quinta-feira, 7 de abril de 2011

"AMOR E REVOLUÇÃO": SE O TEMA ATUALÍSSIMO NÃO SEGURAR A NOVELA, QUE ELA SIRVA AO MENOS PARA A REFLEXÃO DA DITADURA MILITAR

Num saguão apertado no terceiro andar do Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo, o SBT promoveu na semana passada o lançamento da novela “Amor e Revolução”, a primeira a ter como pano de fundo os anos de chumbo da ditadura militar.


Para exibir ao final de cada capítulo, a emissora gravou depoimentos de militantes de esquerda como José Dirceu e Luiz Carlos Prestes Filho - a presidenta Dilma recusou o convite.


Até agora nenhum militar ou apoiador do regime aceitou gravar seu depoimento, segundo o autor Tiago Santiago. “Tentamos falar com Delfim Neto, Jarbas Passarinho, Nilton Cruz e outros, mas ninguém aceitou”, conta.


Em 1995, Santiago ofereceu a sinopse à Globo que recusou – três anos antes, a emissora tinha exibido a minissérie “Anos Rebeldes”.

“Essa seria a minha próxima novela na Record, mas acabei vindo para o SBT e o projeto deu certo aqui”, diz Santiago.


Ao contrário de sua novela anterior, “Uma Rosa com Amor”, que estreou com 100 capítulos gravados, “Amor e Revolução” tem até agora só 40 capítulos escritos e 24 gravados.

Com isso, o SBT vai fazer pela primeira vez as pesquisas de opinião com espectadores –para saber, por exemplo, se o público está achando muito violentas as cenas de tortura.

“Mas como é o horário das 22h15, acho que podemos apostar em algumas cenas mais fortes”, completa o autor.

*****

A novela “Amor e Revolução” estreou terça (5) no SBT e deixou em mim a melhor das impressões.


Tendo como pano de fundo o golpe militar der 1964, a trama principal é sobre o amor entre Maria Paixão - Graziella Schmitt -, uma líder do movimento estudantil, e José Guerra - Cláudio Lins -, um capitão do Exército que discorda dos rumos da ditadura.


O elenco reúne ex-estrelas da Globo como Lúcia Veríssimo, Isadora Ribeiro, Luciana Vendramini, Jayme Periard e Cláudio Cavalcanti.


Obra aberta e com mais de cem capítulos pela frente, não pode e nem deve ser analisada pelos seus primeiros, mas saltou aos olhos de quem viu a qualidade de sua realização, comparada a de outras produções da mesma emissora.


Há um trabalho diferente na maioria das cenas, com direção e marcações corretas de atores e câmeras, luz quase perfeita e total acerto na escolha dos atores, embora alguns ainda estejam sem domínio de seus personagens.


Mas houve nesta seleção do elenco a sabedoria de se resgatar muita gente boa que, inexplicavelmente, estava fora do ar.


É pena que o SBT não é mais o mesmo: em outros tempos, ou em outra emissora hoje melhor situada, esse belo trabalho chegaria e permaneceria na casa dos dois dígitos fácilmente.


Uma boa novela, para cair no gosto do público, precisa estar sintonizada com o tempo em que a trama se passa, e aí, não importa que se passe nos dias de hoje ou no século 18, tem de ser capaz de produzir uma sensação – a de que está tratando de temas próximos, de alguma maneira, ao cotidiano do espectador ou, mais simplesmente, presentes no ar.


“Amor e Revolução” conta com esta enorme vantagem, já que poucos momentos parecem tão propícios para uma novela ambientada durante os anos mais duros da ditadura militar

(1964-1985) - por conta da eleição da presidenta Dilma , o tema está novamente no ar – assim como esteve em 1992, quando a Globo exibiu a minissérie “Anos Rebeldes”.


Dilma participou do combate ao regime numa organização clandestina de esquerda - e, por sua atuação, foi presa e torturada barbaramente - e é com indisfarçável orgulho que constatamos que, diferentemente do governo Lula, o novo governo dá sinais de que pretende aprovar a chamada Comissão da Verdade, destinada a esclarecer casos de violação de direitos humanos ocorridos durante o regime militar.


Como “Anos Rebeldes”, a trama de “Amor e Revolução” nada mais é do que uma história de amor ambientada nos anos de chumbo, com a vantagem de que 2011 não é 1992 - Gilberto Braga foi obrigado a reescrever alguns capítulos a mando do poderoso Boni porque “carregou demais” nas tintas políticas.


Hoje, o autor Tiago Santiago parece decidido - sem perder de vista o “Romeu e Julieta” que imaginou - a ir fundo na história política recente do país.


Essa posição ficou explícita no final do primeiro capítulo, encerrado com o emocionado depoimento da ex-presa política Maria Amélia Teles, cujos filhos, então crianças, a viram ser torturada.


Foi o momento mais impressionante do primeiro capítulo, que deixou no ar a dúvida se a novela será capaz, mesmo com todo o vento a seu favor, de seduzir o público.


Por conta de uma direção muito irregular - do veterano Reynaldo Boury -, os atores, em sua maioria, pareciam perdidos em cena e, apesar do investimento anunciado, as cenas de ação, principalmente as de perseguição aos militantes de esquerda, deixaram a desejar.


Numa das primeiras cenas, Lucia Veríssimo mostrou os seios numa cena romântica num banho de rio com seu companheiro, interpretado por Licurgo Spínola.


Depois, as cenas de ação da fuga dos dois foram as melhores, o que não aconteceu na cena de Marcos Breda e Gabriela Alves, correndo sem noção pelos jardins do Museu do Ipiranga, arrematada pela cena do incêndio da UNE - onde os protagonistas Graziela Schmitt e Cláudio Lins se conhecem -, de uma tosquêra exemplar.


O primeiro capítulo de “Amor e Revolução” poderia ter sido melhor, apesar das cenas de tortura das personagens de Breda e Alves, de ver meu amigo Nico Puig como um militar canalha, e da espetacular trilha sonora com sucessos da época.


O segundo e terceiro capítulos já foram melhores, e as tramas, melhor explicadas, mesmo com o pecado de mostrarem o casal protagonista na esquina das paulistaníssimas Avenida São João com Rua São Bento, com direito ao edifício Martinelli - ícone de sampa - ao fundo, mas a placa dourada escrita "BOVESPA" - Bolsa de Valores de São Paulo - enorme, como se os dois estivessem no Rio de Janeiro!

Foi mal, como tem sido as cenas que mostram o vale do Anhangabaú atual - ele tem essa estética desde quando Luiza Erundina foi prefeita dos anos 80, em 1964 era beeeem diferente.


Todos sabemos que um tema ótimo, num bom momento, não é o suficiente para segurar uma novela, mas o bom elenco e a trama armada por Santiago devem fazer com que a novela decole, e sirva para uma reflexão definitiva desse momento importante da história do Brasil.


"AMOR E REVOLUÇÃO"


ONDE: SBT


QUANDO: De segunda a sábado, 22:15h


AUTOR: Tiago Santiago


DIREÇÃO GERAL: Reynaldo Boury


Elenco:


Graziella Schmitt Cláudio Lins Lúcia Veríssimo Licurgo Spínola Reynaldo Gonzaga Nico Puig Jayme Periard Luciana Vendramini Cláudio Cavalcanti


SITE: http://www.sbt.com.br/amorerevolucao


CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos


COTAÇÃO DO KLAU:

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