quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PRESIDENTE FRANCÊS CUMPRE PROMESSA DE CAMPANHA SOBRE GAYS, TRANSEXUAL INGLESA ESTRELA DOCUMENTÁRIO E O QUE DEVERÍAMOS VER REALMENTE NUM FILME DE TEMÁTICA HOMO


Para essa postagem, separei duas matérias e um artigo - sobre cinema  de temática gay - muito bons.

APESAR DE FORTE OPOSIÇÃO, NOVO GOVERNO FRANCÊS APRESENTA LEI SOBRE HOMOSSEXUAIS
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TRANSEXUAL AOS 16 ANOS, AGORA ESTRELA DE DOCUMENTÁRIO INGLÊS
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ARTIGO: "É PRECISO SUBVERTER O FILME GAY"
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Confira:

APESAR DE FORTE OPOSIÇÃO, NOVO GOVERNO FRANCÊS APRESENTA LEI SOBRE HOMOSSEXUAIS

Segundo a Agence France Presse, o projeto de lei sobre o casamento e a adoção homossexual - primeira grande reforma da sociedade francesa impulsionada pelo governo socialista de François Hollande - será apresentado na hoje ao Conselho de ministros, apesar da forte oposição das igrejas e da direita.

Seis meses depois de sua vitória nas eleições presidenciais de maio, Hollande cumpre uma de suas principais promessas eleitorais: dar aos casais homossexuais os mesmos direitos dos heterossexuais, já no começo de seus cinco anos de governo.

A legislação, que "estenderá às pessoas de mesmo sexo o atual acordo sobre o casamento e permitirá a adoção aos casais homossexuais", vão muito além do Pacto Civil de Solidariedade (PAC), que regula a união civil entre duas pessoas do mesmo sexo.

Aprovado em 1999, sob o governo socialista de Lionel Jospin, o PAC não permite nem a adoção, nem os direitos a herdar nem a receber pensão do cônjuge, o que está contemplado no projeto de lei que chegará ao Conselho de Ministros em algumas horas.

Divulgação

O projeto também provoca hesitações nos setores de esquerda - algumas associações homossexuais o reprovam por não abordar algumas questões que julgam prioritárias, como a reprodução assistida.

Evidentemente, a proposta animou a cólera dos setores mais conservadores da França e tanto líderes religiosos como políticos da direita não hesitaram em afirmar que a iniciativa favorecerá a "poligamia", a "pedofilia" e o "incesto".

Há dúvidas e até hostilidade em boa parte da opinião pública da França - país onde a homossexualidade era crime há 30 anos e considerada doença mental até 1992.

Segundo pesquisa publicada no fim de semana, o número de franceses favoráveis ao casamento entre homossexuais diminuiu no último ano, passando de 63% em 2011 a 58% em 2012.

Até a França está encaretando, que horror!

TRANSEXUAL AOS 16 ANOS, AGORA ESTRELA DE DOCUMENTÁRIO INGLÊS

Um filme de uma hora que documenta a tentativa da transexual inglesa Jackie Green, 19 anos, de se tornar Miss Inglaterra, será exibido no Reino Unido.

A transmissão do documentário "Transsexual teen, beauty queen"/ "adolescente transexual, rainha da beleza", foi anunciada pelo canal de TV inglês BBC Three para o 19 de novembro.

O documentário de observação também mostra as dificuldades que ela passou desde criança até se tornar, aos 16 anos, "a mais jovem transexual do mundo", de acordo com o site oficial do canal.

Divulgação: BBC Three
Jackie Green, hoje

"A garota de 18 anos [hoje aos 19], nascida um garoto chamado Jack, quer se tornar um modelo de comportamento para a comunidade trans, e espera que competir no concurso de beleza vai inspirar outros jovens a lidar com problemas de identidade de gênero. Mas como ela vai se sair ao lado de algumas das garotas mais bonitas do país?", descreve o site oficial do canal.

"O filme se aprofunda no passado difícil de Jackie: de ouvir em primeira mão como ela se deu conta que estava presa em um corpo de garota e o efeito disso em sua família unida, e como ela fez a transição social de garoto a garota, com apenas oito anos, até como o bullying no colégio a levou perto do suicídio e como sua vida foi mudada por um médico americano que interrompeu sua puberdade masculina", completa o site.

Divulgação: BBC Three
Jackie, em várias fases de vida

Jackie Green chegou às semi-finais do concurso, mas não o venceu, segundo reportagem neste domingo (4) do tablóide inglês "Daily Mail".

Ela disse ao jornal que, aos quatro anos, falou para sua mãe, Susan:
 "Deus cometeu um erro, eu deveria ser uma garota".

Descontente com seu corpo, Jack forçou uma overdose aos 11 anos e cometeu outras seis tentativas de suicídio aos 15, além de tentar mutilar sua genitália.

Os pais apoiaram a sua mudança de sexo aos 16 anos.
"No Reino Unido, a mudança de sexo não pode ser feita até que o paciente faça 18 anos, mas Susan descobriu um cirurgião na Tailândia que aceitou fazer a cirurgia em Jackie aos 16 (desde então, a Tailândia adotou o padrão internacional de 18)", diz o "Daily Mail".

