A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood todo ano promove o principal prêmio de cinema da temporada - o Academy Awards, conhecido pelo seu apelido, 'Oscar' - que a cada ano espelha mais a mais a caretice que Bush Pai e Bush Filho trouxeram à América e que, ao que parece, se amoldou de vez ao dia a dia dos americanos.
Ao menos, as indicações da Academia neste 2015 consagraram dois dos longas que estavam entre os favoritos nas bolsas de apostas: 'O Grande Hotel Budapeste' e 'Birdman Ou A Inesperada Virtude Da Ignorância'.
As duas comédias surpreendentemente receberam nove nomeações cada.
Wes Anderson, diretor de 'O Grande Hotel Budapeste' |
No primeiro, o diretor Wes Anderson fez seu longa mais completo, sendo meticuloso em cada detalhe da produção que custou mais de sua imaginação do que de seu bolso.
Já no segundo, Alejandro Gonzáles Iñarritu escreveu uma comédia de humor negro magistral, que, se dialoga com toda a indústria cinematográfica americana, também escancara os altos e baixos das carreiras consagradas.
Alejandro Gonzáles Iñarritu, diretor de 'Birdman' |
Pena que o sopro de renovação parou aí, mesmo porquê o restante das indicações também escancara a caretice da Academia.
Em artigo publicado em 2012, o jornal Los Angeles Times revelou que 94% dos votantes no Oscar são brancos, 77% são homens e apenas 14% possuem menos de 50 anos.
Esses números talvez ajudem a explicar porque em pleno 2015 não temos nenhum ator ou atriz negros concorrendo ao Oscar, mesma situação sobre a dificuldade da Academia de reconhecer os méritos de filmes estrelados por mulheres.
Basta ver a lista divulgada hoje de manhã: dos 8 indicados na categoria principal, todos são estrelados por personagens masculinos.
Assim, 'Livre', onde o diretor de 'Clube de Compras Dallas', Jean Marc Valleé extraiu a melhor performance da carreira de Reese Witherspoon, ficou de fora.
Reese Witherspoon em cena de 'Livre' |
Quanto aos negros: 'Selma', um retrato político importante para a crise racial vivida pelos americanos, e que, além de contar a trajetória de Martin Luther King Jr, é produzido pela negra americana mais importante da atualidade - Oprah Winfrey - e também por um dos atores mais engajados de Hollywood - Brad Pitt - teve de se contentar com apenas duas indicações.
Pior: a Academia perdeu a oportunidade de ouro de novamente fazer história, deixando de indicar Ava DuVernay, também de 'Selma', na categoria de direção.
Seria a primeira vez que uma afro-americana concorreria na categoria.
Ava DuVernay, diretora de 'Selma' |
Pior 2: David Oyelowo, protagonista que interpreta magistralmente Luther King, também viu seu trabalho ser menosprezado, em detrimento de nomes famosos e em papéis menos festejados - como Bradley Cooper, branco e indicado na categoria de Melhor Ator pela terceira vez seguida.
David Oyelowo, protagonista de 'Selma' |
Quanto às mulheres, é raro vermos o trabalho de diretoras e roteiristas aparecerem entre os finalistas da premiação.
Kathryn Bigelow quebrou barreiras em 2010 e se tornou a primeira mulher vencedora na categoria de direção em 87 anos de premiação, mas ainda a mídia e seus pares sempre fazem questão de nomeá-la como "a ex-mulher do consagrado diretor James Cameron".
O censo dos votantes feito pelo LA Times escancara também porque filmes voltados para um público mais jovem costumam ficar ausentes das principais categorias: como o colégio eleitoral é composto por velhos e velhas, deixaram, por exemplo uma obra prima, 'Interestelar', com apenas cinco indicações técnicas e, assim, o magistral trabalho de direção de Christopher Nolan e outra interpretação marcante de Mattew McConaughey ficaram de fora.
Christopher Nolan instrui Mattew McConaughey numa tomada de 'Interestelar' |
Ao apostar em filmes que tenham uma certa 'margem de segurança', sobretudo as cinebiografias, a Academia, mesmo que indiretamente, influencia a produção do cinema em todo o mundo.
As não indicações de 'Garota Exemplar', 'O Ano Mais Violento' e também ao ótimo e brutal 'Foxcatcher - Uma História Que Chocou O Mundo' mostram que o espaço para trabalhos mais ousados e inovadores está cada vez menor em solo americano.
Deve ser por isso que grandes estrelas - como Jessica Lange e Kevin Spacey, por exemplo - tem partido cada vez mais para séries, principalmente aquelas produzidas e exibidas em serviços on demand - como Netflix e Amazon, que aliás, acaba de contratar Woody Allen para escrever, produzir e dirigir uma série.
Jessica Lange: estrela de cinema e agora das séries, com 'American Horror Story' |
Assim, se a cinematografia americana é coloridíssima, a Academia continua insistindo no preto & branco.
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