Quando "Procura-se Susan Desesperadamente" (1985) estreou, sua diretora, Susan Seidelman, procurava nas entrevistas explicar como seu projeto, de pequeno orçamento e apenas correto, estava levando multidões às salas de cinema no mundo todo.
É que a diretora teve sorte, muita sorte: quando foi filmado, cerca de dois anos antes, Seidelman escalou para o papel de coadjuvante uma aspirante a atriz e cantora desconhecida, que tinha morado em Paris com Patrick Hernandes - do hit "Born to be Alive" - e que a diretora considerava um grande talento.
Acontece que o tempo passou, e entre o período das filmagens e o lançamento do filme, a coadjuvante gravou um disco - que teve a faixa "Boderline" tocada à exaustão.
Quando o filme chegou finalmente aos cinemas, a coadjuvante já era uma estrela da música de primeiríssima grandeza - Madonna, que também emplacou na trilha sonora do filme mais um hit - "Into The Groove".
É essa sorte de cineasta - que Susan Seidelman teve - que falta à Madonna, atriz e cineasta.
Depois de "Procura-se Susan...", a Diva pop teve uma carreira como atriz muito mais de baixos que de altos: o ponto alto foi sem dúvida sua atuação como a dançarina e cantora dos anos 30 Betless Mallone em "Dick Tracy" (1990) - a Diva fez inclusive toda a trilha, que rendeu um ótimo disco, "I'm Betless", onde ela provou que era, sim, uma cantora com voz e talento.
Essa simbiose atriz + cantora teve o seu ápice quando ela, além de uma simpática ponta como uma professora de esgrima, compôs e interpretou a música da abertura de "007 - Um Novo Dia Para Morrer/Die Another Day" (2002), entrando assim para o panteão de grandes vozes femininas que já interpretaram uma música tema de um filme de 007 - entre elas, Shirley Bassey, Tina Turner e Dionne Warwick.
Os baixos, nem vale a pena ficar relembrando aqui, já que são muitos.
Mas a Diva queria mais das telonas, e se lançou como diretora em "Filth and Wisdom" (2008), uma bomba sem pé nem cabeça.
Agora, em "W.E. - O Romance do Século", sua segunda direção, a pop star arrisca tudo na sua devoção a um de seus ícones - Wallis Simpson (1896-1986) - e deixa para traz anarrativa de uma história sólida capaz de sustentar um roteiro.
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James D'Arcy e Andrea Riseborough, como Edward e Wallis, em cena do filme
Misturando a história real do romance entre Wallis Simpson - Andrea Riseborough -, plebeia americana duas vezes divorciada, e o rei Edward 8º - James D'Arcy - que renunciou por amor a ela ao trono britânico em 1936 - e uma jovem na Nova York atual, também chamada Wally - Abbie Cornish - obcecada pela figura da xará - a Madonna cineasta nada mais fez do que colar, na cara dura, toda sorte de clichês visuais, românticos e sentimentais.
Tudo resulta em um filme sem sal, sem tempero algum, em que nem mesmo a trilha sonora - inacreditavelmente premiada com um Globo de Ouro de melhor canção original - faz por merecer entrar para o portfólio musical da Diva - Elton John e o marido tiveram toda razão em reclamar depois da premiação.
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James D'Arcy e Andrea Riseborough, em cena do filme
A narrativa entrelaça episódios do turbulento romance dos anos 1930 - boa desculpa para um desfile de roupas de época que deram ao filme uma indicação ao Oscar de figurino - com a vida dessa sofrida Wallis moderna que, jovem, casada, rica e bonita, ora demonstra sua fixação por ter um filho - apesar de ser casada com um marido metido a macho alfa e violento - Richard Coyle - ora pelos objetos de Wallis Simpson - que estão em exposição para um futuro leilão pela casa Sotheby's.
Quase diariamente, Wally visita a exposição, onde passa muito tempo entre os móveis, objetos e roupas da xará - que o filme retrata mentirosamente como uma feminista importantíssima, que fugiu do primeiro marido espancador e se tornou a mulher libertária que fascinou o então príncipe Edward.
A presença de Wally fascina também o segurança da exposição, o russo Evgeni - Oscar Isaac -, bem mais intelectualizado do que parece e que deixou para trás uma carreira de pianista, e que faz de tudo para atrair sua atenção.
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Oscar Isaac - como Evgeni, e Andrea Riseborough - como Wallis, em cena do filme
É dessa constante inda e vinda entre as duas histórias românticas - a do passado e a do presente - que a diretora tenta estruturar seu roteiro - escrito em parceria com o amigo libanês Alek Keshishian, que foi o diretor do documentário "Na Cama com Madonna" (1991).
Como Madonna esperou que haveria um equilíbrio possível entre as duas histórias não se sabe, já que ninguém até agora teve a coragem de perguntar para ela, nas muitas entrevistas que a Diva vem dando desde o Festival de Cannes 2011 para promover o filme - na coletiva do evento,a diretora tentou retratar Wallis Simpson "como ser humano", mais um clichê envolvendo esta equivocada produção.
A história de Wallis Simpson é muito mais rara e cheia de detalhes muito mais saborosos do que a segunda, e o enredo não explica nunca a razão da atração de Wally atual por Wallis - a ponto de conversar com seu fantasma em momentos de intimidade, como uma espécie de alter ego a lhe dar conselhos.
Em Veneza 2011, fora de competição, o filme recebeu suas primeiras vaias.
Vai continuar levando muito mais vaias, mundo afora.
Confira o trailer do filme:
*****
"W.E. - O ROMANCE DO SÉCULO"
Título Original:
W.E.
Direção:
Madonna
Elenco:
Abbie Cornish, Andrea Riseborough, Oscar Isaac, Natalie Dormer, Annabelle Wallis, James D'Arcy, Richard Coyle, Laurence Fox, James Fox, Natalie Gal
Produção:
Kris Thykier, Colin Vaines
Roteiro:
Alek Keshishian, Madonna
Fotografia:
Hagen Bogdanski
Trilha Sonora:
Abel Korzeniowski
Duração:
Cansativos 120 min.
Ano:
2011
País:
Inglaterra
Gênero:
Comédia Dramática
Cor:
Colorido
Distribuidora:
PlayArte
Estúdio:
Semtex Films
Classificação:
16 anos
Cotação do Klau:
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