terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

BERLINALE 2014: AGUARDADO 'PRAIA DO FUTURO' É EXIBIDO EM COMPETIÇÃO E NICK CAVE DIZ QUE CINEMA EXISTE PARA MOSTRAR VIOLÊNCIA


A Berlinale teve finalmente a exibição de 'Praia do Futuro'  - novo longa de Karim Aïnouz  -  e do documentário retratando a lenda Nick Cave.

Confira:

'PRAIA DO FUTURO' É EXIBIDO, COM CENAS DE SEXO GAY E WAGNER MOURA EM NU FRONTAL

Se o também brasileiro 'Hoje eu Quero Voltar Sozinho' usa da delicadeza e da percepção para narrar a história de um adolescente que se descobre gay, 'Praia do Futuro' apresenta a história de um casal gay adulto que busca se aventurar e encontrar coragem para viver.

O drama,que foi exibido nesta terça na mostra competitiva do Festival de Berlim, chamou a atenção por conta das diversas cenas de sexo e nu frontal do protagonista Wagner Moura.

O novo longa do diretor Karim Aïnouz - de 'O Abismo Prateado' (2011) e 'O Céu de Suely' (2006) - foi apresentado para uma sala cheia, mas não empolgou a plateia.

Um dos integrantes do júri, o ator austríaco Christoph Waltz, bocejou algumas vezes durante a exibição e cerca de 15 espectadores deixaram a sala nas cenas que envolviam carícias do casal.

Na coletiva após a exibição e com a repórter Estéfani Medeiros presente, Wagner Moura, Jesuíta Barbosa e o alemão Clemens Schick comentaram sobre o trabalho, filmado em Berlim e em Fortaleza (CE) em 2012.

O ator alemão Clemens Schick, o diretor Karim Aïnouz e brasileiros Wagner Moura e Jesuíta Barbosa no tapete vermelho da Berlinale - Axel Schmidt/AP

"Uma das coisas importantes é que [os atores] falassem, se aventurassem, se arriscassem e fossem a lugares desconhecidos. Queríamos falar sobre o contratempo entre medo e coragem", disse o diretor.

Moura chegou a morar na capital alemã durante as filmagens e disse que se identifica com a cidade.

"Berlim é uma das minhas cidades favoritas, mas viver aqui e estar na cidade fez uma grande diferença. O filme é sobre alguém que chega em um lugar e se reconstrói. A gente é o que as pessoas projetam na gente. Vir para um lugar e começar do zero foi fascinante. Viver a cidade foi fascinante".

Aïnouz reside em Berlim e Moura é um velho conhecido da casa - após seu papel em "Tropa de Elite", Urso de Ouro em 2008.

Se agradar ao júri, "Praia do Futuro", pode assegurar o terceiro Urso de Ouro ao Brasil - o primeiro foi com "Central do Brasil".

Sobre a polêmica que o filme pode gerar por aqui, Moura disse que essa não é uma preocupação.

"Não me preocupo com a recepção no Brasil. A relação que existe entre os caras é importante, mas não o mais importante no filme. Quanto mais a gente não fizer disso uma questão ou um problema, mais ajudamos politicamente contra o preconceito a homossexuais. Tem duas dimensões, uma dramática e outra política. Temos que parar de ver isso como um assunto."

Karim Aïnouz já tratou do abandono sob a perspectiva de mulheres e agora voltou ao tema com personagens masculinos e com ares de super-heróis, ainda que vulneráveis.

Em "Praia do Futuro", Wagner Moura interpreta Donato, um heroico salva-vidas que trabalha na praia de mesmo nome, em Fortaleza (CE).

Depois de não conseguir salvar uma vítima pela primeira vez na carreira, Donato conhece um amigo do afogado, o motoqueiro alemão , Konrad (Clemens Schick), e parte em busca de uma nova vida no país europeu e deixando pra trás o irmão, Ayrton (Jesuíta Barbosa), que o tinha como ídolo.

Oito anos depois, Ayrton parte para Alemanha em busca do irmão mais velho.

