SINOPSE:
No passado, Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, super-herói que se tornou um ícone cultural.
Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem, sua carreira começou a decair.
Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway.
Entretanto, em meio aos ensaios - com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough) - Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e também com uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente.
CRÍTICA:
Vivemos todos em função de aparências, onde a vida real não passa de uma verdadeira representação teatral, vazia de realidade material.
É assim, refugiado nesse cenário 'fake', que o mexicano Alejandro González Iñárritu narra a jornada de um ator de Hollywood assombrado pelo prestígio do passado e faz de 'Birdman - ou a Inesperada Virtude da Ignorância', que estreia hoje em 65 salas em todo o Brasil, o melhor longa da sua já inspirada carreira.
A trama acompanha Riggan Thomson (Michael Keaton, sensacional), ator mediano que se tornou um dos astros mais importante da geração dos anos 90 após interpretar o super herói Birdman - o Homem-Pássaro.
Famoso, ídolo cult de uma geração, mas preso ao personagem - como George Reeves com o Superman e Adam West com o Batman, nas respectivas séries de TV - Riggan se recusa a protagonizar novamente um quarto longa do herói, o que o leva a enfrentar o pesadelo mais temido por um artista: o esquecimento.
Michael Keaton, em cena como o protagonista Riggan Thomson - Fotos dessa postagem: Divulgação/20th Century Fox |
Obstinado em recuperar sua fama, ele decide investir tudo em uma adaptação teatral da Broadway - mas o ostracismo não é o único fantasma que o rodeia.
Thomson tem que lidar com o fracasso de seu casamento, com a filha rebelde Sam, cheia de crises existenciais e que também é sua ajudante (Emma Stone), e a petulância de um jovem ator, Mike Shiner (Edward Norton).
Para piorar, ele suporta, não sem sofrimento, uma insistente voz oculta, fruto de sua mente - que mais tarde revela-se ser do Birdman.
Emma Stone como Sam, em cena do longa |
A escalação de Keaton para ser o protagonista mostrou o primeiro grande acerto de Iñárritu, pois é simplesmente impossível não associar a trajetória de Riggan com a do próprio Keaton.
Após interpretar o Homem-Morcego em dois longas dirigidos por Tim Burton - 'Batman' (1989) e 'Batman Returns' (1992) - Keaton se recusou a estrelar um terceiro - 'Batman Forever' (1995).
Estrelado por Val Kilmer, o longa, dirigido por Joel Schumacher, marcou o começo da descida ao inferno do personagem nos cinemas, até o resgate feito por Christopher Nolan e seu 'Batman Begins' (2005).
Se a recusa em protagonizar o terceiro 'Batman' revelou-se um acerto - o filme é muito ruim - Michael Keaton, porém, foi aos poucos desaparecendo dos holofotes e passou a se contentar com papéis coadjuvantes em filmes, muitas vezes, infanto-juvenis.
Sua carreira só voltou a dar sinais de vitalidade na recente refilmagem de 'Robocop' (2014), onde fez um ótimo vilão sob a direção do brasileiro José Padilha e provou que sim, é um bom ator aos olhos não só da nova geração, mas, principalmente, aos que já tinham se esquecido dele.
Talvez seja por isso que Keaton pareça tão confortável em sua interpretação como Riggan: há algo na forma como ele transpõe os medos e anseios de seu personagem que fazem o espectador, maravilhado com o que vê na telona, realmente crer que aquilo não é apenas derivado de uma boa atuação.
Aliás, todo o elenco está bem.
É impressionante ver, por exemplo, que mesmo com um papel pequeno, Naomi Watts consegue crescer dentro das possibilidades que são oferecidas a sua personagem, Lesley.
Naomi Watts, em cena como Lesley |
Já Edward Norton mostra-se igualmente brilhante como o astro cheio de estrelismos Mike Shiner, capaz de elevar um personagem clichê a outro patamar, principalmente em suas oscilações de humor: seus diálogos com a jovem Sam, papel de Emma Stone, também são dotados de uma profundidade e destreza de encher os olhos.
