Rodrigo Santoro é realmente um ator espetacular: consegue tirar leite de pedra - ao aceitar papéis em Hollywood muito aquém do seu talento, como o rei Xerxes, de "300" - sem riscar por um segundo seu carisma e prestígio.
Mas Santoro é bom mesmo na composição de personagens que exigem dele um mergulho de cabeça na vida, no gestual e na voz do retratado.
E foi justamente isso - um grande mergulho - que fez Santoro perder 12 quilos e treinar com o ex-jogador Cláudio Adão para interpretar uma das maiores lendas do futebol brasileiro e maior ídolo do Botafogo antes de Garrincha, Heleno de Freitas (1920-1959).
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Rodrigo Santoro, em cena de "Heleno"
Dirigido por José Henrique Fonseca e produzido pelo próprio Santoro, o drama "Heleno" já percorreu o mundo em festivais - levou um prêmio de melhor ator no Festival de Havana 2011 para Rodrigo Santoro - e, ao contrário do que muitos esperam, não versa sobre o mundo do futebol, e sim sobre o homem Heleno.
Com inspiradíssima fotografia em preto e branco - do premiado Walter Carvalho - o longa mostra um personagem trágico, que flertou com a fama e a glória mas tinha encontro marcado com a queda.
Ao contrário da maioria dos boleiros brasileiros, Heleno era filho de um industrial e proprietário de cafezal, era formado em Direito e tinha hábitos refinados, mas sua paixão maior era o futebol.
Entrou para o time do Botafogo em 1937 e ficou até 1948,com um impressionante recorde de 209 gols em 235 partidas.
Craque dentro de campo, Heleno era o cão em pessoa: perfeccionista e chegado numa briga, tinha poucos amigos, como o colega Alberto - interpretado por Erom Cordeiro - e o dono do time, Carlito Rocha - Othon Bastos - que depois dele se afastou.
Fora do clube, o atleta nunca deixou a vida boêmia e intensa: vivia no Copacabana Palace, mergulhado em champanhe e viciado em éter e lança-perfume, rodeado de mulheres com quem teve casos escandalosos, simbolizados no filme pela cantora Diamantina - interpretada pela atriz colombiana Angie Cepeda.
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Heleno, drogado e cercado pela biscataiada: começo da queda
Lógico que, com todos esses excessos na glória, o longa passa então a revelar o caminho da decadência, que não tardou a vir com uma sífilis, que causou loucura progressiva.
O boleiro também vestiu a camisa da seleção e ainda passou pelo Boca Juniors, o Vasco - onde obteve seu único título estadual, em 1949 - , o Atlético Junior de Barranquilla, o Santos e o América, onde encerrou tristemente a carreira.
Seu único filho, que teve com a única mulher com quem casou, Silvia - interpretada no filme por Alinne Moraes - nem o conheceu, já que a mãe, com medo dos acessos do marido, abandonou-o quando o menino tinha um ano.
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Alinne Moraes interpreta a mulher de Heleno, Silvia
A interpretação de Rodrigo Santoro é brilhante e tocante em todo o longa, mas é particularmente excepcional nos momentos finais, quando o jogador, extremamente fragilizado, encontra-se internado num hospital psiquiátrico em Barbacena (MG), onde viria a morrer, aos 39 anos, não contando com nada além da dedicação de um enfermeiro - Mauricio Tizumba.
Ao término da projeção, não tem como não lembrarmos de outros mestres da bola, que sucumbiram ao esquecimento e à morte.
Filmaço.
Confira o trailer do filme:
*****
"HELENO - O PRÍNCIPE MALDITO"
Diretor:
José Henrique Fonseca
Elenco:
Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Orã Figueiredo, Henrique Juliano, Duda Ribeiro
Produção:
José Henrique Fonseca, Eduardo Pop, Rodrigo Teixeira, Rodrigo Santoro
Roteiro:
José Henrique Fonseca, Felipe Bragança, Fernando Castets
Fotografia:
Walter Carvalho
Duração:
116 min.
Ano:
2010
País:
Brasil
Gênero:
Drama
Cor:
Preto e Branco
Distribuidora:
Downtown Filmes
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:
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