sexta-feira, 2 de novembro de 2012

'FRANKENWEENIE': TIM BURTON REVISITA SEU PASSADO E ESPALHA AMOR GÓTICO NA TELONA


Timothy William Burton (*25.8.1958) nasceu e cresceu em Burbank - pequena cidade da Grande Los Angeles onde ficam localizados a Walt Disney Company e a Warner Bros.

Menino estranho e introspectivo, foi até natural que Tim Burton enveredasse pelo mundo mágico do cinema, que ele respirava à porta de casa.

Burton começou na indústria cinematográfica como desenhista da Disney, mas tinha um mundo todo próprio na cabeça e que ele precisava botar pra fora.

Imagens dessa postagem: Divulgação -Disney
Tim Burton segura um dos muitos bonecos do cachorro Sparky, utilizados nas filmagens de "Frankenweenie" (2012)

Um dia, e como ele mesmo diz, "cansado de desenhar raposas fofas", e já tendo participado da criação dos fofos "João e Maria" e "Vincent" ( ambos de 1982),  Burton propôs à Disney uma animação gótica - que depois viraria a marca registrada do diretor - sobre um menino muito ligado a seu cachorro.

Victor e seu cão Sparky, protagonistas do longa que estreia hoje

Quando o cachorro morre, o menino, à la "Frankestein" de Mary Shelley, ressuscita o cão, para espanto da cidadezinha onde moravam.

Nascia aí o curta "Frankenwweenie" (1984), onde Burton, em preto e branco, já colocava toda a sua gama de personagens sombrios e excêntricos, rodeados de cenários góticos.

Na época, infelizmente, a diretoria da Disney achou tudo mundo escuro e estranho, e resolveu não lançar o curta nos cinemas.

Felizmente, e por muito tempo, a Disney nem percebeu que o curta correu o mundo, ficando inclusive muito tempo postado no YouTube - evidente, o estúdio já o retirou de lá recentemente.

Desprestigiado na Disney, Tim Burton partiu então para o outro estúdio seu vizinho, e na Warner Bros. fez, entre outros, "As grandes Aventuras de Pe-wee" (1985) e "Os Fantasmas se Divertem" (1988), até ser catapultado ao panteão dos grandes diretores de Hollywood com "Batman" (1989), longa que encheu os cofres da Warner com bilheterias vindas de todo o mundo.

Victor ressuscita Sparky: sensacional!

Na Warner, Burton fez "Edward Mãos de Tesoura" (1990) - início de sua longa parceria com o ator Johnny Depp - , "Batman, o Retorno" (1992) - agora com controle total sobre a produção -, e, entre muitos outros, "Ed Wood" (1994) e o remake de "Planeta dos Macacos" (2001).

Burton voltaria à Disney para fazer o remake de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005), levando na bagagem seu ator favorito -  Depp -  e a sua já esposa - a fantástica atriz britânica Helena Bonham Carter.

Fez assim outro grande sucesso de sua carreira, como também o foi a sua mais que especial visão do livro clássico que Walt Disney já tinha levado aos cinemas como animação - "Alice no País das Maravilhas" (2010).

A cachorra Persephone tem o visual da atriz Elsa Lanchester, em "A Noiva de Frankestein", cult filme de 1935

Mas, e "Frankenweenie", nunca seria lançado comercialmente?

Para topar fazer "Alice...", Burton fez uma jogada de mestre: faria, desde que a Disney também topasse produzir uma nova versão da história do menino e seu cachorro, agora em stop-motion, modo de fazer filmes quadro a quadro onde Burton é mestre - basta conferir "O Estranho Mundo de Jack" (1993) e "A Noiva Cadáver" (2005).

O ator Robert Capron dá voz ao personagem Bob

Assim, Tim Burton volta ao passado com o lançamento da animação "Frankenweenie" (2012), onde o cineasta retoma a infância e revisita a estética de Dia das Bruxas que o tornou famoso - não por acaso, o longa foi lançado hoje aqui no Brasil, dias depois do Halloween.

Recontando a história do curta de 28 anos atrás, e com todos os recursos que a produção de se fazer filmes hoje dispõe, o diretor nos dá uma simples, porém tocante e envolvente história em preto e branco, do amor entre um garoto e seu cão.

A mãe de Bob tem a voz da atriz Conchata Ferrell, que interpreta a divertida empregada da série de TV "Two and a Walf Men"

Agora um longa-metragem, captado no formato 3D e em stop-motion, "Frankenweenie" mostra a história de Victor Frankenstein, um garoto comum que adora seu cachorro, Sparky.

Introvertido - está na cara que Victor é um alter ego de Burton - não é exagero dizer que o personagem tem mais empatia pelo animal do que pelos colegas na escola, vizinhos e habitantes da cidade de New Holland.

A atriz Winona Ryder dá voz à personagem Elsa

Retratado como apenas mais um entre os jovens desajustados e inofensivos do local, Victor tem sua vida virada do avesso, quando Sparky morre após ser atropelado.

