SINOPSE:
No Velho Oeste americano, fazendeiro covarde procura a ajuda da esposa de um pistoleiro para reconquistar a mulher que o deixou.
CRÍTICA:
O ator, dublador, animador, roteirista, comediante, produtor, diretor e cantor americano Seth MacFarlane confessa: não está nem aí para o que falam sobre suas comédias - campeãs de audiência na TV e no cinema.
Foi assim com a politicamente incorreta animação 'Family Guy/Uma Família da Pesada', sucesso no canal Fox desde 1999 e indicada para doze prêmios Emmy e onze Annie - ganhando três de cada um - em 2009, foi indicada ao Emmy de melhor série de comédia, sendo a primeira vez que uma série de animação é indicada para essa categoria desde 'Os Flintstones', em 1961.
Seth MacFarlane como Albert, protagonista do longa - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Universal Pictures |
Só que ele queria mais e aí ele nos deu 'Ted' (2012), história centrada em um trintão (Mark Wahlberg) que não cresceu e que tem como melhor amigo um urso de pelúcia (voz do próprio MacFarlane) que toma todas, fala palavrão, apavora com a mulherada e fuma quilos e quilos de maconha.
Enfim, Seth MacFarlane é um sopro de criatividade e bom humor contra uma América cada vez mais careta - o que eu gosto demais - e agora, atingiu o patamar que poucos em Hollywood conseguiram: liberdade para fazer praticamente o que queira.
Liam Neeson interpreta Clinch |
Só que ele surpreendeu e escolheu algo inusitado: 'Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola', que estreia hoje em 90 salas em todo o Brasil e é uma paródia caprichada de faroeste, gênero que não rende sucessos de bilheteria há muitos anos.
Estão presentes nesta comédia todos os elementos famosos do western - os saloons onde os atiradores tomam tudo, as donzelas, os duelos ao meio-dia na rua principal da cidade, as fugas a cavalo em planícies desérticas - e isso é a primeira surpresa que MacFarlane nos entrega.
Amanda Seyfried é Louise |
Recentemente, as comédias destinadas a adultos têm brincado com a convivência entre opostos: o policial inteligente contra o policial burro ('Anjos da Lei'), a casa silenciosa contra a casa barulhenta ('Vizinhos'), a policial dedicada contra a policial irresponsável ('As Bem-Armadas'), a irmã abusada contra o irmão ingênuo ('Família do Bagulho') e até 'Ted' brincava com essa contradição, ao embutir na figura dócil do urso de pelúcia uma personalidade grosseira e irresponsável.
Ainda bem que Macfarlane sempre surpreende e este novo faroeste foge à estrutura dos opostos: alguns elementos são subvertidos, mas os personagens permanecem dentro das regras do gênero, com a presença do vilão temido, a donzela doce e assim por diante já que aqui temos menos uma crônica do que uma caricatura, um exagero dos clichês consolidados - ideia interessante, mesmo que o espectador nunca sabe muito bem de que maneira ele pretende subverter o western.
Charlize Theron como Anna |
E as misturas costumeiras do realizador logo aparecem: alguns personagens capricham no sotaque sulista, outros falam como nova-iorquinos, Liam Neeson assume seu sotaque irlandês, alguns estão vestidos como se de fato estivessem no século XIX, MacFarlane (também protagonista) apresenta um penteado contemporâneo, parte do elenco adquire gestos de caipiras, outros assumem composições de personagem do século XXI.
Embora certas piadas façam referência ao estilo de séculos atrás, os diálogos são recheados de gírias atuais e o ótimo roteiro detona tudo o que a América branca venera - por isso, se você não conhecer a fundo o que se passa no dia a dia na nação mais poderosa do planeta, você não entenderá algumas piadas.
Se tudo poderia funcionar melhor se MacFarlane tivesse entregado o papel de protagonista para um ator melhor que ele, felizmente ele se cercou de um elenco muito acima da média: Giovanni Ribisi e Sarah Silverman são hilários, roubando a cena nos poucos momentos em que aparecem, e Charlize Theron é de fato uma atriz muito completa, se saindo bem tanto nas piadas mais grosseiras (como a “bunda de negona”) quanto nos instantes dramáticos, em que consegue dar uma profundidade interessante a sua personagem.
Sarah Silverman (Ruth) e Giovanni Ribisi (Edwald) |
Também na direção, MacFarlane tem algo a aprender com Mel Brooks e outros cineastas que já se arriscaram nas sátiras de faroeste: o humor verbal é obtido através do roteiro e dos diálogos, sobrando pouca comicidade à construção das imagens.
As cenas de duelo, ou os momentos dentro do bar, mostram a dificuldade em imprimir o ritmo ágil necessário à comédia e mesmo uma simples conversa (o diálogo entre o protagonista e Amanda Seyfried, no início da trama) fica empobrecida pelo insistente plano e contra-plano no rosto dos atores.
O que todos pensávamos que seria falta de experiência, Macfarlane disse recentemente ser respeito às regras do gênero, e justamente por isso, não se permitiu criar gags puramente visuais, dependendo das piadas proferidas por cada personagem.
MacFarlane ficou famoso com textos ácidos e sarcásticos, às vezes qualificados de misóginos (vide a sua apresentação do Oscar), mas sempre cutucando as representações familiares e de gênero.
Aqui, o roteiro traz algumas piadas realmente inteligentes e irônicas sobre o racismo e sobre a posição social das mulheres, insiste em piadas infantis envolvendo todo o tipo de escatologia e personagens que tropeçam e caem.
Assim,ele se sai muito bem em combinar dois tipos de humor praticamente incompatíveis: a comicidade de cunho social para adultos, estilo Sacha Baron Cohen, e a comicidade mais apelativa para plateias familiares, estilo Adam Sandler.
Neil Patrick Harris como Foy |
Como resultado, quase todos os espectadores vão rir muito durante a projeção, mesmo sendo esse longa uma obra muito heterogênea, que tenta usar recursos demais, e agradar plateias demais.
Se escolhesse um único mote cômico, o diretor poderia explorá-lo em todos os contextos possíveis, mas o resultado final resulta em algo que todos queremos quando vamos ao cinema ver uma comédia: rir bastante.
TRAILER DO LONGA:
FICHA TÉCNICA:
'UM MILHÃO DE MANEIRAS DE PEGAR NA PISTOLA'
Título Original:
A MILLION WAYS TO DIE IN THE WEST
Gênero:
Comédia
Direção:
Seth MacFarlane
Roteiro:
Alec Sulkin, Seth MacFarlane, Wellesley Wild
Produção:
Jason Clark, Scott Stuber, Seth MacFarlane, Wellesley Wild
Elenco:
Seth MacFarlane, Charlize Theron, Amanda Seyfried, Liam Neeson, Giovanni Ribisi, Neil Patrick Harris, Sarah Silverman, Wes Studi
Ano:
2014
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
18/09/2014
Estúdio:
Media Rights Capital
Distribuição:
H2O Films
COTAÇÃO DO KLAU:
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