quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

BERLIM 2014: AMÉRICA LATINA FAZ BOA PRESENÇA, TEMÁTICA GAY AUMENTA E LONGA ALEMÃO SOBRE SEGUNDA GUERRA É EXIBIDO


Na Berlinale hoje, o cinema latino americano se fez mais presente, a discussão sobre a temática gay aumentou e um filme alemão sobre a segunda guerra - tema tabu para o país - foi exibido.

Confira:

EM BERLIM, FILMES DIRIGIDOS POR LATINO AMERICANOS FAZEM BOA PRESENÇA

Um curador da "Nova Era" e o filho alienado que cria falcões formam a estranha dupla central de "Aloft", filme da diretora peruana Cláudia Llosa, falado em inglês, que demonstrou nesta quarta a maturidade do cinema da América Latina no Festival de Cinema de Berlim.

Num ano em que o sucesso espacial "Gravidade" é cotado para garantir a glória do Oscar ao diretor mexicano Alfonso Curón, pequenas produções internacionais com forte estilo artístico latino-americano estão cada vez mais deixando sua marca no cinema.

Em 2009, Cláudia já levou o Urso de Ouro - com "A Teta Assustada", falado em espanhol.

Desta vez seu filme é em inglês, refletindo uma tendência não apenas em obras da América Latina, onde o financiamento pode vir de fontes norte-americanas, europeias e outras de fora - o elenco, valores da produção e mesmo a "supervisão" são cada vez mais globalizados - relatam Michael Roddy e Sarah Marsh, da Reuters.

"Aloft" foi rodado no Canadá e classificado como uma produção francesa, espanhola e canadense, com elenco internacional que inclui o ator irlandês Cillian Murphy como o criador de falcões, a norte-americana Jennifer Connelly como sua mãe, e a francesa Melanie Laurent no papel de uma jornalista que produz documentários.

"O mundo está ficando menor", disse Murphy em uma entrevista à imprensa após a exibição.
"As histórias são universais e se você contar bem a história, espera-se que ela seja atraente para todos".

Sobrinha do escritor peruano Mário Vargas Llosa, Cláudia disse que a única coisa que mudou em seu estilo de dirigir foi o idioma: 
"Não vi uma diferença marcante do modo como trabalhamos no Peru".

"Em geral foi um processo aberto, os atores abriam seus corações comigo... e o próprio fato de eu poder sentar-me com eles e lhes falar da história era como a realização de um sonho", disse ela.

A diretora Claudia Llosa em Berlim - Daniel Naupold/Efe

As mudanças no cinema da América Latina foram realçadas pelo envolvimento em Berlim do veterano diretor norte-americano Martin Scorsese, produtor-executivo de um sofisticado filme argentino falado em espanhol que participa da mostra - "A Terceira Margem", da diretora Celina Murga.

"Houve uma cerca evolução do cinema na América Latina durante os últimos dez anos, as coisas mudaram", disse o produtor do filme, Juan Villegas.

Com o crescente envolvimento internacional no cinema da região, os "festivais estão mostrando mais filmes do Brasil, México, Argentina", acrescentou.

Um participante brasileiro, "Praia do Futuro" também tem um ar internacional, retratando um relacionamento homossexual entre um piloto alemão de motocicleta, interpretado pelo ator alemão Clemens Schick, e um salva-vidas brasileiro, papel de Wagner Moura.

TEMÁTICA GAY PROVOCA REFLEXÃO EM BERLIM

Personagens e temáticas homossexuais já se tornaram tão comuns no cinema que chegou a ser uma surpresa quando o diretor Adam Csaszi contou que a brutalidade de uma história real o levou a alterar a adaptação que fez para as telas sobre a história de um jogador de futebol e seu amante no interior da Hungria.

Apresentando seu filme "Viharsarok" ("Terra de Tempestades") no Festival de Berlim, Csaszi disse que, na história real, dois gays haviam sido mortos por um terceiro homem, que retalhou seus corpos - relata o repórter da Reuters, Michael Roddy.

"Se eu contasse a história real..., a motivação do homicídio seria o ciúme, e não a homofobia na sociedade", disse Csaszi à plateia no sábado.

Ele disse que queria mostrar que o rapaz do interior, criado em um ambiente rural e profundamente religioso, ao se sentir atraído por outro homem, "não tem as ferramentas para lidar com essa homofobia, e esse é o real motivo do homicídio".

