A história de uma possível produção de um filme com o personagem John Carter - um soldado do Exército Confederado Americano rebelde na década de 1860 que misteriosamente acorda em Marte - criado em 1912 por Edgar Rice Burroughs - o mesmo criador de Tarzan - no livro "Princess of Mars" já daria um filme.
Em 1931, a Warner quis fazer um desenho animado com base no primeiro livro - o mesmo usado agora - mas a tecnologia da época não foi suficiente.
Teria sido o primeiro longa de animação da história - antes mesmo do clássico da Disney "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937) - e, por anos, ninguém se atreveu a faze-lo, em boa parte pelo enredo, detalhadíssimo.
Livro de sucesso, série da Marvel Comics escrita por Marv Wolfman e ilustrada por Gil Kane (1977-1979) também de sucesso.
Com a evolução da tecnologia digital, a possibilidade de recriar na telona o universo idealizado por Burroughs voltou a ser assunto em Hollywood.
Em 2009, o filme "Princess of Mars", pobrinho de dar dó pela produção tosca mas baseado no livro, foi lançado diretamente em homevideo - ainda segue inédito no Brasil.
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Cena do filme
Finalmente chegamos a 2010, quando o roteirista e diretor Andrew Stanton - vencedor de dois Oscars de melhor animação por "Wall-E" (2008) e "Procurando Nemo" (2003) - iniciou as filmagens de "John Carter - Entre Dois Mundos" e reuniu um time vencedor, a começar por Michael Chabon - ganhador do prêmio Pulitzer de Literatura por seu romance "The Amazing Adventures of Kavalier and Clay", que também assina o roteiro -, do desenhista de produção Nathan Crowley - indicado ao Oscar por "Batman - O Cavaleiro das Trevas" -, e do figurinista Mayes C. Rubeo - de "Avatar" e "Apocalypto".
O quarteto mergulha o espectador na alucinante viagem de John Carter - interpretado por Taylor Kitsch, o Gambit de "X-Men Origens: Wolverine" - quando ele decide desertar do campo de batalha, em 1868, para virar garimpeiro no Oeste dos Estados Unidos.
Carter topa com um alienígena numa caverna, e este o teletransporta acidentalmente para Marte - ou Barssom, no idioma local - habitado por criaturas estranhas e aterrorizantes, onde ele acaba em meio a uma guerra entre dois povos locais, e onde sua presença será fundamental.
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John Carter chega a Marte, no meio de uma grande batalha
Como possui uma composição orgânica diferente dos marcianos, a atmosfera do planeta dá a Carter superpoderes de resistência e força.
Só que Carter desistiu da guerra - onde toda a sua família morreu - e não quer se envolver com outra, ainda mais em outro planeta, até que topa com a gostosa princesa Dejah Thoris - Lynn Collins - mocinha desprotegida em busca de seu salvador - mais, a Disney não permite, né?
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Taylor Kitsch e Lilly Collins, em cena do filme: casal com química zero
Porém, Carter deverá enfrentar um segundo conflito: os "therns", a princípio seres espirituais devotados a uma deusa local, cujas intenções não ficam muito claras até o desfecho, o que caiu como uma luva apenas para tapar os muitos buracos do roteiro.
Com Willem Dafoe, Thomas Haden Church e Mark Strong - o único que aparece na forma humana - inacreditavelmente também no elenco, "John Carter - Entre Dois Mundos" é um épico, a começar por seu orçamento, de 250 milhões de dólares.
Mas é também um filme muito irregular e muito maniqueísta, onde a espera de alguma cena com um pouco mais de nuances para os personagens, além de uma boa edição para enxugar as mais de duas horas de exibição, nunca acontece.
A direção de arte, as criaturas, as cores em Marte e as naves impressionam, mas isso só não basta para um épico.
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As naves impressionam
Nem Edgar Rice Burroughs confiou muito no sucesso de sua história: na hora de assinar o livro, o fez com o pseudônimo de Norman Bean.
Só que a Disney, ambicionando conquistar o mercado adolescente, investiu pesado no filme, com retorno tão imprevisível como a pretendida sequência da história.
O estúdio espera um retorno no nível de "Carros" e "Piratas do Caribe", com capacidade para gerar renda também na televisão, em livros e em produtos licenciados, mas quem acompanha o setor acha que o longa - que estreia hoje no Brasil, em cópias 2D e 3D - pode se tornar um exemplo de filme caro e fracassado.
Fazer cinema em Hollywood sempre foi uma atividade arriscada, mas "John Carter" é parte de uma tendência que aumenta o grau de incerteza: nos últimos anos, os estúdios têm reduzido o número de filmes produzidos, focando nos de maior orçamento.
Quando dá certo, o lucro dura vários anos, na forma de sequências cinematográficas, brinquedos, videogames e até parques temáticos.
Já um fracasso pode custar dezenas de milhões de dólares.
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Taylor Kitsch como John Carter: protagonista bunitinho, mas ordinário
O analista Alan Gould, da Evercore Partners, estima que "John Carter" pode dar um prejuízo de 165 milhões de dólares, prejuízo preocupante, já que, no ano passado, a Disney amargou perdas de 70 milhões de dólares por causa de "Marte Precisa de Mães", e o estrago fez o faturamento do conglomerado ficar abaixo das expectativas dos analistas - com suas ações caíndo 3 por cento.
Confira o trailer do filme:
*****
'JOHN CARTER - ENTRE DOIS MUNDOS'
Título original:
John Carter
Diretor:
Andrew Stanton
Elenco:
Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Mark Strong, Ciarán Hinds, Dominic West, James Purefoy, Daryl Sabara, Polly Walker, Bryan Cranston, Thomas Hayden Church, Willem Dafoe
Produção:
Jim Morris, Colin Wilson, Lindsey Collins
Roteiro:
Michael Chabon, Andrew Stanton, Mark Andrews, baseados no romance de Edgar Rice Burroughs
Fotografia: Daniel Mindel
Trilha Sonora:
Michael Giacchino
Duração:
132 min.
Ano:
2012
País:
EUA
Gênero:
Aventura
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Disney
Estúdio:
Walt Disney Pictures
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:
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