Inconsolável, Victor só encontra alegria quando evoca a tradição de seu sobrenome - uma das muitas referências aos filmes de horror tão admirados pelo cineasta - tenta trazer à vida o seu amigo morto - e consegue!

Sr. Rzykruski tem o rosto e gestual da lenda dos filmes de terror, Vincent Price.

Com o professor Rzykruski, Victor descobre que é possível conduzir eletricidade através do corpo de um cadáver e, ao ver a contração dos músculos causada pela passagem dos elétrons, tem a ideia de utilizar todo tipo de eletrodoméstico durante uma noite de tempestade para ressuscitar Sparky.

O resultado é um ainda mais divertido animal, que continua a amar o seu dono e não consegue mais engolir alimentos - agora, para viver, o bicho-cadáver precisa apenas de uma recarga elétrica.

Edgar "E" Gore é um menino que não tem amigos, e que está desesperado para ser o parceiro de Victor na Feira de Ciências: em suas tentativas para ser aceito, "E" só estraga as coisas e, mesmo prometendo não revelar o segredo de Victor, sem querer, ele acabará revelando-o

As crianças da cidade, mordidas de inveja do feito de Victor, começam a forçá-lo a revelar o segredo por trás da façanha, com uma série de momentos engraçados repletos de eletricidade e do visual gótico que marca as produções de Burton.

Aqui, o diretor celebra o espírito de curiosidade e observação típicos da ciência, com um filme leve, encantador e com muitos momentos que envolvem o mundo da física.

Nassor é um menino muito inteligente, sério e insistente e tem uma visão muito mais apocalíptica e obscura da vida do que a maioria das crianças de New Holland: a princípio, ele é o mais cético quanto aos rumores sobre as experiências de Victor, mas, uma vez convencido do resultado, busca determinadamente revelar seu segredo

Além do experimento com seu cachorro, Victor derruba um monstro usando eletricidade e a cidade chega a debater os métodos de ensino do mestre Rzykruski, que encarna um professor bravo, mas apaixonado por ciência e é mal interpretado quando os pais revoltados questionam a existência de animais retornados do mundo dos mortos e apontam o professor como responsável.

Vem aí o melhor do filme, já que, absolutamente fiel ao conhecimento, o professor afirma querer "entrar na cabeça das crianças" para estimulá-las a pensar com liberdade, só que o ponto de vista tosco dos cidadãos da pequena cidade transforma as palavras do mestre em algo a ser temido, como se Rzykruski fosse um monstro malvado tentando roubar a mente de criancinhas.

A defesa da ciência estimulada por Burton caminha lado a lado com a reprodução do universo próprio dos filmes do cineasta - um exemplo é a vizinhança da casa de Victor, um bairro de subúrbio muito parecido com o de "Edward Mãos de Tesoura".

Outro ponto alto do longa é o grande número de personagens, cada um com personalidade e expressões corporais próprios e ligados à remontagem do universo infantil que Burton propõe.

Assim, temos a garota com olhar obcecado na escola, o vizinho ordeiro e bisbilhoteiro, os pais carinhosos e preocupados, os garotos invejosos e uma fauna com bichos com os traços fantamagóricos que são esperados a cada filme do cineasta.

Menina Esquisita não tem esse nome à toa: ela gosta de divagar sobre os sonhos e seu gato, o sr. Whiskers, fala frases fatais em tom monótono. 
As outras crianças acabam ficando com um certo medo dela...

Mas qual seria a fórmula para o sucesso do experimento de Victor?

Burton sugere a mais doce das respostas à visão revisitada do diretor sobre o próprio passado: amor.

Simples assim.

"Frankenweenie" e um dos melhores longas da carreira de Burton - e da própria Disney, que agora, como a maior empresa de entretenimento do mundo, já não se presta mais ao triste papel de engavetar um trabalho tão bom, como também foi o curta de 1984.

Como curiosidades, mais de 200 bonecos e cenários foram criados para o filme, e vários nomes de personagens - Victor, Elsa Van Helsing, Edgar “E” Gore e Mr. Burgermeister - foram inspirados em filmes clássicos de terror.

Filmaço.

Confira o trailer do filme:

*****
"FRANKENWEENIE"
Diretor:
Tim Burton
Elenco de Vozes da Versão Original:
Winona Ryder, Catherine O'Hara, Martin Short, Conchata Ferrell, Tom Kenny, Martin Landau, Atticus Shaffer, Charlie Tahan, Robert Capron, James Hiroyuki Liao, Christopher Lee
Produção:
Allison Abbate, Tim Burton
Roteiro:
John August
Fotografia:
Peter Sorg
Trilha Sonora:
Danny Elfman
Duração:
87 min.
Ano:
2012
País:
EUA
Gênero:
Animação
Cor:
Preto e Branco
Distribuidora:
Disney
Estúdio:
Walt Disney Pictures / Tim Burton Productions / Tim Burton Animation Co.
Classificação:
10 anos
Cotação do Klau:

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