Desde "O Segredo de Brokeback Mountain" (2004), de Ang Lee, e possivelmente antes, no filme francês "A Gaiola das Loucas", filmes com temas e personagens gays estão se tornando cada vez mais comuns.

Mas a programação do 64º Festival Internacional de Cinema de Berlim ilustra a forte divisão que existe no tratamento desse tema em sociedades onde ele não é mais tabu e em lugares onde a visão de dois homens ou mulheres se beijando gera hostilidade e às vezes violência.

Em "Love Is Strange", do norte-americano Ira Sachs, também em Berlim, dois homens que se relacionam há quatro décadas aproveitam a liberalização das leis para se casarem e imediatamente perdem seu apartamento em Nova York.

John Lithgow, que interpreta um dos protagonistas, disse a jornalistas que o filme não é tanto sobre a homossexualidade, e sim sobre um "casamento velho e emperrado, como o meu."

"Pessoas que estão comprometidas umas com as outras há 40 anos não devem ser completamente diferentes só porque estão em uma união do mesmo sexo", disse Lithgow.

Sachs e Lithgow disseram que o filme não se propõe a fazer apologia ao casamento gay, mas o ator afirmou esperar que ele seja visto na Rússia, embora não tenha citado nominalmente o país.

"Há uma grande nação na Europa que tem uma regra contra a propaganda do estilo de vida gay. Não acho que o nosso filme faça propaganda. Acho que é a vida real."

O ator John Lithgow em Berlim - AFP

Entre os filmes com protagonistas homossexuais que integram a programação em Berlim estão também duas produções brasileiras.

Em "Praia do Futuro", longa do diretor Karim Aïnouz que concorre ao Urso de Ouro, Wagner Moura interpreta um Salva-Vidas de Fortaleza que começa uma nova vida em Berlim ao lado de seu namorado alemão.

Embora o filme traga cenas de sexo e nus frontais, a homossexualidade dos personagens não é o principal foco da narrativa.

"Hoje eu Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro, por sua vez, aborda por meio de um viés romântico e sentimental a descoberta da homossexualidade por um adolescente cego.

LUTAS DIPLOMÁTICAS E FAMILIARES DOMINAM O DIA EM BERLIM

Em "Diplomatie", exibido nesta quarta-feira no 64º Festival de Berlim, o diretor alemão Volker Schlöndorff faz viver com intensidade um duelo, no espaço de uma noite de agosto de 1944, entre o general alemão Von Choltitz e o cônsul sueco Nordling quando o que está em jogo é a destruição de Paris - reporta a AFP.

"Este encontro reproduzido nas telas não ocorreu de verdade. No entanto, Choltitz e Nordling se reuniram várias vezes alguns dias antes de 24 de agosto para negociar uma troca de prisioneiros e uma trégua", explica Schlöndorff, vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1979 e do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1980 -  por "O Tambor".

"A parte de ficção é considerável no filme, mas o que é real é o que Cyril Gely [autor da peça homônima e roteirista do filme] usou como um ponto de partida: os dois homens se conheciam e discutiram sobre o destino da cidade de Paris", acrescentou.

A ação ocorre na madrugada de 24 para 25 novembro, no Hotel Meurice, onde estava hospedado o governador de Paris, o general Dietrich von Choltitz.

É a ele que Hitler deu a ordem de destruir Paris antes da chegada dos Aliados.

Vindo de uma longa linha de militares prussianos, o general não teria coragem de destruir as pontes de Paris, a Torre Eiffel, Notre Dame, a Assembleia Nacional etc.

É isso que Raoul Nordling tem em mente quando entra por uma escada secreta, seguindo o general até uma sala.

O general e o cônsul embarcam em um jogo de gato e rato, ilustrado pelo posicionamento dos dois na sala e na escolha das palavras.

Os argumentos estão ligados, sejam verdadeiros ou falsos. Humor ou ironia são como pontuações. Os momentos de brilho dão forma ao longo do tempo aos silêncios igualmente eloquentes.

Como em um jogo de xadrez ou numa "luta de boxe de cinco ou seis rounds", diz o diretor de 74 anos.

"Se Paris tivesse sido destruída, não vejo como a parceria franco-alemã poderia surgir ou como a Europa poderia se recuperar", observa o diretor.

A capital francesa é, naturalmente, o terceiro personagem central do filme - a silhueta de Paris aparece com frequência e de maneira diferente, dependendo da hora do dia.

Confira o trailer de "Diplomatie":


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