A lendária pérola conhecida como "A Peregrina" - que teve como última dona a Diva Elizabeth Taylor, retornou a Paris - onde pertenceu a Napoleão III e ficou em exposição até a semana passada - antes de ser leiloada ontem, juntamente com outras jóias da coleção de Taylor na Christie's de Nova York.
Assim como outras joias, a história desta peça da coleção da Diva de Hollywood (1932-2011) é grandiosa: esteve em poder de várias famílias abastadas do mundo, até mesmo por oito gerações em poder da Casa Real espanhola.
"É uma pérola impressionante. Foi encontrada no Panamá em 1579 e levada para Madri, onde foi adquirida por Felipe II e permaneceu com a Coroa espanhola durante oito gerações", declarou Jonathan Rendell, vice-presidente da Christie's.
"Ela foi retratada em muitas ocasiões em obras do pintor espanhol Diego Velázquez e é um objeto extraordinário. Ainda hoje é importantíssima para a Família Real espanhola, como símbolo de seu poder", declarou Rendell.
"Quando foi descoberta, era a maior pérola do mundo", detalhou Rendell, lembrando que a joia foi levada até Paris por José Bonaparte, onde a peça foi herdada por Napoleão III "e depois vendida ao duque de Abercorn, de família irlandesa, ficando em suas mãos até 1914, quando passou para a coleção do rei da Espanha Afonso XIII, que já havia comprado uma pérola de grande porte para sua esposa, a rainha Vitória Eugénia", acrescentou.
Rendell resumiu a história de "A Peregrina" no século XX: "a joia foi parar nos Estados Unidos e ali ficou até ser comprada por Richard Burton - marido da atriz por duas vezes - em um leilão, no fim dos anos 60 por US$ 37 mil".
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A pérola "A Peregrina" foi montada em um colar de pérolas, rubis e diamantes, feito pela Casa Cartier a pedido da Diva
Elizabeth encontrou inspiração em um retrato do século XVI para encomendar aos joalheiros de Cartier montar a peça em um colar de pérolas naturais, rubis e diamantes, destacando a beleza da "pérola mais perfeita do mundo", como foi descrita nos catálogos de venda.
"Acho que Elizabeth Taylor sabia absolutamente tudo sobre esta pérola e, na realidade, a usava com frequência, tanto em ocasiões especiais quanto em seus filmes, como 'A Megera Domada (1967)'", revelou o vice-presidente da Christie's.
"Historicamente é a peça mais importante que temos", completou Rendell.
No leilão de ontem (13), "A Peregrina" foi arrematada já na primeira metade da sessão por US$ 11,8 milhões - novo recorde mundial de venda de uma pedra preciosa durante um leilão.
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Comprador dá lance no leilão, ontem em NY
A expectativa em torno das peças era tal que a Christie's só permitiu o acesso à "zona nobre" de sua sede novaiorquina a quem abrisse uma linha de crédito de US$ 100 mil.
Não foi para menos, já que quatro horas depois os 80 lotes alcançaram quase US$ 116 milhões (R$ 210 milhões), muito acima dos US$ 30 milhões estimados inicialmente.
A única concorrente de "A Peregrina" na coleção da Diva - no que se refere ao valor e importância - é o "Diamante Elizabeth Taylor", de 33 quilates, avaliado em US$ 2,5 milhões.
Trata-se de uma grande pedra, a mais adorada pela atriz.
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"Diamante Elizabeth Taylor": jóia favorita da Diva e minha também!
"A 'Liz' Taylor gostava tanto desse diamante que para ela era uma espécie de 'baby', que ficava ao lado da saboneteira em seu lavabo, o que dá uma ideia de quanto ela a usava", comentou Rendell.
A pedra foi adquirida por Richard Burton quando era conhecia como "Diamante Krupp" e custou em 1968 cerca de US$ 300 mil, transformando-se em um símbolo da atriz, tanto que passou a ser reconhecida pelo seu próprio nome - o mesmo não ocorreu com "A Peregrina", que acabou ofuscando o "Diamante Taylor" no leilão - encontrou comprador por US$ 8,8 milhões.
Outra das "pérolas do leilão" foi um diamante plano com engrenagem de ouro conhecido como "Taj Mahal", com o qual Burton a surpreendeu em seu aniversário de 40 anos.
A joia foi vendida por US$ 8,8 milhões, enquanto um colar de esmeraldas e diamantes - assinado pela Bvlgari em estilo art déco - conseguiu US$ 5,9 milhões.
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Colar de esmeraldas e diamantes, da Bvlgari
Outro jogo de quatro peças de rubis e diamantes assinado pela Cartier acabou arrematado por US$ 9,6 milhões, incluindo um anel que alcançou US$ 4,2 milhões e um colar que saiu por US$ 3,7 milhões, enquanto um chamativo anel de diamantes amarelos - a cor preferida da Diva - chegou a US$ 2 milhões.
Outras joias negociadas foram uma tiara vendida por US$ 4,2 milhões, um anel de diamantes de cor conhaque - também presente de Burton à Diva - que saiu por US$ 2,3 milhões, e brincos de pérolas naturais e diamantes, avaliados em até US$ 600 mil e arrematados por quase US$ 2 milhões.
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Detalhe da tiara, arrematada por US$ 4,2 milhões
O leilão continuará nessa semana com a coleção de roupas da Diva, "toda a história da moda no século 20", na qual se destacam chamativos vestidos produzidos pela grife Pucci na década de 1960, jaquetas com pedraria feitas pela Versace nos anos 80 e várias peças de Christian Dior.
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Roupas, lenços, bolsas e malas da Diva também estão no leilão
Dois dos trajes que mais interesse despertaram são os vestidos que a protagonista de "Gata em Teto de Zinco Quente" usou nos dias de seus dois casamentos com Burton - em 1964 e 1975 - um de seda amarela assinado por Irene Sharaff, e outro de seda verde e rosa da estilista Gina Fratini.
Liz Taylor, que morreu após um ataque cardíaco em março, aos 79 anos, atraiu boa parte dos olhares durante a temporada de leilões deste ano, onde tiveram especial relevância alguns retratos da atriz, como "Liz 5", do rei da "Pop Art", Andy Warhol (1928-1987), vendido por quase US$ 27 milhões.
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Liz exibe o "Diamante Taylor", em 1969
Todo o dinheiro arrecadado com o leilão na Christie's vai direto para pesquisas que ajudam as vítimas e procuram a cura da Aids, a grande obra da vida dessa grande mulher.
Realmente, a Diva das Divas.
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