terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ESPECIAL: RYAN GOSLING - PERFIL


Na tarde de 17 de novembro, um dia depois do movimento Ocupe Wall Street ter paralisado o trânsito de Nova York na hora do rush, cerca de 15 piqueteiros tomaram a frente do prédio da Time-Life, no centro de Manhattan, para um tipo diferente de protesto. 

Usando máscaras com fotos de Ryan Gosling, os manifestantes foram para a frente da redação da revista People protestar contra a não seleção do ator canadense ao posto de Homem Mais Sexy da tradicional eleição anual da revista - o vencedor foi Bradley Cooper, de Se Beber Não Case.

Este foi um grande ano para Ryan: o ator apareceu em três filmes completamente diferentes e as performances foram notadas e muito elogiadas  pelos críticos e pelo público. 

Em Amor a Toda Prova, interpreta um jovem sedutor e elegante; depois, no drama dirigido por George Clooney - Tudo Pelo Poder,  que entrou em cartaz na última sexta (23) - vive um assessor ambicioso e idealista; e no independente Drive - que estreia agora em  6 de janeiro por aqui -, interpreta um dublê e piloto.


(Confira matéria sobre Tudo Pelo Poder, clicando aqui.)

Divulgação
Ryan Gosling em cena de "Amor a Toda Prova"; ator canadense está em "Tudo pelo Poder", de George Clooney
Ryan Gosling, em cena de "Amor a Toda Prova": muito bunitinho!

Seu nome, seu rosto e seu tórax estão em óbvia ascensão, mas Ryan quer ser reconhecido pelo talento. 

 Um ator meticuloso e carismático, mas sem a mesma habilidade de George Clooney, que faz ótimo uso do fato de ser um "sedutor com conteúdo".

Encontro o protagonista dessa dualidade na suíte de um hotel cinco estrelas em frente ao Central Park. 
Ele usa camiseta preta, calça de algodão cinza claro justíssima e sapatos cor de mostarda, sem meia. 
Não há indício de gordura no seu corpo, e ele faz a entrevista comendo uma banana. 
Antes de cada mordida, besunta a fruta com pasta de amendoim. 

Decido provocá-lo e pergunto como conseguiu o tanquinho que expõe em Amor a Toda Prova
"Não tive que malhar. Usei um software criado por James Cameron, em que um abdômen esculpido é inserido em cima de uma barriga pelancuda. O programa se chama abatar", brinca.

Ryan, 32, diz que repudia a fama, mas não parece uma alma atormentada: tem humor de sobra, é rápido de raciocínio e tem uma boa dose de auto depreciação. 
"Toda vez que divulgo um filme fico enojado comigo mesmo."

E não para de cutucar a correntinha que carrega no pescoço. 
"É do são Cristóvão, padroeiro dos viajantes. Foi a Carey Mulligan - atriz inglesa com quem contracena em Drive - quem me deu. Fui para o Congo no ano passado, e ela me deu a correntinha para eu não morrer. E eu não morri!"

Ele nasceu numa cidadezinha em Ontario, na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos, e teve um começo de carreira peculiar: seu sonho era virar bailarino. 

Mas, aos 13 anos, se inscreveu e acabou escolhido em um concurso da Disney que reuniu 17 mil inscritos e virou um dos mosqueteiros do programa Clube do Mickey Mouse, na mesma turma de Britney Spears, Justin Timberlake e Christina Aguilera
E se mudou para Orlando, na Flórida, onde o programa era gravado.

Essa formação do show durou três anos, em plena adolescência. 
Pergunto-lhe o que significou ter passado essa fase da vida em um parque de diversões. 
"A Disney me fascina até hoje. Eles sempre encontram novos meios de estimular o sonho das pessoas, especialmente o das crianças, assim como David Lynch estimula o imaginário sórdido. É esquisito, mas eu gosto da Disney." 

O ator tem uma estranha obsessão: leva suas conquistas amorosas a passeios pelos parques da Disney: só neste ano, foi fotografado entre o Dumbo e os Piratas do Caribe com as atrizes Blake Lively e Eva Mendes, sua atual - e sortuda namorada.

Aos 16 anos, mudou-se para Hollywood disposto a acontecer. 
Demorou um pouco, mas aos 20 conseguiu seu primeiro papel marcante - no filme Tolerância Zero (2001), em que interpretava um judeu neonazista. 

No ano seguinte - em Cálculo Mortal - roubou a cena e o coração da protagonista Sandra Bullock - que tinha 37 anos quando se envolveu com o jovem de 21.

Em 2004, experimentou o "momento Leonardo DiCaprio em 'Titanic'", com o sucesso do romance-sacarina Diário de uma Paixão
O filme sobre um amor complicado pelas diferenças sociais, baseado em best-seller de Nicholas Sparks, é até hoje seu maior sucesso. 
E seu namoro mais longo -  com a atriz Rachel McAdams, com quem ficou por três anos, terminou, voltou por mais um e terminou de novo.

Depois do momento ídolo-teen, Ryan optou por pequenos projetos que viraram queridinhos dos críticos.
 Em Half Nelson - Encurralados (2006), conseguiu sua primeira indicação ao Oscar
Em A Garota Ideal (2007), tornou verossímil o romance com uma boneca inflável. 
E em Namorados Para Sempre (2010), apresenta uma performance crua e intensa como um pintor de paredes que vê seu casamento fracassar.

Para tornar o drama conjugal do filme ainda mais intenso, ele e sua parceira de filmagem, a atriz Michelle Williams - indicada para o Oscar pelo papel - mudaram-se para a casa onde filmaram. 
Metódico, o ator revela que, antes de Drive, chegou a trabalhar como manobrista numa garagem em Los Angeles e aprendeu a montar e desmontar o automóvel que dirige no longa.

Em Tudo Pelo Poder - em que interpreta o assessor de imprensa de um candidato à presidência dos EUA, interpretado por George Clooney -  ficou obcecado pela política americana.
 "Algumas pessoas entendem isso como uma coisa de poseur", lamenta. 
"Vejo como um dom: tenho curiosidade de entender meus papéis. Não consigo ser falso em cena."

Existe algum dom que não possui?, provoco. 
Ele mostra uma tatuagem tosca no braço esquerdo, um desenho que não parece com nada que vi antes. 
"Eu mesmo fiz. Era para ser a mão de um monstro deixando escapar um coração sangrando", ri.
 "Isso que dá tentar fazer sua própria tatuagem com uma maquininha de US$ 30 comprada na internet."

Talvez os manifestantes na porta da revista People não conheçam esse ângulo do ator. 
Ou não se importem.

Eu não me importo.
*****
Matéria de Marcelo Bernardes para a revista "Serafina", da Folha de S.Paulo
Redação final e pitacos: Cláudio Nóvoa

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