sexta-feira, 23 de março de 2012

'FINA ESTAMPA': NOVELA TERMINOU COM TODAS AS TRAMAS RESOLVIDAS E DE BEM COM O PÚBLICO


Com a missão de levantar a audiência da faixa das 21h da Globo, que vinha caindo novela após novela, Aguinaldo Silva apostou no arroz com feijão às vezes requentado e já mostrado em outros trabalhos seus, e se deu bem: “Fina Estampa” foi a novela do horário com maior audiência desde “A Favorita” - de João Emanuel Carneiro, exibida em 2009 - e terminou hoje com audiência média média de 39 pontos.

A novela começou muito mal, pois o bem contra o mal simples, Griselda Pereirão - Lilia Cabral - , contra Teresa Cristina - Christiane Torloni - deu ao espectador a nítida sensação de que já tinha visto esse filme.

O próprio autor acusou seu colega Walcyr Carrasco de ter se aproveitado da sua concepção de Griselda para o personagem de Cassia Kiss Magro na última novela de Carrasco para as 19h.

Realmente, as duas personagens se parecem, e muito: ambas são mulheres humildes, trabalhadoras, de princípios retos, corajosas, dedicada aos filhos estudantes de medicina e aos amigos.

A grande sacada de Aguinaldo, porém, foi fazer o contraponto a essa mulher caretérrima e chata que é Griselda com Tereza Cristina, uma mulher nascida rica, inescrupulosa, invejosa, má e, portanto muito melhor construída do ponto de vista da dramaturgia.
Twitter/Alexandre Nero
Rafael Zulu (Edvaldo), Guilherme Boury (Daniel), Eri Johnson (Gigante), Dira Paes (Celeste), Milena Toscano (Vanessa), Adriana Birolli (Patrícia), Carlos Casagrande (Juan), Juliana Knust (Zuleika), Sophie Charlotte (Amália) e Luma Costa (Nanda) assistem ao capítulo final da novela juntos

A novela começou a derrapar quando Griselda ganhou na loteria, ficou milionária, mas ainda ficou por muitos capítulos morando na mesma casinha simples de sempre e saindo para trabalhar com sua caixa de ferramentas e vestindo o macacão do Pereirão.

Isso jamais aconteceria no mundo real, e o autor só quis demonstrar assim que Griselda não se distanciaria jamais dos princípios corretos, pois pode ter ficado milionária, foi morar numa mansão, mas jamais contratou uma empregada ou faxineira e continuou usando o macacão no trabalho e passou também todo o restante da novela - inclusive no último capítulo, no pra lá de piegas discurso como paraninfa da turma de medicina do filho ex-mau caráter - vomitando lições de moral repetitivas, cansativas e muito, muito chatas.

Chatice que contaminou o seu núcleo, pois o filho sem caráter - Antenor, vivido por Caio Castro o genro bandidinho - Rafael, interpretado por Marco Pilgossi - e a nora piriguete/maria tatame Teodora - Carolina Dieckmann, enfim num bom papel - terminaram a novela morando todos na sua mansão, demonstrando assim que entenderam a diferença entre o certo e o errado - mais falso, impossível.
Twitter/Alexandre Nero
Atores da novela assistem ao último capítulo juntos

Contra essa chatice politicamente correta tivemos, felizmente, a vilã de filme da sessão da tarde Teresa Cristina, responsável pelos melhores momentos da novela e pelo núcleo de humor, formado pelo mordomo Crô - Marcelo Serrado, que vinha arrebentando na Record como protagonista e que retornou à Globo para fazer o papel da sua vida - o motorista Baltazar - Alexandre Nero,que vem melhorando a cada papel - o segurança Ferdinand e a empregada Marilda.

O núcleo só melhorou, quando a vilã começou um tórrido caso de amor com o ex-marido de Griselda - Pereirinha, magistralmente interpretado por José Mayer e seus "robalos" - e chegou ao ápice com a entrada em cena do delegado que investigou os muitos crimes de Tereza Cristina - tão atrapalhado quanto o Inspetor Clouseau.
AgNews
Christiane Torloni comemora com Aguinaldo Silva o sucesso de Tereza Cristina na festa de encerramento da novela

Outro grande acerto do autor foi colocar uma das Grandes Damas da teledramaturgia, Eva Wilma, como a trambiqueira e arrivista tia de Tereza Cristina.

Se já sabíamos que Eva sempre dá show como vilã, ficamos maravilhados em vê-la como uma lésbica idosa, casada com uma sapata - interpretada por Thaís de Campos - que terminou a novela caminhoneira! Sen-sa-cio-nal!

A cena final das duas, com a tia  Íris escolhendo como destino a cidade de Greenville - onde sua personagem Altiva depois de aprontar tudo com todos, desapareceu no céu gritando: "Eu Voltarei!" - e com Eva piscando para a câmera, dizendo: "Eu não disse que voltaria?" foi um dos melhores momentos das novelas, disparado.
AgNews
O autor Aguinaldo Silva e a Diva Eva Wilma, na festa de encerramento da novela

Assim, sem ter o realismo ou a lógica como meta, “Fina Estampa” cumpriu a contento a missão que Aguinaldo Silva recebeu: levantar a audiência do horário, ponto.

Assim, vários personagens entraram e saíram, outros não disseram a que vieram, núcleos perderam espaço de uma hora para outra e até mesmo uma novela de Glória Perez - "Barriga de Aluguel" - virou uma subtrama muito mal desenvolvida, onde atrizes do quilate de Renata Sorrah e Julia Lemertz foram sub-aproveitadas.

Os últimos golpes de Teresa Cristina e a sua fuga, no barquinho de Pereirinha, foram coerentes com o delírio visto nos 184 capítulos anteriores, mas em dimensão épica e é pena que não se tenha conseguido arrumar uma explicação convincente para a sanha de Tereza Cristina contra a família de Griselda - no desfecho, a vilã afirmou agir por "vício"...

Coerente como foi a cena final, com Griselda reencontrando Tereza Cristina - que todos pensavam estar morta - anos depois, e correndo atrás do carro da vilã empunhando uma chave inglesa, símbolo maior do Pereirão e de sua vida.
Reprodução da TV
Griselda "Pereirão" - Lília Cabral, na cena final de "Fina Estampa"

A novela terminou com todas as suas tramas e subtramas perfeitamente amarradas, o que sempre foi, aliás, a marca dos trabalhos de Aguinaldo Silva que, sem apelar para baixarias - só os demorados banhos de atores e atrizes foram um espetáculo à parte -  criou uma novela que não deixará muitas lembranças, com exceção, talvez, do tom usado por Marcelo Serrado para compor seu Crô - que era uma bichinha lesada, né?

Crô fez tanto sucesso que já se comenta, dentro da Globo, da possibilidade de ele ser personagem principal de uma série.

A Record já assumiu a dianteira e vai reprisar "Vidas em Jogo", onde o ator fez outro personagem caricato, um delegado, no mesmo horário da sucessora de "Fina Estampa", "Avenida Brasil".

Nenhum comentário:

Postar um comentário