terça-feira, 12 de maio de 2015

FESTIVAL DE CANNES 2015 COMEÇA AMANHÃ COM FILME FRANCÊS NA ABERTURA E DE OLHO NOS SERVIÇOS DE STREAMING


Um filme protagonizado pela grande Diva do cinema francês Catherine Deneuve abrirá amanhã (13) a  68ª edição do Festival de Cannes.

Nesse ano, outra Diva das telonas será homenageada: a atriz sueca Ingrid Bergman (1915 - 1982) é o rosto do cartaz oficial da edição deste ano, que terminará no dia 24 de maio, com o anúncio da Palma de Ouro - prêmio máximo de Cannes.

Hoje, inclusive, um enorme cartaz, de 11 por 24 metros, foi instalado na fachada do Palácio do Festival na Croisette, badalada avenida à beira-mar da linda cidade da costa azul francesa e onde acontecem as principais exibições e também as premiações.

O sorriso de Ingrid Bergman -  atriz que trafegou muito bem entre o cinema europeu e os grandes filmes de Hollywood, como 'Casablanca' (1942) e que receberá um tributo especial pelo centenário de seu nascimento - dará as boas-vindas a dezenas de estrelas e cineastas.

Cartazes oficiais, com o rosto da Diva Ingrid Bergman, decoram o Palácio do Festival- Benoit Tessier/Reuters

Ao contrário dos anos anteriores, quando o festival começou com filmes repletos de glamour  - como "Grace de Mônaco" ou "O Grande Gatsby" -  os organizadores optaram desta vez por um longa-metragem de temática social, "La Tête Haute", onde Catherine Deneuve, 71, interpreta uma juíza da vara de menores que tenta reabilitar um delinquente.

Pela primeira vez em mais de 30 anos, o filme de abertura - que não integra a mostra competitiva - é  dirigido por uma mulher, a francesa Emmanuelle Bercot.

"Estou muito honrada e muito intrigada, porque é uma escolha totalmente inesperada. Sinto-me bastante comovida de que um filme como este ganhe tanto destaque, de maneira tão prestigiosa, na abertura do festival", confessou à AFP a cineasta, de 47 anos.

Outros filmes de temática social estão entre os 19 que disputam a Palma de Ouro ou nas mostras paralelas de Cannes - o cinema francês, com quatro filmes na mostra oficial, e o italiano, com três, são os destaques da edição 2015.

Apenas um filme latino-americano, "Chronic", do mexicano Michel Franco, concorre à Palma de Ouro.

O badalado balneário, que recebe dezenas de iates luxuosos para o festival, também dá os retoques finais aos espaços provisórios erguidos na praia para as festas noturnas.

A superprodução de "Mad Max: Estrada da Fúria" montou sua gigantesca tenda diante da fachada do hotel Carlton para a estreia, em 14 de maio.

Também já estão presentes os caçadores de autógrafos e outros fãs, que todos os anos acampam perto das barreiras de proteção, diante do tapete vermelho.

A polícia reforçou o dispositivo de segurança após os atentados jihadistas de janeiro em Paris e para enfrentar a onda de assaltos registrada todos os anos na cidade.

As estrelas de cada filme devem caminhar pelo red carpet, de 60 metros de comprimento por quatro de largura.

Os organizadores (franceses) recomendaram um limite às selfies, que consideram de mau gosto - mas fã que é fã não está nem aí para a recomendação.

Francesa, Catherine Deneuve entrou na batalha anti-selfies e ironizou os "famosos" com milhões de seguidores nas redes sociais que "nunca fizeram nada".

"Uma estrela é alguém que deve mostrar-se pouco e permanecer reservada", disse a Diva, imortalizada por Luis Buñuel em "A Bela da Tarde".

"La Tête Haute" (Standing Tall), de Emmanuelle Bercot, será o filme de abertura do festival e o primeiro a ter uma mulher na direção a abrir o evento desde 1987. No filme, Catherine Deneuve é uma juíza de menores que tenta intervir na vida de um adolescente - Divulgação

Passarão pelo red carpet nas próximas duas semanas estrelas como Cate Blanchett, Benicio del Toro, Matthew McConaughey, Michael Fassbender, Marion Cotillard, Colin Farrell, Michael Caine, Jane Fonda, Salma Hayek e Gerard Depardieu.

No total, a organização encomendou 83 rolos de tapete vermelho para os 26 mil metros quadrados das diversas instalações do festival, incluindo os 8.000 que cobrem os 24 degraus da entrada principal do Palácio dos Festivais.

Trinta e seis salas de projeção, que vão de seis a 2.300 lugares de capacidade, programaram 1.500 sessões, incluindo a sala principal, totalmente reformada para a 68ª edição, que celebra os 120 anos da invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière.

Outros dois irmãos famosos da sétima arte, os cineastas americanos Joel e Ethan Coen, presidem o júri de nove integrantes responsável por definir o vencedor da cobiçada Palma de Ouro, um dos prêmios mais importantes do cinema mundial.

Em um momento em que espectadores do mundo todo trocam os filmes de autor por séries sofisticadas - como "Mad Men" e "Downton Abbey" - e no qual se pode baixar os filmes na internet meses antes de estrearem em seu país, qual é o papel de um festival como Cannes, plataforma de estreias mundiais, de um cinema mais autoral?