Jackie contou ao jornal que namora há dois anos um garoto da mesma idade que a sua e trabalha de hostess em uma loja de roupas e acessório em Londres.

ARTIGO: "É PRECISO SUBVERTER O FILME GAY"

Confira o artigo de Bruno Carmelo, editor do blog Discurso-Imagem e também publicado no site Outras Palavras:

Divulgação
Cenas de filmes relacionados abaixo

Por que o cinema gay comercial está tão contaminado pelo amor romântico, com homens belos em tramas açucaradas?

A situação anda complicada para o cinema gay nos cinemas recentemente.
Por “cinema gay”, termo vago e contestável, entenda filmes que têm como foco central personagens homossexuais e/ou questões específicas aos indivíduos homossexuais.
Em muitos casos, são filmes reservados ao gueto, que passam em cinemas específicos de grandes capitais.

Nestes últimos anos, Verão em L.A., Shelter e Weekend passaram em circuito comercial, enquanto produções como The Love Patient, Deixe a Luz Acesa e eCupid passaram em festivais gays, ou sessões gays de festivais de cinema.
Em comum, os filmes acima têm uma abordagem plenamente idealizada do amor e do próprio indivíduo homossexual: estas seis histórias tratam de amores românticos entre jovens gays, todos belos, musculosos, brancos, sedutores, de classe média alta.

Seus conflitos são ligados apenas ao amor, figura fantasmática (“ele me ama, mas não podemos ficar juntos porque somos diferentes”, ou “eu o amo, mas ele não quer compromisso sério”, ou ainda “eu o amo, mas ele não me quer”).
O relacionamento torna-se uma finalidade em si, neste mundo-bolha de pessoas bonitas e disponíveis, onde as mulheres servem apenas como mães, irmãs ou amigas dos protagonistas – já que a grande maioria dos “filmes gays” retrata a homossexualidade masculina.

No final, todos estes produtos parecem o mesmo, que seja em qualidade cinematográfica ou em discurso. É interessante que o espectador gay possa se identificar com estes amores utópicos, que parecem extraídos de propagandas de margarina ou páginas de revista de moda.
Um exemplo foi particularmente surpreendente: Deixe a Luz Acesa, premiado em vários festivais e recebido com críticas muito favoráveis. A fórmula é a mesma dos demais, mas com elementos dramáticos: um dos amantes é viciado em drogas (nunca se vê este homem usando o que quer que seja), o outro teme estar infectado com o HIV (mas é só um susto).

Se estes atores fossem trocados por Reese Whitherspoon e Gerard Butler, ou Hugh Grant e Julia Roberts, teríamos uma comédia romântica heterossexual qualquer, dessas que os críticos adoram detestar.
Mas por serem dois homens, ou ocasionalmente duas mulheres, a proposta parece “subversiva”, “alternativa”.
Como as garotinhas que sonham com o astro da revista teen, os diretores e produtores (muitas vezes gays) do cinema gay acham que os homens comuns precisam é sonhar com os galãs das fotos acima.

O público acaba sendo infantilizado, reduzido ao desejo sexual primário – supõe-se que uma produção com um amor realista, vivido por pessoas comuns, não seja vendável no mercado.
Não é questão aqui de solucionar a dúvida da oferta e da procura (são os gays que querem ver estes filmes, ou são estes os únicos filmes oferecidos aos gays?), mas simplesmente de dizer que este sistema se retro-alimenta.
Ele não indica nenhuma tendência de se transformar, até porque são estes filmes idealizados que acabam sendo selecionados nos maiores festivais e recompensados pelos prêmios gays - como o Teddy em Berlim.

Logicamente, nem todos os filmes seguem a estética publicitária do amor perfeito. Kaboom retratava de maneira despojada a plurissexualidade adolescente, Fucking Different XXX ousou mostrar o sexo sem pudores, e sem padrões, Tomboy explorou a identidade de gênero na infância, com grande naturalidade.
Mas a razão pela qual falamos destas produções é justamente por constituírem exceções.

Ora, chegou o momento de um verdadeiro debate ser feito nos festivais, e de os gays se manifestarem quanto ao conteúdo que consomem.
Não basta o festival selecionar um filme pela simples temática, independentemente da qualidade que ela propõe.
Em outras palavras, não basta um filme ser gay para ele ser interessante, ele precisa propor uma maneira diferente de retratar o amor, as pessoas.
A comunidade homossexual não pode se limitar a copiar os códigos do amor idealizado heterossexual, ele precisa achar sua estética e sua cultura próprias.

Nesse semana, em São Paulo e no Rio de Janeiro, começa o Festival Mix Brasil, com mais de cem filmes sobre o gênero.
Vamos torcer para os curadores terem selecionado, e que o público prestigie, apenas as produções que propõem um olhar diferente, questionador, provocador e reflexivo sobre a cultura gay.
Vamos torcer para que os filmes parem de ser histórias conformistas e apolíticas, para um público alienado, querendo sonhar com o homem ideal e o relacionamento perfeito.
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Até +!

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