O diretor, que vive atualmente em Berlim, disse que o filme foi "gestado" enquanto viveu pela primeira vez na cidade, em 2004, após dirigir "Madame Satã", seu primeiro filme, e enquanto escrevia o roteiro de "Céu de Suely".

"É um lugar que está tentando se entender, tentando entender qual seu futuro. Berlim tem um ambiente criativo muito bonito".

Confira o trailer de 'Praia do Futuro':


NICK CAVE DIZ QUE "CINEMA FOI INVENTADO PARA MOSTRAR VIOLÊNCIA

Sentado confortável em uma poltrona, vestindo seu tradicional terno escuro e camisa de gola alta, mexendo os dedos da mão esquerda com três anéis de ouro, Nick Cave fala com um psiquiatra sobre seu maior medo: perder a memória.

"A memória é o lugar onde a gente se lembra do significado da vida", filosofa.

Partindo deste princípio, '20,000 Days on Earth', filme apresentado nesta segunda no Festival de Berlim, mistura documentário e ficção para mostrar 24 horas na vida do músico australiano - uma necessidade de Cave em fazer um registro de como ele se vê ou como quer ser visto.

"Às vezes leio matérias ou coisas escritas por jornalistas sobre a minha vida e não me reconheço nelas. Esse filme é mais real do que vejo ou leio sobre mim", Cave comentou durante entrevista na Berlinale - a repórter Estéfani Medeiros estava presente - após a exibição do longa como parte da mostra Panorama.

"Não é sobre a minha vida. Em 1h30 de filme não dá para contar toda a minha história. Tentamos fazer um filme sobre temas que estávamos interessados, sobre como preservar a memória", completou o artista.

O músico e ator Nick Cave durante sessão de fotos em Berlim - Thomas Peter/Reuters

Em uma rara cena do filme em que aparece sorrindo, Cave está acompanhado dos filhos gêmeos, rindo com um tiroteio de "Scarface" (1983), clássico de Brian De Palma.

Questionado sobre a relação da música, do cinema e da violência em seu trabalho, Cave disse que "o cinema foi inventado para mostrar violência. Nenhuma outra mídia faz isso como o cinema. Eu me satisfaço com a violência nas minhas músicas. Mas o cinema é cool".

Para trazer Cave próximo ao público, os diretores Iain Forsyth e Jane Pollard - premiados por melhor edição e melhor direção com o longa no festival de Sundance em janeiro - rodaram cenas de Cave acordando, escrevendo em uma velha máquina de escrever e nos bastidores da gravação do álbum "Push the Sky Away", lançado em 2013 - cenas que mais se aproximam do gênero documentário.

Ao mesmo tempo, valorizam declarações dramáticas e histórias sobre seu excêntrico lado rockstar, como quando ele mostra uma caixa com cabelos de meninas comprada em um mercado de pulgas em Berlim ou um testamento antigo em que diz deixar todo o seu dinheiro para o "inevitável Nick Cave Memorial Museum", o que hoje ele comenta ser uma grande besteira.

Entre belas paisagens e voltas de carro com Kylie Minogue e Blixa Bargeld (ex-guitarrista do Bad Seeds), Cave assume o papel de narrador e fala sobre suas crenças e filosofias com o mesmo tom poético que canta suas músicas.

Os temas variam entre sua relação com o mar, o céu, o tempo e seu processo criativo, criando um estilo que foge da relação cronológica dos documentários de música convencionais.

"O estranho é que essas ideias nunca apareceram como um filme", explicou Pollard.

"Começamos como um videoclipe, quando dois anos atrás ele pediu para nós visitarmos o estúdio. Mas percebemos algo tão íntimo que poderíamos fazer algo diferente. Não sobre a trajetória de Nick, mas sobre quanto tempo você está na Terra e como você usa esse tempo. A verdade é que ele pode ser considerado um documentário porque mostramos algo da sua história, mas ao mesmo tempo nem tudo que mostramos é real. Queríamos um tom dramático, por isso alguns detalhes são mais mitológicos", descreveu.

Confira o trailer de '20,000 Days on Earth':

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