Os organizadores do festival não parecem interessados em responder, mas o Mercado de Cannes, onde os filmes são comprados e vendidos, tomou a pergunta para si.

Tanto que um dos eventos mais aguardados do ano não é nenhum filme da competição pela Palma de Ouro, mas uma palestra que Ted Sarandos, diretor de conteúdo do serviço de streaming Netflix, que vai falar sobre como as novas formas de distribuição de filmes (leia-se "via internet") estão afetando o financiamento e a produção dos longas.

É a primeira vez que um executivo da empresa fala em um festival dedicado ao velho cinema.

É fato que Cannes precisa dos filmes mais pop para atrair a mídia, mas os estúdios americanos temem que uma crítica negativa em massa recebida no festival prejudique seus filmes.

Os organizadores negam, mas tudo indica que a Warner Bros.  não quis abrir o festival com "Mad Max: Estrada da Fúria" com medo de uma reação negativa como a que "Grace de Mônaco", mesmo estrelado por Nicole Kidman, teve no ano passado.

Para segurar os olhos do mundo, os filmes mais aguardados por um grande público estão fora da competição pela Palma de Ouro: as animações "Divertida Mente", da Pixar, e "O Pequeno Príncipe" - do diretor de"Kung Fu Panda"; o novo Woody Allen com Joaquin Phoenix, "Homem Irracional"; o aguardado documentário sobre Amy Winehouse, que já tem causado polêmica com a família da cantora e "Love", do francês Gaspar Noé, que promete as cenas em 3D mais picantes do ano.

"Amy", de Asif Kapadia: em sessão especial, o aguardado documentário sobre a cantora Amy Winehouse será exibido no festival, com muitas cenas inéditas e de bastidor - Reprodução

Mas cinco filmes de dentro da Competição devem fazer de Cannes plataforma para uma bela estreia internacional, lançando-os ao Oscar: "The Sea of Trees", primeira parceria de Gus Van Sant com o astro Matthew McConaughey; "Sicario", novo filme de Denis Villeneuve (do elogiado "Os Suspeitos"), com Josh Brolin e Benicio del Toro duelando no narcotráfico mexicano.

"The Sea of Trees", de Gus Van Sant: Matthew McConaughey e Ken Watanabe são dois homens que estão prestes a tirar a própria vida e se encontram por acaso no Japão em um lugar chamado "floresta do suicídio" - Integra a competição oficial - Divulgação

Há ainda "Youth"(Juventude), primeiro filme do italiano Paolo Sorrentino após o Oscar por "A Grande Beleza" - que promete atuações memoráveis de Michael Caine, Harvey Keitel e da Diva das Divas Jane Fonda - e "Carol", de Todd Haynes, que deve render mais uma indicação a Cate Blanchett como uma mulher casada nos anos 1950 que é objeto da paixão de uma moça mais jovem (Rooney Mara).

Michael Caine, em cena de "La Giovinezza" (Youth), de Paolo Sorrentino: no longa, o ator é um maestro de orquestra aposentado que recebe um convite para se apresentar para a rainha Elizabeth II - Divulgação

Michael Fassbender e Marion Cotillard também são bons candidatos à Palma, encarando Shakespeare no "Macbeth" do australiano Justin Kurzel.

Outra forte tendência que deve se repetir cada vez mais nos próximos anos: nunca o festival teve tantos diretores de língua não inglesa rodando seus filmes em inglês, numa pressão crescente dos produtores para chegar mais forte ao mercado americano e internacional.

Além de Sorrentino, é o caso de outro italiano, Matteo Garrone ("O Conto dos Contos"), do grego Yorgos Lanthimos ("The Lobster") e do mexicano Michel Franco ("Chronic").

Para os fãs do cinema com "C" maiúsculo, a lista nunca decepciona: o melhor diretor do mundo hoje é chinês, se chama Jia Zhangke e é seríssimo candidato à Palma com seu novo filme, "Mountains May Depart".

Tem ainda o taiwanês Hou Hsiao Hsien (de "A Viagem do Balão Vermelho"), o francês Jacques Audiard (de "Ferrugem e Osso"), o italiano Nani Moretti (de "Habemus Papam") e o japonês Hirokazu Kore-Eda (de"Pais e Filhos").

Pode-se dizer que Pierre Lescure, o novo presidente do festival, fez algumas escolhas ousadas para a Competição: preferiu tirar da disputa principal e jogar para a mostra  paralela 'Un Certain Regard/Um Certo Olhar' nomes que já competiram pela Palma, como o tailandês Apichatpong Weerasethakul ("Tio Boonmee..."), a japonesa Naomi Kawase ("OSegredo das Águas") e o filipino Brillante Mendoza ("Lola").

Mas a beleza de Cannes é que a grande surpresa do ano pode estar numa das mostras paralelas, a Semana da Crítica ou a Quinzena dos Realizadores, como o francês "O Pequeno Quinquin" ou o polêmico "A Gangue" no ano passado.

É torcer para que as surpresas sejam muitas - e, se não merecerem uma boa tela grande no Brasil, que cheguem pelo Netflix ou por outros canais numa TV ou computador nas nossas casas.

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