segunda-feira, 25 de abril de 2011

ROBERTO CARLOS, 70 ANOS

Na última terça ( 19), Roberto Carlos fez 70 anos.

E esteja você onde estiver, vai ser lembrado disso em algum momento do seu dia -pelo rádio, pela TV, pelos jornais, pelo seu vizinho, por todo 2011.

O Brasil chama Roberto de Rei desde os anos 1960, e o cantor e compositor se mantém desde então como o maior vendedor de discos do país.

Até hoje, lota os shows que faz, e mesmo que não lance um álbum de inéditas há oito anos, é reconhecido como um dos nossos autores mais relevantes.

No aniversário de 40 anos da TV brasileira (1990), Roberto cantou "Emoções".

Relembre:


Gerações que passaram a ouvi-lo depois dos anos 1990 - e seus shows são cheios de adolescentes- devem imaginar que esse prestígio se manteve intacto durante todo esse tempo, mas nem imaginam que por cerca de dez anos, Roberto Carlos não seduziu a juventude.

O estranhamento com a faixa etária que o alçou à fama começou por volta de 1982, segundo Paulo César de Araújo, autor de "Roberto Carlos em Detalhes", biografia vetada pelo Rei na Justiça.

Quando o rock brasileiro começou a viver sua fase de maior efervescência - com bandas como Blitz, RPM, Titãs, Legião Urbana, Ira! e Barão Vermelho -, o discurso de Roberto foi "encaretando", segundo o autor.

"O mesmo artista que já havia cantado que 'tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda' [em 1976] passava a representar o contrário disso", diz Araújo.

Quem assumia essa postura era Cazuza.
É só lembrarmos do verso: "Mais uma dose? É claro que eu tô a fim".

Alguma coisa na receita infalível do Rei tinha dado errado, o público jovem mais antenado se afastou, e Roberto não voltaria a se aproximar dele se dependesse só de um impulso artístico seu - mas a obra trabalhou por ele.
"As pessoas passaram a não se preocupar com o que o Roberto estava fazendo, mas com o que tinha feito no passado", diz o ex-Ira! Edgard Scandurra.
"Aquela obra fantástica dos 60 e 70 não podia ser menosprezada."

Fernando Santos/Folhapress
O cantor e compositor Roberto Carlos, em foto de 1983

O apelo do Rei entre os jovens começa a retornar em 1992, quando, no show "Circuladô", Caetano Veloso revelou que "Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos" (1971) fora composta por Roberto para ele, quando Caetano estava exilado em Londres.
"Ali, o público vê que Roberto tinha tomado uma atitude política que jamais imaginavam", diz Araújo.

A gravação de "Caracóis" foi para a rádio e colocou a música, então semiesquecida, no topo das paradas de sucesso.

Mais sucesso ainda faria, no ano seguinte, "As Canções que Você Fez pra Mim", o álbum inteiro que Maria Bethânia dedicaria às composições de Roberto e Erasmo Carlos.

A partir daí, mesmo quem insistia em chamar Roberto de brega foi obrigado a assumir suas qualidades como compositor.

Os passos seguintes foram dados por alguns daqueles mesmos artistas que o encobriram na década anterior.

Lançado em 1994, o álbum-tributo "Rei" trazia justamente Barão, Blitz, Kid Abelha e Paulo Miklos (dos Titãs), e "É Proibido Fumar", na voz do Skank, virou hit - de novo.

Segundo Miklos, nenhum dos envolvidos no CD tinha em mente "resgatar" Roberto, mesmo porque ele vendia mais que qualquer roqueiro.
"Queríamos explicitar a influência dele, a importância da música nos primórdios do rock que fazíamos."

Foi nos anos 90 que Roberto deu uma histórica entrevista a Jô Soares, onde interpretou "Detalhes", só com voz e violão.

Veja:


Com os Titãs, Miklos voltaria a contribuir com o retorno de Roberto à juventude em 1998, quando a banda pinçou do baú a filosófica "É Preciso Saber Viver", que foi uma das mais tocadas do ano e voltou a partir daí ao repertório do Rei.

Canções de Roberto entrariam em discos do Jota Quest, do Kid Abelha, de Sandy & Junior e de Luiza Possi.

Seus shows atuais recebem muitos dos mesmos espectadores que o negaram nos 1980.

Hoje trintões, choram de emoção quando o Rei surge no palco e canta.

Mesmo com a vida lhe dando seguidas rasteiras - em pouco menos de um ano, Roberto perdeu a mãe e a filha mais velha - o Rei segue adiante, desfilando seu repertório romântico em casas de shows, navios ou em estádios lotados.

Continua sendo o cantor e compositor mais importante que esse país já viu.

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