Lançado no início da década de 1990, a ficção "O Psicopata Americano" , de Bret Easton Ellis, chocou os Estados Unidos ao trazer, no papel de protagonista, Patrick Bateman, um mauricinho bem sucedido de 26 anos, que ganha a vida na Wall Street, frequenta festas cheia de cocaína e uísque, faz compras em lojas de grife e, nas horas tédio e vazio, sai por aí a assassinar mendigos, torturar prostitutas e fazer mal a qualquer um que lhe dê na telha.
Sem qualquer tipo de remorso ou culpa, ele segue para o próximo bar e o próximo drinque, como se nada tivesse acontecido.
O romance usa tintas cruas para representar uma geração de classe média alta consumista, sem valores e acostumada à banalização das agressões crescida nos anos 1980.
Com isto, a ficção transformou a "menina dos olhos do país", o homem americano ideal, em um monstro.
O incomodo gerado pela violência da obra foi tanto, que entidades feministas tentaram barrar sua publicação.
Enquanto isto, a primeira editora responsável pelo edição do volume abriu mão de lançar o livro e outros escritores tiveram que sair em defesa do autor e da liberdade de expressão.
Anos depois - em 2000 - o filme ganharia uma adaptação cinematográfica elogiadíssima com Christian Bale como o American Psycho do título, papel que o catapultou ao estrelato em Hollywood.
Lionsgate
Cristian Bale, em cena do filme Psicopata Americano", baseado no livro de Bret Easton Ellis
Leia trecho do livro:
"Perca toda a esperança aquele que aqui entrar" está rabiscado em letras cor de sangue na parede do edifício do Chemical Bank, próximo à esquina da Rua Onze com a Primeira Avenida.
Escrito num tipo grande o suficiente para ser avistado do banco traseiro do taxi, enquanto este vai dando guinadas no trânsito e saindo de Wall Street, e, justo quanto Timothy Price se dá conta daquelas palavras, um ônibus para e o anúncio de Les Misérables estampado na carroceria bloqueia-lhe a visão, mas Price, que no momento trabalha na Pierce & Pierce e tem 26 anos, parece nem ligar, pois promete ao motorista cinco dólares se ele aumentar o volume do rádio, a canção é "Be My Baby", e o motorista, que é negro, mas não é americano, obedece.
- Sou talentoso - Price começa a dizer. - Sou criativo, jovem, inescrupuloso, cheio de motivação, altamente qualificado. Em essência, o que eu estou dizendo é que a sociedade não pode se permitir me perder. Sou parte do ativo. - Price sossega, continua a olhar pela janela suja do táxi, provavelmente a palavra MEDO grafitada em vermelho na parede do McDonald's na Rua Quatro com a Sétima Avenida - Quero dizer que é fato que todos cagam para o trabalho que fazem, todo mundo odeia seus empregos, eu detesto o meu, e você me disse que odeia o seu. O que devo fazer? Retornar a Los Angeles? De jeito nenhum. Não pedi transferência da UCL para Stanford para aturar isso. Afinal, será que só eu acho que não estamos ganhando dinheiro bastante? - Como num filme, surge um outro ônibus, outro cartaz de Les Misérables substitui a palavra - não é o mesmo ônibus, por que alguém escreveu a palavra FANCHONA sobre o rosto da personagem Eponine, no cartaz.
Tim deixa escapar:
- Tenho um apartamento por aqui. Meu Deus, tenho uma casa nos Hamptons.
- É dos seus pais, cara. Dos seus pais.
- Estou comprando deles. Você quer aumentar o volume dessa porra? - diz num tom ásoeri, mas distraído, ao motorista, enquanto o conjunto Crystals continua a berraria no rádio.
Livro imperdível para quem quiser saber como a América começou a encaretar nos anos 80 e a se transformar na terra desse povinho reacionário e canalha de hoje.
Título: O Psicopata Americano
Autor: Bret Easton Ellis
Tradução: Luís Fernando Gonçalves Pereira
Editora: L&PM Pocket
Edição: 1
Ano: 2011
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 480 páginas
Quanto: R$ 22,10
Onde Comprar: Livraria da Folha
Cotação do Klau:
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