sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

'ROBOCOP': MELHOR E MAIS INTELIGENTE DO QUE SE ESPERAVA



Em 1987, o diretor holandês Paul Verhoeven apresentou ao mundo o surpreendente 'Robocop - O Policial Do Futuro'.

Num mundo sem internet, menos robótico, e com os EUA tendo como presidente um jegue chamado Ronald Reagan, o longa, uma sátira social repleta de violência, ironia, humor e efeitos especiais de ponta, cumpriu bem o seu papel de desnudar uma sociedade que passava por profundas transformações.

O longa teve duas continuações, com direito até à troca do protagonista, mas que nem chegaram aos pés do original.

Vinte e sete anos depois, o diretor brasileiro José Padilha, conhecido no mundo todo pelos 'Tropa De Elite' 1 e 2, dirigiu seu primeiro longa em Hollywood, justamente o remake de 'Robocop' - que estreia hoje em 422 salas em todo o Brasil - com tom muito mais sério e político, disfarçando a crítica ao sistema com ótimas cenas de ação, mas sem trazer de volta o humor ácido, característica principal dos longas anteriores.

Abbie Cornish e Joel Kinnaman, em cena do longa - fotos dessa postagem - Divulgação/Sony Pictures

Na trama, passada em 2028, os Estados Unidos reforçam sua posição como polícia do mundo com o uso de robôs de combate em países estrangeiros e o senado norte-americano não acha que seus cidadãos devam se sujeitar ao controle de drones.

Por isso as máquinas são proibidas de atuarem em território americano, o que é é péssimo para a corporação que os fabrica, a OmniCorp.

Com previsão de bilhões em lucros e apoiado por programas de TV de extrema direita claramente calcados no que a Fox News, por exemplo faz hoje, o CEO da empresa, Raymond Sellars (Michael Keaton, ótimo), decide pela jogada de marketing perfeita – colocar um policial numa máquina para mudar a opinião pública.

Michael keaton é o CEO da OmniCorp, Raymond Sellars

Para isso, utiliza-se do moribundo policial Alex Murphy (Joel Kinnaman), que tinha acabado de sofrer um atentado à bomba ao abrir a porta do seu carro na garagem de sua casa e, assim, surge o policial meio homem, meio máquina, o RoboCop.

O remake aborda com muita felicidade e melhor que o original as questões morais de se transformar um homem em robô, com longos minutos de reflexão sobre a situação Murphy, com ele tentando se ajustar à nova realidade e, diante da triste verdade de sua condição, pedindo para morrer.

Tratado como mais um produto pela corporação e com a data de lançamento se aproximando, Sellars exige que Dr. Dennett Norton (Gary Oldman), responsável pelo projeto, conserte os problemas e assim, aos poucos, a humanidade do detetive é suprimida transformando-o em um ser robótico.

Gary Oldman interpreta o Dr. Dennett Norton, criador do RoboCop

Diferente do original, a família do policial aqui tem grande destaque, pois, a Omnicorp e o próprio Robocop precisam lidar com eles.

Conforme é afastada de Murphy, sua esposa, Clara (Abbie Cornish) se volta contra a corporação e o que poderia render boas cenas perde muito na falta de talento da atriz, limitada para um papel tão emotivo.

Murphy merecia uma atriz com mais talento pra interpretar sua mulher

Ainda bem que o elenco restante está ótimo: Michael Keaton está maravilhoso, claramente inspirado em Steve Jobs para dar profundidade ao CEO da Omnicorp  e é um dos antagonistas mais bem interpretados dos últimos tempos.

O sempre competente Samuel L. Jackson rouba a cena como um apresentador de TV sensacionalista numa versão americana de Fortunato, de 'Tropa De Elite 2' e o Dr. Dennett Norton de Gary Oldman é o  personagem mais interessante do remake, sempre em luta entre a moralidade de seus atos e a pressão da corporação.

Samuel L. Jackson faz o apresentador de TV sensacionalista

Já o protagonista Joel Kinneman dá show, tendo cenas bastante emotivas mesmo sem conseguir mexer nada além do rosto, em constante close.

Apesar de dinamarquês, Kinneman tem um inglês perfeito, sem sotaque algum, e com certeza vai seguir sua carreira com muitos sucessos mais no cinema americano.

O longa, assim, é perfeito ao atualizar muito bem a história para o século 21 - e para quem esperava ver grandes cenas de ação, prepare-se: Padilha é craque nisso e elas aparecem em profusão, muito bem feitas, apesar das limitações do pé no saco 'politicamente correto' que nos anos 80 ainda não afetava os filmes de ação.

Assim, se o policial do futuro usa arma de choque e não balas de verdade na maioria dos casos, o espírito de chutar a porta e entrar atirando foi mantido, embora o tom de sátira tenha sido substituído pelo drama.

O único - e grande incômodo - é a Detroit mostrada no longa: embora a cidade, capital do automóvel americano, esteja falida na vida real, a decadência desapareceu, ela aparece limpinha e assim, o discurso de que ela é o mais violenta da América repetido na trama não faz sentido.

Pior: tudo que vemos são alguns crimes organizados pela mesma quadrilha, um pouco de corrupção policial e, com isso, a questão da necessidade de drones patrulhando as ruas das cidades norte-americanas se mostra bem fantasiosa.

Joel Kinnaman em cena como o Robocop: perfeito

Mesmo com esse grande problema, porém, o longa mantém o interesse do público com o bom uso da tecnologia, como, por exemplo, a maneira como RoboCop usa as imagens das câmeras espalhadas pelas ruas para encontrar suspeitos - claramente chupado da série de TV 'Person of Interest'.

Isso funciona muito bem na telona para explicar ao espectador como o policial encontra rapidamente seus alvos – no original, ele simplesmente aparecia no lugar do crime sem mais explicações.

Muito melhor e mais inteligente do que se esperava o longa de Padilha deixa sua marca característica na direção e cria narrativa empolgante, sem deixar de lado seu discurso moral e político, o que a bela fotografia do também brasileiro Lula Carvalho só ressalta.

Ao apresentar o clássico dos 80 para novas plateias, Padilha fez boa estreia em Hollywood e agrada os espectadores.

Confira o trailer do filme:


*****
'ROBOCOP'
Título Original:
RoboCop
Gênero:
Ação
Direção:
José Padilha
Roteiro:
James Vanderbilt, Joshua Zetumer, Nick Schenk
Elenco:
Abbie Cornish, Aimee Garcia, Douglas Urbanski, Gary Oldman, Jackie Earle Haley, Jay Baruchel, Jennifer Ehle, Joel Kinnaman, John Paul Ruttan, Marianne Jean-Baptiste, Melanie Scrofano, Michael K. Williams, Michael Keaton, Miguel Ferrer, Samuel L. Jackson, Tommy Chang, Zach Grenier
Produção:
Eric Newman, Gary Barber, Marc Abraham, Roger Birnbaum
Fotografia:
Lula Carvalho
Duração:
117 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
21/02/2014
Distribuidora:
Sony Pictures
Estúdio:
Strike Entertainment
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

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