, esse é sobre como a liberdade de alguém pode aprisioná-lo", afirmou.

Para encerrar, preferi postar aqui um dos pôsteres europeus do filme, abaixo - vocês vão entender porquê...

Confira o trailer do filme:

*****
SHAME
Título Original:
Shame
Diretor:
Steve McQueen
Elenco:
Michael Fassbender,Carey Mulligan, Lucy Walters, Mari-Ange Ramirez, James Badge Dale , Nicole Beharie, Alex Manette, Hannah Ware, Elizabeth Masucci
Produção:
Iain Canning, Emile Sherman
Roteiro:
Abi Morgan, Steve McQueen
Fotografia:
Sean Bobbitt
Trilha Sonora:
Harry Escott
Duração:
101 min.
Ano:
2011
País:
Reino Unido
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdio:
See Saw Films
Classificação:
18 anos
Cotação do Klau:

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