Edward Norton, em cena como Mike Shiner: atuação brilhante |
Iñárritu já acumula significativa experiência em Hollywood ('Babel', '21 Gramas') e justamente por isso nem piscou em alfinetar grandes estrelas em seu roteiro, cuja crítica recaí sobre o caráter efêmero da indústria do entretenimento e sua manutenção das aparências - o mito inalcançável do mundo dos "ricos e famosos", seja por apresentar um conteúdo de qualidade ou pelo envolvimento em grandes escândalos.
O diretor também faz questão de reafirmar a contribuição da era digital para essa derrocada moral quando, em uma das cenas, pessoas perseguem Riggan Thomson com suas câmeras de celular enquanto ele corre seminu pelas ruas de Nova York - o vídeo vai parar no Youtube e, evidentemente, faz tremendo sucesso.
Para caracterizar ainda mais seu teatro da vida real, o cineasta trabalha diversas cenas em plano sequência, com cortes sutis que só são percebidos pelas mudanças de cenário, com a câmera voyeur sempre perseguindo os atores ou a ziguezaguear pelos estreitos corredores do velho St. James Theater, no coração da Broadway.
Alejandro González Iñárritu, ao lado do fotógrafo Emmanuel Lubezki, dirige Michael Keaton em uma cena
Como consequência, o público sente-se como espectador de uma peça, como se cada ato do filme estivesse ocorrendo ao vivo, diante de seus olhos, sempre extasiados com o que veem.
A trilha sonora - do também mexicano Antonio Sánchez - também impressiona pela simplicidade, pois é composta apenas por solos de bateria - com raras exceções – que reforçam o tom das cenas, alternando sua intensidade nos momentos necessários.
Já a bela fotografia, do premiado Emmanuel Lubezki - também mexicano e ganhador do Oscar por seu trabalho em 'Gravidade' - pode repetir o feito esse ano.
Pena que o público americano não viu como poderia ou deveria esse esplêndido longa, que teve por lá uma bilheteria sofrível em relação aos seus concorrentes no Oscar.
Pena, porquê o longa é uma obra autêntica e intensa, com tiradas metalinguísticas responsáveis por causar incômodo e, consequentemente, reflexões sobre os padrões culturais da atualidade, principalmente no que se refere ao mundo dos blockbusters de ação e adaptações de super-heróis.
O espectador logo percebe que a voz na mente de Riggan Thomson é a do seu personagem Birdman |
Suas citações memoráveis com certeza devem figurar pelo submundo "cult" - como ocorreu com 'Clube Da Luta' e 'Scarface', entre outros.
Não há dúvidas de que o longa veio para consolidar a posição de Iñárritu como um dos melhores diretores de sua geração e muito além da volta por cima magistral de Michael Keaton, 'Birdman' será responsável por voltar os olhos à muitas vezes egoísta Hollywood para o trabalho feito por seus vizinhos latinos.
Filmaço que já vem amealhando prêmios e que concorre aos seguintes Oscar:
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'BIRDMAN - OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA'
Título Original:
BIRDMAN
Gênero:
Drama
Direção:
Alejandro González Iñárritu
Roteiro:
Alejandro González Iñárritu, Alexander Dinelaris, Armando Bo, Nicolás Giacobone
Elenco:
Akira Ito, Amy Ryan, Andrea Riseborough, Brent Bateman, Clark Middleton, Damian Young, David Fierro, Donna Lynne Champlin, Edward Norton, Emma Stone, Hudson Flynn., Jamahl Garrison-Lowe, Jeremy Shamos, Joel Marsh Garland, Katherine O'Sullivan, Keenan Shimizu, Kenny Chin, Lindsay Duncan, Merritt Wever, Michael Keaton, Michael Siberry, Naomi Watts, Natalie Gold, Paula Pell, Warren Kelly, William Youmans, Zach Galifianakis
Produção:
Alejandro González Iñárritu, Arnon Milchan, James W. Skotchdopole, John Lesher
Fotografia:
Emmanuel Lubezki
Montador:
Douglas Crise, Stephen Mirrione
Trilha Sonora:
Antonio Sánchez
Duração:
119 min.
Ano:
2014
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
29/01/2015
Distribuidora:
Fox Film do Brasil
Estúdio:
Fox Searchlight Pictures / Regency Enterprises / Worldview Entertainment
Classificação:
16 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
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