SINOPSE:
Em um mundo pós-2029, é bastante comum o aperfeiçoamento do corpo humano a partir de inserções tecnológicas.
O ápice desta evolução é a Major Mira Killian (Scarlett Johansson), que teve seu cérebro transplantado para um corpo inteiramente construído pela Hanka Corporation.
Considerada o futuro da empresa, Major logo é inserida no Section 9, um departamento da polícia local.
Lá ela passa a combater o crime, sob o comando de Aramaki (Takeshi Kitano) e tendo Batou (Pilou Asbaek) como parceiro.
Só que, em meio à investigação sobre o assassinato de executivos da Hanka, ela começa a perceber certas falhas em sua programação que a fazem ter vislumbres do passado - quando era inteiramente humana.
CRÍTICA:
Com elementos raramente vistos no cinemão de Hollywood, 'A Vigilante Do Amanhã: Ghost In The Shell', novo filme do diretor Rupert Sanders e em exibição em 548 salas em todo o Brasil, mergulha no universo Cyberpunk, subgênero do sci-fi com foco em implantes robóticos e corporações inescrupulosas, como poucos filmes fizeram antes.
Na trama ambientada num futuro decadente e repleto de humanos ampliados por implantes robóticos, Major (Scarlet Johansson) é uma agente do grupo antiterrorista Seção 9, cujo cérebro humano é mantido num corpo totalmente robótico, a primeira de seu tipo e um protótipo do futuro da humanidade.
Scarlet Johansson é a protagonista Major - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Paramount Pictures do Brasil |
Diante de uma nova ameaça, um hacker capaz de manipular robôs e implantes como nenhum outro, a protagonista entra numa investigação que revelará muito mais do que ela esperava descobrir.
Enquanto o anime procura não ser maniqueísta e apresenta personagens, corporações e governos como entidades complexas, em um mundo onde a tecnologia e a humanidade estão em rota de colisão, o live-action peca ao deixar claro quem são os vilões e heróis da história e transformar algo complexo e profundo em um filme de ação raso.
A primeira metade é incrível, com bom clima noir, investigação sólida e cenas de ação de qualidade - destaque para o momento em que a Major invade a mente de um robô para tentar encontrar seu alvo.
Quando o filme apresenta o tal terrorista, que não chega nem perto da complexidade do Mestre dos Fantoches do anime, o filme começa a desandar, foca em questões sentimentais e desconstrói o bom caminho que seguiu até ali.
Pilou Asbaek como Batou, em cena do longa |
Para quem não conhece o anime/mangá, esses elementos obviamente não vão incomodar por não haver base de comparação, mas essas não são as únicas falhas do longa.
Analisando apenas o novo filme, o terço final perde ritmo, cai em clichês e a falta de profundidade nos conceitos apresentados fica evidente, culpa, em parte, dos vilões rasos e do clímax incompatível com o resto do clima da obra, capaz até de confundir os espectadores menos atentos por não justificar de forma convincente as atitudes e escolhas dos personagens.
Com visual absurdamente lindo, o longa é interessante o suficiente para prender o espectador do começo ao fim, mas deve frustrar os fãs do mangá em que ele é baseado.
Achar o balanço entre o cinema comercial e a profundidade do original era o grande problema da adaptação, que precisaria encontrar o tom certo, manter conceitos que fizeram do anime uma das obras primas do cinema e ainda fazer a produção viável comercialmente e original.
Infelizmente, o diretor é Rupert Sanders, do fraco 'Branca De Neve E O Caçador', que nem de longe não consegue atingir esses objetivos.
Tecnicamente o filme é um espetáculo: muito bem produzido, com efeitos de qualidade e convincentes, visual impactante tanto de cenários quanto de personagens, fotografia inspirada, com belos planos abertos para ajudar na ambientação e closes ou cenas sufocantes em espaços fechados para reforçar o clima de opressão e estranheza.
A trilha sonora techno é ótima e combina bem com a atmosfera cyberpunk, menos na cena de luta final, onde o CGI falha, a trilha sonora fica exagerada e Sanders perde a oportunidade de criar algo icônico capaz de marcar o cinema - como os fãs esperavam.
Sobre a questão do whitewashing - mania de Hollywood transformar personagens de outras etnias em caucasianos - a personagem de Scarlett Johansson, muito criticada por não ser oriental, é o menor dos problemas da obra.
Michael Pitt, em cena como Kuze |
Sua versão ocidental é bem justificada e a atuação e presença cênicas da excelente atriz (para mim a melhor da sua geração) compensam a polêmica.
Infelizmente, outros personagens, como cientistas e executivos da Hanka Robotics e especialmente Michael Pitt como Kuze, incomodam e poderiam aliviar a situação se fossem vividos por atores orientais.
Além disso, algumas atuações deixam a desejar, apesar da presença do ícone do cinema japonês, Takeshi Kitano, como chefe da Seção 9, ser divertida.
A lenda Takeshi Kitano interpreta o chefe da Seção 9 |
Temos aqui um bom filme, que peca por não arriscar mais, independente de ser ou não adaptação de 'Ghost In The Shell'.
Apesar de bons momentos, o sentimentalismo barato e desnecessário acaba atrapalhando a parte final e mata com a essência do que faz a franquia tão marcante mesmo após tantos anos.
Apesar das falhas e dos desapontamentos, o simples fato dessa adaptação existir já é uma prova de coragem da Paramount Pictures, que arriscou e conseguiu entregar um bom filme, que funciona melhor quando não comparado com a obra original.
É o único grande estúdio da atual Hollywood que comete essas ousadias - e só por isso, merece aplausos.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'A VIGILANTE DO AMANHÃ: GHOST IN THE SHELL'
Título Original:
GHOST IN THE SHELL
Gênero:
Ação
Direção:
Rupert Sanders
Roteiro:
Jamie Moss, Jonathan Herman - baseados no mangá 'O Fantasma do Futuro'
Elenco:
Chin Han, Chris Obi, Joseph Naufahu, Juliette Binoche, Michael Pitt, Michael Wincott, Peter Ferdinando, Pilou Asbæk, Rila Fukushima, Scarlett Johansson, Takeshi Kitano
Produção:
Ari Arad, Avi Arad, Steven Paul
Fotografia:
Jess Hall
Montador: Neil Smith
Trilha Sonora:
Clint Mansell
Duração:
106 min.
Ano:
2017
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia:
30/03/2017 (Brasil)
Distribuidora:
Paramount Pictures Brasil
Estúdio:
Dreamworks / Grosvenor Park Productions / Paramount Pictures / Reliance Entertainment / Seaside Entertainment
Classificação:
14 anos
COTAÇÃO DO KLAU: